Cumpre-nos chamar a atenção do
caro e estimado leitor que por estas linhas não serão traçados caminhos que se
sustentam em convicções. Ou seja, não são propostas para levantar balões em temas
que embasam certezas em cada um, tais como carnaval, religião, política,
futebol. Ainda que possa alguma interpretação avançar ou se apropriar deste ou
daquele “certificado”.
No lapso temporal de 10 anos
temos que os últimos quatro definiram – ou estão a definir – uma nova
conformação para o país, para sua gente. Como reflexo mundial, mas aqui com
sinais muito específicos. O principal deles o de que inexiste – desde tempos
pretéritos – uma proposta de país que envolva todos os espectros que o
constituem. Assim, mais e mais estamos a confirmar a visão de Jessé Souza de
que a “elite” de que dispomos voltada está para o atraso. Que o diga a ‘conveniente’
extinção da escravatura formal e o seu imediato.
Desde muito perdemos – o que
parece definitivo – a capacidade de reconhecer o diálogo, a conversa, a troca
de ideias como instrumento natural à civilização. De reconhecer as diferenças e
os diferentes como peças de um mesmo tabuleiro.
Não vivemos o fato, mas a
narrativa. E no destinatário final (o leitor, o cidadão, o ouvinte, o
telespectador) prevalece o que lhe chega e como chega: narrativa.
Inelutável que no imediato do
processo eleitoral de 2022 o país vivenciou duas situações que hoje mais
esclarecidas estão: a) um avanço de setores conservadores na composição do
Congresso; b) um golpe de Estado posto em andamento.
O avanço do conservadorismo no
Congresso não se pautou no convencimento do eleitor a reconhece-lo como sua
“representação” (basta ver algumas figuras que lá estão!). Sabe-se que parcela
considerável se alimentou de um escândalo chamado “emendas” (em suas diferentes
espécies) que municiou redutos eleitorais asseguradores de eleição deste ou
daquele ‘aliado’ do cacique. Simplesmente dinheiro público desviado
escancaradamente para favorecer grotões alimentando a secular compra de votos
com um volume de recursos jamais visto. Um outro, de um messianismo à brasileira,
o único que vê o sionismo israelense como manifestação de Jesus Cristo!
Do golpe de Estado nada mais há a
ser dito: provado e comprovado; com responsabilidades definidas. Até mesmo
confessado explicitamente.
O que estranha este escriba de
província não é o que aconteceu de então, mas o que não aconteceu desde então.
No primeiro caso, o ensaio de enfrentamento pelo Poder Judiciário de buscar a
“transparência” que deve ser exigida de dinheiro do povo já começa a ser levado
em banho-maria, cozendo o galo em fogo lento até que a “narrativa” possa
transformar o fato em mentira; no segundo, lá se vão três anos do golpe e ainda discutido pela "narrativa" como se houvesse dúvida em torno de sua elaboração e início de
execução.
Nenhuma dúvida de que o andar da
carruagem demonstra o quão frágeis são os caminhos de que dispomos. Tais caminhos
têm uma tradução em Política: instituições. Ou seja, a construção histórica da
civilização para alcançar e manter o que alcançou.
Mas, não duvide e estimado
leitor: não mais são as instituições que orientam a sociedade, mas a narrativa
que lhe é oferecida/imposta por quem a controla (a narrativa).
O mundo – o Brasil em particular
– está lançando às calendas as conquistas civilizatórias que desaguaram no
edifício das instituições simplesmente levando-as à covardia. Ao ponto de nem
mesmo mais se reconhecerem que existem como pilares da sociedade.
Diante de instituições
acovardadas talvez não haja o que esperar de tão estranhos tempos.