Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
Há 40 anos
O segundo Concílio da Igreja Católica realizado na cidade-estado do Vaticano, conclamado pelo Papa João XXIII através da bula Humanae salutisem 25 de janeiro de 1961 e inaugurado em 11 de outubro do ano seguinte, vindo a findar em 8 de dezembro de 1965 quando não mais vivo quem o convocou e sim o Papa Paulo VI, muito trouxe de contribuição para uma Igreja que precisava compreender o seu tempo, ainda que não se tenha como concluídas plenamente as suas proposições.
Diferentemente do Concílio Vaticano I, convocado pelo Papa Pio IX no período 1869-70, para enfrentar ideologias nascentes (Racionalismo, Materialismo) que entendia a Igreja estarem a afetar a estabilidade da instituição, mais voltou-se para os primados da fé, dele saindo, inclusive, a definição do dogma da infalibilidade papal, sem adentrar pelos fatos nascentes e suas repercussões no mundo. Nem mesmo a Encíclica Rerum Novarum no final do século (1891), do Papa Leão XIII, apenas duas décadas depois, ao defender direitos dos trabalhadores, enveredando pela nova ordem que surgia, e as que se lhe seguiram, refletiu na compreensão do prelado em torno do que efetivamente acontecia.
Dom Hélder
Profeta do Terceiro Mundo
Dele lembramos a participação na “Missa dos Quilombos”, de Milton Nascimento, na exaltação que faz a Maria, que denomina de Mariana.
Para Dom Hélder a festa maior da cristandade seria assim expressa, certamente.
Sobrando terra
Tal possibilidade reflete a existência de planetas em condições idênticas à nossa, inclusive com atmosfera e água.
Com tanta terra por conquistar, querem acabar com a nossa!
Lição pouco seguida
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, está desagradando a gregos e troianos (começando por petistas), incomodando movimentos sociais e criando verdadeiro suspense na Câmara Municipal. Recusa-se à pressão por cargos. Leia-se como tais pressões as indicações políticas.
Para Haddad a indicação pode até corresponder a alguma ligação política, mas isso será por coincidência e não por pressão de quem quer que seja. A qualificação técnica deve prevalecer.
E ficamos a espera de que o exemplo frutifique. E de que o prefeito paulistano mantenha-se firme no propósito.
Região Metropolitana
Itabuna perdendo
Abre o olho Vane!
De nossa parte o amor roxo de Jabes Ribeiro pela implantação da Região Metropolitana está vinculado a criar os mecanismos que obriguem a autarquia que a alimentará a resolver problemas que Ilhéus terá com a manutenção dos limites nos atuais critérios. Temos que o súbito “amor roxo” já poderia ter acontecido em outras oportunidades em que Jabes foi prefeito, inclusive aliado da situação à época, em nível estadual.
Afinal, como fornecer água aos equipamentos que estão sendo instalados nos exatos limites de Itabuna e distante quase 30 quilômetros de Ilhéus, que estaria obrigado a fornecê-las?
Para nós essa a jogada: ficamos com arrecadação que naturalmente está vinculada a Itabuna e a Região Metropolitana define o custeio daquilo que a nós (Ilhéus) particularmente caberia cobrir.
EMBASA x EMASA I
Chega-nos informação de que há evidente interesse político do Governo do Estado em assumir dois equipamentos públicos em Itabuna, atualmente sob controle do município: a captação e distribuição de água e o Hospital de Base. Pretenderia o Estado administrar o Hospital de Base tornando-o Regional, nos moldes que faz com outros no Estado. No que diz respeito à captação e à distribuição de água pesaria o argumento de que somente o Estado comportaria o universo de investimentos de que carece o sistema itabunense para corresponder às necessidades de consumo municipal (leia-se aí não somente doméstico, mas também o industrial).
A barragem do rio Colônia, por exemplo, nos disse o interlocutor, demandará por mais de 40 milhões de reais somente para que a água seja trazida da fonte à distribuição e tal obrigação estará a cargo do município de Itabuna.
EMBASA x EMASA II
É notório, junto aos técnicos dos sistemas de distribuição de água, que a obrigação do Estado de fornecer água tratada a populações de pequenas localidades resulta em prejuízo (avaliação que vemos como própria do neoliberalismo e sua noção de que saúde e saneamento são despesa e não investimento), considerando o custo do investimento e a sua remuneração, o que é coberto pelo controle da mesma distribuição em grandes centros populacionais, razão por que há uma compensação entre uns e outros para a contabilidade geral.
Sob este aspecto Itabuna torna-se menina dos olhos para a EMBASA.
Hospital de Base
No que pertine ao Hospital de Base prevaleceria o argumento de que, cabendo ao Estado a sua gestão administrativa, mais facilmente ocorreriam as coberturas financeiras devidas pelos municípios que lhe são tributários em nível de demanda.
Hoje, por exemplo, a rede hospitalar itabunense assume a concentração da demanda regional e como, em nível de atendimento hospitalar, não dispõem os pequenos municípios de meios pra corresponder à demanda própria fazem encaminhar Itabuna uma gama de seus problemas sem que paguem por tais serviços, em que pese receberem do SUS os recursos para atendê-los.
Ponderações I
No que diz respeito à estadualização do Hospital de Base, considerando que ao município é dificultado o controle da pactuação com outros municípios e difícil seria a recusa, por não-pactuação, a atender pacientes deles originados, a provável proposta do Governo Estadual parece mais passível de análise.
Difícil é o município perder cargos para atender às indicações da base de sustentação.
Ponderações II
No que diz respeito à captação e distribuição de água defendemos a permanência do Município à frente da gestão, a partir de um elementar raciocínio: se interessa ao Estado é porque não é ruim.
Cumpre à administração local tão somente ser competente para evitar o que Ricardo denunciou esta semana em entrevista: desperdício e cabide de emprego.
Contribuição
Não falta quem admita, diante da velocidade da expansão, que não tarde o surgimento de uma vacina. Afinal, a indústria farmacêutica vive de explorar doença. Quanto mais gente precisando de remédio, mais motivo para desenvolver a fórmula salvadora.
De nossa parte fica a ironia: alguns destes Secretários de Saúde de Itabuna nos últimos oito anos seriam acionistas da indústria farmacêutica?
Dedicando a Ousarme Citoaian
De nossas leituras obrigatórias e imprescindíveis o Universo Paralelo, do heterônimo Ousarme Citoaian, que, como já explicou à plebe ignara (nos damos muito bem, ele e este escrevedor, com o sobrinho de Tia Zulmira), foi buscar na Marselhesa o verso de chamamento à luta para traduzir suas intenções (dele, autor) de enfrentar esta bissexta época onde escrever mal e ouvir coisa ruim passou a ser o máximo; tempo em que reproduzir release e sinopses é sinônimo de jornalismo.
Tratou Ousarme, em sua edição dominical desta semana no Pimenta na Muqueca “Luiz Gonzaga fazia acordes, não versos”), de retomar Luiz Gonzaga no imediato às comemorações do centenário, para lembrar dos grandes letristas que lhe foram parceiros e comumente alijados das comemorações.
(Do titular do heterônimo Ousarme, já registramos em duas ou três oportunidades neste DE RODAPÉS E DE ACHADOS, a montagem de um vídeo circula no YouTube, editado sobre a primeira gravação gonzaguiana de “Vozes da Seca” (Luiz Gonzaga-Zé Dantas), que mereceu, diante do primor de edição, um registro e comentário nosso, justamente a partir da sensibilidade de Luiz Gonzaga na elaboração do arranjo e da introdução, em perfeita consonância com o tema, por nós lembrada como natural ao excepcional melodista que foi Gonzaga, uma vertente que não vemos reconhecida nos textos sobre ele escritos).
Em sua grandeza e generosidade nos cita (costuma fazê-lo de vez em quando – por nosso “Amendoeiras de Outono” ou por conhecermos, ambos, o grande taquista Vivi – não diríamos por piedade, mas para motivar-nos), referindo-se justamente a este aspecto que fazemos sempre frisar em relação a Luiz Gonzaga: o melodista e musicista que foi, influenciando todas as gerações que lhe sucederam.
A Ousarme Citoaian, apreciador e cultor da Música (dispensamos adjetivação – boa, excelente etc. – necessária somente para incensar erudição menor do que andam fazendo por aí, atribuindo à Arte da deusa Euterpe, da qual, no plano do significado, fazem restar apenas as provocações à libido), dedicamos este rodapé, através da brasileira Luciana Souza, indicada ao Grammy por três vezes, filha de Walter Santos, que andou por Juazeiro em tempos idos no grupo Enamorados do Rítmo “ao lado de um certo João Gilberto”, como diz Tárik de Souza na CartaCapital 731, ao se referir ao “Duos III” e “The Book of Chet”, aqui amostrado.
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum
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