Afirmam que restarão a qualquer
hecatombe nuclear somente as baratas. Sabendo-se quão grave a realidade e de
que o homem como espécie não anda lá muito bem das pernas só uma retomada de
experiências tipo o suicídio coletivo em Jonestown, de Jim Jones, há 43 anos,
para explicar a ameaça estadunidense à Rússia de impor o ingresso da Ucrânia a
OTAN-Organização do Tratado do Atlântico Norte (aliança entre Estados Unidos e Europa Ocidental) caminho para instalação de bases militares em território
ucraniano, no costado da Rússia.
O inverso do ambicionado levou a uma
crise nos anos 60 quando a URSS começou a instalar bases de mísseis em Cuba.
Naquele instante os Estados Unidos alegaram (com razão) ameaça à sua soberania.
Hoje, pretendê-lo em relação a Ucrânia não o é.
No âmbito do princípio da
autodeterminação dos povos cabe respeitar o que internamente este ou aquele
decidiu ou vive: democracia, absolutismo, ditadura, autocracia religiosa etc. Ou
seja, não cabe intervenção que atinja aspectos estritamente locais. Ou seja,
não havendo iniciativa deste ou daquele país que materialize ameaça ao concerto
das nações é inconcebível qualquer intervenção.
Mas – afastada a fonte da informação que recebemos, ou seja, a versão trazida aos fatos conforme os interesses particulares deste ou daquele país – intervenções têm ocorrido à sorrelfa neste planeta de todos nós!
Não mais os mesmos – talvez por força do ditado de que ‘o hábito do cachimbo põe a boca torta’ – os Estados Unidos pensam que ainda são aquele em plenitude e que o resto do mundo é seu quintal como se América Latina o fosse. Mas, qualquer observador que não paute a sua informação de mundo nas histórias em quadrinhos de Superman, Homem América e quejandos tais, sabe – e o sabe muito bem – que o Tio Sam não é mais aquele. O necrológio como potência hegemônica vem sendo escrito e mesmo há quem afirme que os limites do seu poder (ora ainda mais aparente) tem data marcada, em lapso temporal que pode não ultrapassar uma década.
A sanha intervencionista, imperialista
(de império, mesmo), de ter os demais submetidos ao ‘big stick’ há trinta anos
vem se degradando. A alardeada vitória sobre o ‘mal’, cantada e decantada como
a vitória da ‘liberdade’ e da ‘democracia’ no imediato do que foi denominado
fim da ‘guerra fria’, simbolizada na queda do Muro de Berlim, levou o país e
seu complexo militar que o sustenta e aos seus governos (democratas ou
republicanos) a imaginar que detinha as rédeas do mundo para que suas vontades
imperialistas fossem satisfeitas bastasse um psiu.
Esqueceu, no entanto, de combinar com
a sabedoria de Garrincha, e saber se os russos, os chineses, os coreanos do
norte estavam de acordo.
Para os Estados Unidos é muito cômodo
promover guerras fora de seu território. Para lá manda os seus jovens
sustentados no hinário e na bandeira como vestidos de libertação para os povos
oprimidos enquanto travestem a opressão que promovem por outros caminhos.
...
A informação sob controle de quem a emite – e no Ocidente através das agências europeias e estadunidenses – reflete as reações ‘do mundo’ contrárias às ações russas em território ucraniano. Carregadas estão de protestos em defesa da autonomia e segurança territorial dos povos, no particular o da Ucrânia.
Nenhuma pergunta que aprofunde a busca
da razão por que de a Rússia estar chegando ao ponto extremo. Nenhuma
ponderação envolvendo a clássica definição de que ‘países não têm amigos, têm
interesses’. Sob tal jaez os interesses em conflito são muito mais profundos do
que o leitor meramente informado pela conectividade internética possa imaginar.
Os russos (de Putin) são acusados, mas
os estados nacionais que apoiam um cerco estratégico à Rússia, que se
materializa através da instalação de bases ao redor do território russo,
capazes de atingir mesmo Moscou com artilharia balístico-nuclear, escondem o
jogo oriundo da postura imperial do complexo militar estadunidense.
Somente os Estados Unidos possuem mais de 700 bases militares ao redor do mundo. A subordinação da Europa aos interesses estratégicos e hegemônicos dos Estados Unidos – e as decorrentes relações econômico-financeiras – há muito (fato aprofundado deste a desarticulação da ex-União Soviética) vem buscando sufocar os russos.
Em meio a tudo que nos chega como
informação ninguém discute se os reclamos da Rússia, em nível de proteção aos
seus interesses locais encontra ou não apoio da China. A China sabe que os
avanços dos Estados Unidos buscando sufocar a Rússia se alcançarem sucesso abrirão
o campo para idêntico avanço estadunidense sobre a própria China.
Sabendo o que representa a Ucrânia em
termos de produção agroindustrial gostaríamos de ver a informação que nos chega
permeada do que possui e interessa aos Estados Unidos, além do que significa
como cabeça-de-ponte estadunidense no costado da Rússia.
Naturalmente, de direito idêntico
inversamente dirá a Rússia deter.
Podemos afirmar que a pretensão dos
Estados Unidos em defender a ‘liberdade’ e a ‘democracia’ ucraniana não corre
pelos lindos olhos de sua gente. Caso ‘liberdade’ e ‘democracia’ o fossem paradigma
a justificar suas intenções há muito não alimentaria terroristas (como o fez
com Bin Laden, quando lhe convinha) ou Sadan Russein (quando lhe interessava) e
há muito já teria destituído as ditaduras árabes. A Arábia Saudita, um exemplo.
Mas – ora, mas – o petróleo da Arábia Saudita já está sob controle dos
interesses dos Estados Unidos, servindo às suas corporações. Como não o tem da
Venezuela promove bloqueios, ou derruba governos legítimos, como o do Brasil em
2016 para dispor do pré-sal.
Nos últimos anos não custa lembrar do
Iraque, da Síria, da Líbia. Fundam-se na mítica da defesa da liberdade e afogam
a liberdade dos outros. Na concepção em muito sedimentada no cinema como
instrumento de controle da ‘verdade’, desde os faroestes, são eles os guardiães
da Liberdade dos povos. Desde que a eles estejam submetidos. Sob o tacão de
sanções econômicas levam povos a estado de penúria.
O parque agroindustrial da Ucrânia, herdado de investimentos ao tempo em que integrava a União Soviética – incluindo indústria voltada para usinas nucleares – atrai interesses de potências. A sua autonomia, no entanto – em que pese intervenção do Ocidente (leia-se Estados Unidos) no que resultou no atual governo (que tirou da algibeira um ator e comediante para servir de fantoche do Ocidente) – estava sendo respeitada até a mais recente tentativa de impor o ingresso da Ucrânia na Otan (leia-se, abrir caminho para a instalação de bases visando Moscou).
Como registramos na coluna anterior “Nada
se faz sem que haja vantagem material” e para assegurar controles “A guerra é
um instrumento exercido por quem detém o poder de promove-la e os meios de
efetivá-la”.
Também registramos que o Ocidente
capitaneado pelos Estados Unidos acabaram de transformar os ucranianos em "espingardas de Satanás".
Resta perguntar, considerando a possibilidade de uma guerra nuclear – único caminho para compensar a desmoralização diante da invasão bélica da Rússia a Ucrânia – se estão preparados para conviver com as baratas! Os que sobreviverem, claro!
Amanhã daremos continuidade abordando
o tema ‘interesses’ em jogo sobre o prisma da hegemonia e da geopolítica,
partindo do que representam para o mundo e a economia planetária, isolada e
conjuntamente, a Rússia e a Ucrânia.
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