domingo, 28 de março de 2021

Lula: a bola da vez nas arrumações do pebolim chamado STF

 

Atribui-se a Mark Twain uma afirmação, que soa axiomática: “Nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota”. Ainda que habilidades intelectuais aliadas a uma memória extraordinária não inibam a possibilidade concreta de pouco compreender o que está sendo descrito marque a dimensão de um idiot savant a convicção que norteia um delirante (ler) situa-se em plenitude na afirmação daquele estadunidense que se utilizou do sarcasmo e do humorismo para dizer verdades.

Mantemos por dever de ofício o penoso hábito de acompanhar (apenas o suficiente) noticiários em TV aberta (Globo somente em último caso, mesmo que a conveniência que oriente a platinada esteja de algum modo próximo ao que gostaríamos que fosse) e mesmo o oriundo da imprensa comprometida com a classe dominante.

Por tão inconveniente(!) costume é que nos debruçamos sempre no contraponto a tudo veiculado. Inclusive partindo de nossa indagação clássica: interessa a quê ou a quem?

Nesse viés nos vem o deslumbramento com que amantes da democracia e da justiça andam encantados com falas e lágrimas (de crocodilo) do ministro Gilmar Mendes, o mito da vez.

Sabemos não estar só quando criticamos euforias político-partidário-eleitorais levadas a público soando como redenção consumada a candidatura de Lula. O dito por Celso Amorim (“decisão histórica”), por exemplo — ainda que não materializada em resultados — bem demonstra a quantas anda a euforia. E abre espaço para que o cidadão comum reconheça (com base no apoio da esquerda eufórica) qualquer decisão absurda que venha a ser renovada pelos mesmos que inviabilizaram a candidatura de Lula (e as aberrações jurídico-processuais cometidas contra ele), que ora abrem espaço para ele mas deixando claro que têm o ‘poder e a força’ para inviabilizá-lo.


Em Pedro Serrano, à 247, a lucidez (da qual partilhamos em textos neste espaço não de agora) diz com todas as letras, sem pedir licença:


“Hoje, o Supremo representa o palco de uma luta entre o Estado de exceção e o Estado Democrático de Direito. É como um xadrez, e a cada hora tem um movimento que altera o tabuleiro.

O Fachin tem duas metas. A primeira, que é sua meta olímpica, é evitar a candidatura de Lula novamente, em 2022. A segunda finalidade dele, caso não consiga a primeira, é pelo menos salvar a narrativa da Lava Jato. Ou seja, não haver o reconhecimento do sistema de justiça de que o que houve com o ex-presidente foi uma fraude, e não um processo penal.

O discurso do juiz incompetente produz, para a direita, a possibilidade de ainda alcunhar Lula de corrupto. E a figura do corrupto é fundamental para desumanizá-lo. (grifamos).

Porque, na hora que Lula for “humanizado”, ele passa a ser identificado como um dos melhores governos que o país produziu, queira ou não.”

Trazemos registro nosso (“Confissões nada agostinianas...”) que coincide com o raciocínio de Pedro Serrano no capítulo desumanização:


Quarto impacto: abre-se a frente sucessória e as portas de combate a Lula. Parcela substancial da imprensa já começou a fazê-lo aproveitando-se da decisão para discuti-la sob o prisma de ‘favorecimento’ a Lula e manter  em fogo de brando a forte  no imaginário da  população a ideia de que Lula é ladrão e voltará a roubar se retornar ao poder. Isso porque, sob esse viés, afasta-se o escândalo dos processos (criminosamente viciados) que levaram a condenação de Lula, evita-se a punição dos criminosos e Lula, escapando por ‘artimanhas’ do sistema capitaneado pelo STF, não deixa de ser o criminoso que muitos acham ou aprenderam a achar. O clamor se aprofundará no pentecostalismo católico e evangélico diante do Apocalipse exibindo a Besta Fera.

Temos abordado o que representa o STF ainda que na atual composição no contexto político-partidário. Estranhará o leitor desavisado que uma corte que dirime conflitos (inclusive eleitorais) exercite função inteiramente alheia ao seu mister.

Mas, caro e paciente leitor, tudo a cada dia mais claro, mais escancarado. O voto do ministro indicado pelo inquilino do Alvorada no habeas corpus que interessava a Lula (e, naturalmente, ao inquilino que o indicou) demonstra à sorrelfa o que está ali fazendo.

Muito brevemente mais uma indicação que pode ser uma ‘terrivelmente evangélica’ (não por ser evangélica, mas em razão de quem a indicará) levará à desmoralização absoluta de uma casa que já abrigou figuras exemplares: Moreira Alves, Sepúlveda Pertence, Paulo Brossard, mais recentemente; Carlos Maximiliano, Eduardo Espínola, Evandro Lins e Silva, Nelson Hungria, Victor Nunes Leal, Aliomar Baleeiro mais remotamente.

Não dizem por aí que as eleições e seus resultados dirigidos estão nas mãos do STF. Não se iluda o caro e paciente leitor que confia neste escriba de província.

A propósito do que ‘não dizem por aí’ está Marcos Coimbra indagando por que o inquilino não se esborracha (veiculado no 247). Análise preciosa a sua. Mas deixou de abordar em torno da parcela que mata e morre por ele, que se embute, parte dela, naqueles 22% que o tem como bom e ótimo no enfrentamento da pandemia: o peso da alienação evangélica plantada no pentecostalismo católico e protestante que o tem como messias.

Arrumação à vista. Nenhuma dúvida há para este cronista de província: a arrumação está em andamento. Lula no centro das atenções, bola da vez no pebolim chamado STF. Caso se comprometa a respeitar os contratos (entrega do patrimônio pátrio até aqui ocorrida) encontrará apoio dos que muito ganharam com o golpe e a eleição do inquilino do Alvorada. Caso contrário e se negue a tal desiderato continuará comendo o pão que o Diabo amassou da imprensa enquanto a classe dominante sangrará o inquilino para garantir uma peça do sistema. Qualquer uma que respeite e mantenha os contratos.

O STF no comando político-partidário-eleitoral. Legitimou as arbitrariedades da lava jato, admitiu por oportunismo a prisão em 2ª instância, se omitiu diante do golpe contra Dilma, legitimou a prisão de Lula e o afastou do processo eleitoral. Agora tenta oportunizar Lula mas (recado dado) também pode inviabilizá-lo.

As cartas estão na mesa: STF de Fux pauta julgamento para primeira quinzena de abril vindouro para avaliação pelo Pleno da decisão que beneficiou Lula (disse na Bandnews o ministro Marco Aurélio que o plenário a reverteria sob placar de 6x5); Datafolha e os Frias manipulando pesquisa para manter no imaginário Lula como condenado por corrupção em processo justo por Moro/lava jato (a desumanização de que fala Serrano); mudança de voto de Fachin e Pleno do STF para embolar o meio de campo etc. etc.

Não esqueçamos Mark Twain, para evitar que alguma quantidade de evidência eufórica possa nos tornar um idiota/inocente útil.

Não esqueçamos no que se tornou o STF. Não esqueçamos que o mercado (que levou os dedos do governo Lula para que este não perdesse os anéis) afastou as políticas petistas quando lhe foi interessante e se hoje já o admite nada faz que não possa corresponder aos seus interesses. 

Não esqueçamos que o jogo é bruto. 

Euforias podem ter utilidade imediata, inclusive de ópio diante da realidade.

Dizemos isso porque não vemos no seio da sociedade a consciência do reconhecimento da importância das políticas de Estado postas em prática pelos governos petistas. E aí estão em meio a ela 22% achando BOM e ÓTIMO o comando de ações do inquilino do Alvorada no tratamento da pandemia que já levou mais de 300 mil brasileiros e pode elevar este número a assustadores 500 mil em menos de 60 dias, caso mantida a média diária (já alcançada em alguns instantes) superior a 3 mil mortes por Covid-19.

Perdidos em mar revolto caminhamos para tudo aceitar. Inclusive Lula submetido ao sistema. 

Ainda que seja ele o único capaz (como o fez quando governou) de perder os dedos para não perder os anéis. Os milagrosos anéis das políticas de governo petistas voltadas para os menos favorecidos.

Se o sistema o permitir, recomporá a credibilidade e o respeito do país.

Até outro golpe. 

“Com Supremo, com tudo”! Este STF pebolim com camisa político-partidária, manipulado por imprensa, mercado (indústria, agronegócio e sistema financeiro) e egos delirantes que tem por bola da vez um nordestino que incomoda a todos.


domingo, 21 de março de 2021

O delírio e o ‘vade retro Satana’

 

Em pesquisa mais recente 79% opinam que a pandemia está fora de controle (leia), como apurado pelo Datafolha. Na anterior, que avaliou a administração presidencial em torno da crise sanitária por que passamos, 54% a rejeitam.

Mas respire fundo reconhecendo a gestão da crise como boa ou ótima lá estão 22% dos entrevistados.

Eis-nos diante de um fato concreto: aproximando-se de 300 mil mortos por Covid-19 e prestes a ultrapassar as 3 mil diárias (2.798 na terça 16, 2.815, na sexta 19 e média móvel 2.173 nos últimos sete dias), na iminência de um colapso apocalíptico no sistema de saúde público e privado, vacina insuficiente para reduzir o número de casos a médio prazo, há no seio da sociedade 22% que dizem ser ótima ou boa a gestão do inquilino do Alvorada no combate à pandemia.

Há quem aplauda uma política genocida (ops!) que a Fundação Oswaldo Cruz (leia) registra como o maior colapso sanitário e hospitalar da história do país.

Caso afastemos a pandemia (que pode ser interpretada como perseguição de comunistas e esquerdopatas contra o anjo da salvação pátria) busquemos razões da atuação governamental para justificar tal patamar de ‘confiança’, ou seja, considerando o que está fazendo de positivo também o fará no quesito pandemia dentro daquela arrumação amparada em “nova” ou “mais uma” chance.

Então um leve passeio por dados outros que instrumentalizam a ação governamental no âmbito da economia e da moralidade pública cá estamos com percentual superior a 14% de desempregados, gasolina superando 6 reais, botijão se aproximando de 100, o pais despencando da 6ª para a 12ª economia, alimentos até mesmo ultrapassando 100% de aumento no período em que administra(?) o inquilino do Alvorada, fábricas fechando as portas, indústria de base estagnada, internacionalmente nos tornamos o epicentro da pandemia (apenas seis países apresentam restrições leves para ingresso de brasileiros em seus territórios: Albânia, Afeganistão, Costa Rica, Eslováquia, Macedônia do Norte, Nauru, República Centro Africana e Tonga), cocaína em avião presidencial, rachadinhas no ambiente familiar etc. etc.

Fracassado no exterior, no front interno do combate à pandemia prepara o inquilino do Alvorada uma ação junto ao STF contra prefeitos e Governadores que impuseram medidas restritivas para controlar o alastramento do contágio (veiculado no 247).

Não, caro e paciente leitor, não há mais grupo(s) de risco, mas toda uma nação em risco. E como não bastasse, em meio a tanto de trágico, quando colapsa o sistema de saúde no quesito oferta de leitos em UTI (em São Paulo já houve óbito na fila de espera por UTI), denúncia vazada deixa-nos estarrecido: as Forças Armadas serão investigadas pelo TCU por não ofertar leitos em seus hospitais para combater a pandemia (leia). Essas gloriosas forças armadas convocadas por aqueles 22% para ‘gerir’ a nação, que somente olham para o próprio umbigo.

Estudos remetem à formação da sociedade brasileira, desenvolvida sob a égide de uma cultura de exploração como conduto maior. Exploradas as terras e suas riquezas, explorados como mão de obra escravizada o índio e o negro. Tudo a serviço daquilo que Cláudio Lembo denomina de “elite branca” e Jessé Souza de “elite do atraso”.

De priscas eras o patrimonialismo como lema, coordenado e controlado por uma diminuta parcela da sociedade que se arvora de detentora dos destinos pátrios. Para tanto, o Estado não para servir ao povo, mas para servi-lo na bandeja como tira-gosto na mesa dos opulentos.

Quando as (in)conveniências o exigiram a classe dominante (eterna aliada ao Clero e à Monarquia) que se beneficiara nos períodos de Colônia e de Império viu-se convertida ao republicanismo. Engrossando as fileiras republicanas (recém saída da Guerra do Paraguai) uma nova etapa de dominante surge: o militarismo. Parte dela augurando a implantação da república controlada e administrada por ela.

Mas, o que move este articulista de província a enveredar por tema que já alcança a seara da banalidade para tantos?

Durante muito tempo temos desenvolvido o raciocínio de atribuir às classes dominantes a responsabilidade primordial por tudo que acontece ao país. Ou seja, sob o prisma da responsabilidade governante por ela levada ao poder (com raríssimas exceções) as políticas de Estado geridas por diferentes de seus governos estiveram a alimentar as burras de sua gente. Assim, a responsabilidade da sociedade em assegurar tal distorção ficava à conta do controle exercido por aquela sobre o processo eleitoral (mídia, legislação etc.) e ao discurso demagógico de que se vale.

Mas eis-nos estupefato diante de uma outra vertente que integra a construção deste país, que não imaginávamos em dimensão tal. Não somente o eleitor manipulado, mas uma parcela substancial da sociedade que escolhe o representante que sonha para efetivar seus sonhos reprimidos. Esta turma que exalta um (des)governo caminhando célere para um desastre, com risco concreto de tornar-se um cadáver insepulto vagando nas sombras por apoios a um golpe.

Na atualidade, ultrapassados dois anos de mandarinato do inquilino do Alvorada, há muito esvaiu-se no ralo qualquer resquício de engano a que foi levado o eleitor. Entretanto aí está parcela considerável embevecida/enraivecida e crente/fanática de que tudo está sendo feito a contento porque quem o promove é um messias.

Não temos como negar que descobrimos o óbvio ululante, que não acreditávamos, explicável facilmente pela Ciência, aquela a que negam valia. São eles expressão cristalina de que se encontra essa gente em estágio de plenitude delirante.

E trazemos ao caro e estimado leitor a compreensão do que seja, sob anamnese (ainda que platônica), naturalmente menos filosófica e mais médico-psiquiátrica, dita patologia:

 

delírio, também conhecido como transtorno delirante, é a alteração do conteúdo do pensamento, em que não existe alucinações nem alterações da linguagem, mas em que a pessoa acredita fortemente numa ideia irreal, mesmo quando já foi comprovado que não é verdade. Mune-se o portador de crenças exageradas e para ele irrefutáveis. Tem certeza de algo mesmo que nenhuma evidência real se faça presente.

No âmbito da Psicopatologia é a convicção errônea mantida por uma pessoa, baseada em falsas conclusões tiradas dos dados da realidade exterior, e que não se altera mesmo diante de provas ou raciocínios em contrário.

 Está explicado!

Considerando a irredutibilidade em torno do pensamento conformado cabe-nos — à guisa de contribuição para com a saúde pública e mesmo para a segurança individual — recomendar ao caro e paciente leitor NUNCA abrir prosa que vise convencer um delirante.

Cristãmente rezar enquanto dele se distancie!

Caso não saiba exorcizar!

Para quem assim decidir recomenda-se o necessário retorno aos séculos XIV e início do XV (para ajustar as Eras), apoiado em São Bento e, munido de um crucifixo, proclamar o “vade retro satana”

 

Crux sacra sit mihi lux                       A cruz sagrada seja a minha luz
Non draco sit mihi dux                        não seja o dragão o meu guia

 

Vade retro satana                               Retira-te satanás
Numquam suade mihi vana                Nunca me aconselhes coisas vãs

 

Sunt mala quae libas                          É mau o que me ofereces
Ipse venena bibas                              Bebe tu mesmo o teu veneno

domingo, 14 de março de 2021

Confissões nada agostinianas. Dentre elas, confirmado: “Fachin é nosso!”

 

Agostinho de Hypona (354-430 d.C.) legou à humanidade sua autobiografia de jovem, reconhecida na contemporaneidade menos como “confissões” e mais como um hino de louvor ao Creador. Ah! se o Agostinho adolescente houvesse criticado menos o orgulho e a luxúria e mais a vaidade talvez lecionasse para os pósteros desta singularidade chamada Brasil!

Porque por aqui os fatos são inconfessáveis, destituídos de reflexão, amparados apenas na luta insana e insaciável de poder, inclusive midiático.

Nesta terra brasilis do “eu acho” todos se tornam cientistas, antropólogos, filósofos, sociólogos etc.

Em meio à balbúrdia uma parcela esquece de sua função precípua e assume alheios motes, como o caso de julgadores pátrios em todos os níveis. Ei-lo, o STF, no centro do furacão com suas decisões e omissões ­ que não mais se satisfaz em atender e legitimar o mercado (detentor do controle sobre a representação que legisla em defesa do pacta sunt servanda) , que deu de enveredar por politicar sem utilizar do meio natural, a eleição.

A semana teve início com a bombástica informação de que o ministro Edson Fachin declarara a nulidade das ações que envolviam o ex-presidente Lula oriundas de Curitiba (leia-se Moro et caterva, TRF-4 e STJ no desdobro).

Na terrinha em que o imediato soa mais profundo que a perenidade, onde perdida a capacidade de dialetizar em torno dos fatos, lançamos às calendas a lucidez mais elementar de indagar em torno da razão por que a fúria das paixões tudo transforma em Maracanã continental. No glorioso instante as torcidas se esqueceram da pandemia e passaram a engalfinhar-se.

O primeiro impacto levado ao debate: a decisão pode levar à prescrição dos crimes de que acusado Lula. Leitura elementar claramente desdobrada: o ex-presidente não prova sua inocência, mantém-se sob risco do lawfare e teria ‘escapado’ das duras penas da lei graças ao ‘arranjo’ do STF. Mas continua ladrão e safado dirão os adversários de sempre; candidato a derrotar o inquilino do Alvorada os que o reconhecem liderança maior da história recente do país. Simplesmente torcida contra e a favor sem que o cerne da questão tenha se esclarecido, tampouco o nó górdio desatado, ainda à espera de um Alexandre (que não é o que resulta da possibilidade eletiva de Lula): por que tudo aconteceu?

Segundo impacto não levado ao debate na dimensão concreta: livrar a cara de Moro e quejandos afastando da discussão a sua causa: a condenação absurda destituída de prova lícita e emprenhada de falcatruas judiciais que motiva 10 habeas corpus e 4 Reclamações Constitucionais à espera de julgamento pelo STF. Este viés, concretamente embutido na decisão de Facchin, foi atropelado por Gilmar Mendes, que suspendeu o álibi e resolveu não ilustrar seu voto com novas denúncias contra a lava jato e levou à votação a suspeição de Moro.

Terceiro impacto: no primeiro instante, enquanto milhares morrem atingidos pelo Covid-19, tira-se do noticiário o inquilino do Alvorada desastroso, coveiro mor, e aprofunda-se a agenda entreguista. Em segundo instante, o assustador número de mortos diariamente em crescendo e a aprovação de uma PEC ‘arrasa quarteirão’ sobre direitos e voltada a aparar arestas para riquezas a serem entregues, arrebentando com o servidor, tudo sob o rótulo de que nela autorizado o auxílio emergencial.

Quarto impacto: abre-se a frente sucessória e as portas de combate a Lula. Parcela substancial da imprensa já começou a fazê-lo aproveitando-se da decisão para discuti-la sob o prisma de ‘favorecimento’ a Lula e manter em fogo de brando a forte no imaginário da  população a ideia de que Lula é ladrão e voltará a roubar se retornar ao poder. Isso porque, sob esse viés, afasta-se o escândalo dos processos (criminosamente viciados) que levaram a condenação de Lula, evita-se a punição dos criminosos e Lula, escapando por ‘artimanhas’ do sistema capitaneado pelo STF, não deixa de ser o criminoso que muitos acham ou aprenderam a achar. O clamor se aprofundará no pentecostalismo católico e evangélico diante do Apocalipse exibindo a Besta Fera.

E quem por trás de tudo? Aquela turma que faz política ao gosto pessoal: o STF.

Gilmar Mendes retardava o voto que reconheceria a óbvia suspeição de Moro; Fachin precipitou o óbvio.

Confissões nada agostinianas escancaram-se: o que Fachin fez agora deveria tê-lo feito com os pares há cinco anos. Não esqueçamos do gáudio pretoriano de Dalagnol e quejandos: “Fachin é nosso!”

Qualquer iniciado em processo penal sabe de um elemento norteador para a fixação de competências para julgamento: o local onde ocorreu o ilícito. O que Fachin reconheceu sabia-o desde que estudou introdução ao processo esquentando os cueiros nos bancos da faculdade. Guarulhos e Atibaia ficam em São Paulo e não no Paraná, como o impunha o ‘eu acho’ curitibano. Assim, Fachin acertou no atacado (agora) e errou no varejo (oportunidade perdida anteriormente).

No entanto — o que soa deliberado — com seu ato Fachin procura enterrar o julgamento da suspeição de Moro dentro de um silogismo elementar: Moro sentenciou Lula; não poderia fazê-lo porque incompetente; logo a sentença não existe tampouco quem a proferiu e todos os seus atos por consequência não podem ser apreciados. Simplesmente Fachin absolveu Moro ao tornar prejudicados os objetos dos habeas corpus e reclamações constitucionais impetradas, dentre elas o que pede a suspeição de Moro.

Supimpa! Evidente e efetivamente “Fachin é nosso!”.

Na rede de intrigas montada a partir de Curitiba o STF correspondia aos absurdos legitimando-os com a omissão, quando não o fazia por ação direta, como ocorreu no instante em que admitiu a inconstitucional prisão por decisão em Segunda Entrância, inclusive assistindo de camarote a uma indecorosa condução coercitiva de Lula sem que tivesse se negado a cumprir um mandado intimatório (que nunca houve). O mesmo STF que impediu Lula de tornar-se Ministro (Gilmar Mendes confessou a chicana durante o voto na sessão da suspeição, como exemplo de dignidade, honradez e lisura funcional), de Cármem Lúcia, que teria orientado para que não cumprissem a ordem de habeas corpus de Favreto e mantivessem Lula preso até que o presidente do TRF-4, Gebram, usurpasse função e revogasse a ordem etc. etc. etc.

Este auguroso STF de onde brota o confesso Marco 'vanitas vanitatum et omnia vanitas' Aurélio de Mello e suas idiossincrasias sob o comentado voto de “Fachin é nosso” e mesmo ameaça (em rede de televisão) de que no plenário (onde há até ‘xerife’, conforme o diz Sua Excelência durante sessão) dita decisão perderia por 6x5. Como o dito cujo será alcançado pela compulsória no próximo mês de julho compreende-se a ansiedade adolescente do ministro por aparecer sob encomenda.

Não, caro leitor, o que está posto não engana este escriba de província. E dentre tanta confissão a mais recente: inviabilizar uma eleição de Lula, pelas urnas, ou abrir caminho para golpes mais desastrosos nas instituições capengas que ainda rotulam este país de democracia.

Essa turma não bate prego em sabão.

A campanha massacrante começou. Basta atentar para o formato noticioso, as perguntas capciosas a entrevistados e ‘analistas’ para obtenção de um clima de confronto. Mesmo o inquilino do Jaburu imiscuindo-se em seara de outro poder, traçando linhas sob viés moral e ético, ainda que parceiro de um exemplo asqueroso moral e eticamente dos mais gritantes.

E na euforia do maracanã tupiniquim o retorno de Lula, como favas contadas, vai escondendo as lições recentes ainda não suficientemente lidas, lançando às calendas as razões por que tudo aconteceu e realidade, ainda que cruel preparando o retorno de tudo.

Isso se a caserna de pijama ou aquela encastelada sob sinecuras (apoiada na mídia), com o valioso apoio de milicianos armados pelo inquilino do Alvorada, não peitar a sociedade.

No front em que se encontrava, na ingrata posição de reconhecer abuso de quem ele mesmo legitimava e determinava a fazê-lo, o STF busca uma saída honrosa. E mais uma vez deixa de fazer Justiça para fazer jogo político.

Às calendas a Justiça que muitos desejam ver praticada. Lula tem pedido apenas um julgamento justo e imparcial. Sob o prisma de ver-se reconhecido sob a definição aristotélica para a Verdade perdeu a batalha. Continuará o suspeito da vez no turbilhão das ondas fabricadas pela mídia e fake news. No fundo, no fundo eis a realidade cruel Lula foi inocentado apenas para os seus seguidores. Permanecerá, mais do que nunca, como o alvo. Agora com a desculpa de que fizeram chicana jurídica a seu favor.

E entre o massacre midiático que ocorrerá contra Lula e o que precisa o inquilino do Alvorada para aumentar a votação dos 30% muito pouco. Lula vence-o agora. Em 2022 temos dúvidas.

Na planície as hostes lutam na Termópolis tupiniquim.

Alguém alcança o horizonte à espera de que surja quem possa edificar nestas plagas um Pacto de Moncloa. Quem o poderia divide a terra brasilis, porque quando o amor perde para o ódio o Bem e o bom senso se recolhem às profundezas abissais.

De positivo o despertar de parcela da sociedade de um sono que durava cinco anos medicado por um remédio milagroso chamado Luís Inácio Lula da Silva.

domingo, 7 de março de 2021

Depois da hecatombe

 

Não retornamos ao tema pelos os fatos que o sustentam, mas para levar o caro e paciente leitor à reflexão do porquê tolerados e até aplaudidos os iconoclastas que estão a levar de roldão para o abismo o bom senso, a ciência. Eis-nos refletindo em torno do Covid-19 (e suas variantes) sob o prisma de ações governamentais e correspondentes reações.

A absoluta ausência de políticas públicas para o enfrentamento nos encaminha para uma média de mortes diárias envolvendo dois milhares. E mesmo não surpreenderá mais alcançarmos as três mil. Já galgamos o patamar, nos últimos dois dias, em número de infecções (superando os Estados Unidos) e nos tornamos o epicentro da epidemia mundial assumindo 30% de infectados no planeta. E em escala ascendente.

E neste trágico viés uma cepa assustadora teria se originado a partir de Manaus e se espalha pelo país e mesmo assusta o mundo.

Sabido e consabido que o mais elementar enfrentamento passa por evitar o contágio ou inibi-lo ao tolerável que o suporte o sistema de saúde.

Em segundo instante o processo de vacinação em massa.

O planeta assim cuidou. Por aqui ainda discutimos se a vacina é “comunista” ou não.

Nenhum daqueles aspectos foi correspondido pelo governo federal. No primeiro é o próprio chefe da nação quem o afirma desnecessário; no segundo, o mesmo governo chefiado por ele, cumprindo ordens expressas, que nega à população o acesso minimamente satisfatório à vacinação a ponto de inviabilizar a sua aquisição direta por governos estaduais e municipais.

Não há como negar que as atitudes, personalizadas no inquilino do Alvorada, constituem o centro e a dinâmica da crise por que passamos. Continua a combater o isolamento social, o uso de máscaras e promove aglomerações e flagrantemente afronta os mais comezinhos caminhos da prevenção. E ameaça com a possibilidade de decretar estado de sítio, sonho de encurtar caminho para afastar garantias constitucionais e abrir estrada larga para seu projeto bonapartista.

Mas tudo isso a ocorrer e o inquilino mantém em torno de 30% de bom e ótimo como avaliação. E  pasme o leitor  enquanto a mortandade se alastra 20% da população defende sua atuação no combate(?) à pandemia.

Ainda que na sandice, sente-se o dito cujo dono da cocada preta. O que não lhe afasta um quê de razão. Registramos neste espaço o que entendíamos como vitória retumbante do inquilino do Alvorada a eleição para as duas casas do Congresso quando emplacou presidências a ele vinculadas. Não custa deduzir que se imagina com o controle absoluto de tudo e de todos.

Caficamos (neologismo amparado em Kafka) descortinando véus do que tanto ouvimos: este é o país do futuro alegorizado por Stephen Zweig, coração do mundo e pátria do Evangelho para espiritualistas e o da anedota que atribui ao Creador haver dotado a terrinha de tudo que negara a muitas outras mas que colocaria um povinho singular para nela viver.

Não há como negar que nesta terra brasilis um comportamento sadomasoquista comum ao fascismo (ver a leitura de Pasolini em “Saló”), antes latente, se expressa concreto e tem no inquilino do Alvorada a “sua mais concreta tradução”.

E descobrimos que neste viés o ranço do colonialismo reacendido no plano mental reforça o material que norteou o passado. Que a idiotice ocupando cátedras, aplaudidas por áulicos vários e variados mais se acentua. Que não mais somente a exploração da terra e suas riquezas, também a configuração de mentes amorfas e disformes em andamento.

Não fora isso, como entender que uma ação governamental inteiramente descontrolada em termos de planejamento e combate a uma pandemia seja respaldada por parcela que supera 20% da população?

O dito atribuído a Norberto Bobbio (não dispomos da fonte) mesmo que dele não fosse traduz uma realidade dolorosa, um carnegão a ser estirpado (não sabemos como).

                                                                                                               

Mas tenhamos certeza de que a missão desencadeada a partir de 1916 não chegou a termo e permanecemos como o peru da vez (sinalizamos neste espaço).

E nossa gente, ainda que sofrendo as mazelas do golpe, elegeu o inquilino do Alvorada (que nunca enganou ninguém) que cumpre com galhardia o mister a que destinado. Que responde com crueldade, incompetência e desprezo a aclamação das urnas porque assim o quiseram os que o tiveram como expressão de suas ignominias encasteladas em evitar que políticas de governo petistas voltassem.

Diante de tanto desvario, de tanta dor causada por um indivíduo a ela insensível, aliada a uma apatia de patologia singular que acomete as instituições no país certamente mais próximo da realidade que tenhamos este Brasil, como coração do mundo e pátria do Evangelho. Entendamos que o que passamos o passamos como purgação por tanta maldade cometida no passado e no presente (escravidão negra e indígena, infância miserável assassinada pela fome e por tiros, campesinos assassinados etc.). Mesmo purgação por tanto vendilhão de templo pregando como porta-voz do Nazareno.

Mas, ainda que tenhamos certeza de que a oração não reduzirá a tragédia que se amplia cabe-nos compreendê-la e aceitá-la. No entanto  oração que mais se nos impõe  que não percamos a capacidade de acreditar, de não renunciar à honestidade, de reconhecer o estudo e a educação como caminho para construir um futuro depois da hecatombe.

Porque  como lembrava Tormeza  se não há bem que sempre dure não há mal que não se acabe.

Mas, não custa esforçarmo-nos por fazê-lo breve!