Não sabemos até que ponto a visão
deste escriba de província resulta apenas de uma distorção da realidade que lhe
chega e que lhe soa mais e mais pessimista. Tantas as décadas vividas, e tantas
as experiências e experimentos históricos ultrapassados, parece-lhe estranho
que nada tenha servido de lição, que nada de útil tenha contribuído para o
aprimoramento humano em todos os níveis, espaços e dimensões. Muito
particularmente neste país.
É que, se a Civilização reflete mazelas profundas, incapacidade de aprender e compreender as lições, nesta terra de São Saruê, em toda sua extensão (territorial, moral, ética, social, política etc.) permanece – com outras roupagens – como aquele vale do Rio dos Peixes que inspirou Vladimir Carvalho a fixar na celulose a negação do que inspirara o cordelista Manoel Camilo dos Santos (Viagem ao País de São Saruê).
Por outro lado, nenhum Ojuara
(personagem de “O Homem que Desafiou o Diabo”, de Moacyr Góes) para se rebelar
contra a ordem instituída e cavalgar na luta por buscar montes de cuscuz, rios
de leite, fontes de mel, além do que muito se vê nas promessas de plantão.
Certo que vamos convivendo com outras
aprendizagens. Ainda que tenhamos de atentar para a fonte, a origem (da lição e
dos fatos) porque aqui se concentra o que parece ser a maior ramificação de
‘redes de intriga’ não mais a serviço da ficção detetivesco-policial.
O que facilmente percebemos é o grau
de descrédito que a cada novo dia mais agrava a imagem do país, interna e
externamente. E no limiar de um processo eleitoral.
Cavalo morto e perdido o símbolo que o
integraria ao conceito de comandante de uma batalha, o rei Ricardo III clama
desesperado: “Um cavalo! Um Cavalo! Meu reino por um cavalo!”
Por essas bandas não mais a perda do
país como referência, mas da péssima referência em que se torna. Programas de
além-mar utilizam os fatos recentes para fazer do Brasil, mais uma vez, objeto de piada e de
escárnio.
Na esteira estranhos outros gastos militares, não aqueles que já haviam desviado recursos orçamentários destinados em SUS para combate a Covid-19 em 2020 (Correio de Minas). Tampouco aqueles R$ 56 bi com filé, picanha e salmão enquanto o povo aprendia a roer osso no curso da pandemia (247).
Não se afirme que
haja campanha para desmoralizar as ‘forças armadas’ (com letra minúscula, em
homenagem aos fatos que as envolve recentemente), tampouco que não são
verdadeiras as revelações, oriundas de instituições públicas.
Certo que o estamento institucional
incumbido de preservar a soberania nacional não mais compra antigas armas e
aparelhamentos bélicos para a presumida defesa da pátria, mas as novas armas
que traduzem (não só o descaso com que somos nós outros tratados) o estado de
vetusta em que se tornou em razão de tantos carentes de apoio para outras
‘guerras’.
Não sabemos se um novo retrato
resolverá a curto prazo as décadas que perdemos em tão pouco tempo. A metáfora
se ajusta: elabora-se um castelo de cartas com paciência e dedicação;
desfazê-lo basta um descuido (imprevisto ou programado).
O instante cobra resultados imediatos.
Nosso retrato vem pintado há cinco
séculos. Com as mesmas cores. Talvez uma moldura corresponda melhor ao que
desejamos que repintá-lo.
Um novo retrato para o Brasil muito está a exigir; quem sabe uma moldura, sim, seja o possível!
Porque repintá-lo com alegorias a
Pedro Américo e Victor Meirelles exigirá colocar na tela botox, lubrificantes
íntimos, sildenafilas, próteses penianas de até 25 centímetros, as novas
despesas militares nesta contemporaneidade.
Uma moldura que se destaque desviará a
atenção. Não sabemos até quando!
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