sábado, 20 de fevereiro de 2016

Rompendo o dique

Da hipocrisia e do preconceito
A hipocrisia nunca anda só. E costuma fazê-lo mal acompanhada. E quando se aconchega em leito machista encontra – dentro do gênero humano – o conceito de que a mulher é a causa de todos os males. Sob essa vertente podemos entender o que aconteceu com Mírian Dutra e seu relacionamento com o então suplente de senador Fernando Henrique Cardoso.

Exilada o foi para assegurar ao príncipe o direito de reinar quando oportunidade tivesse – e lutava para isso, dentro de sua legítima ambição política, confessou-o à própria companheira – porque um caso extra conjugal não assenta nas cartilhas elaboradas sob semiótica masculina, mormente latino-americana.

Não falta hoje – depois do desabafo de Dutra – quem veja nela a culpada por enlamear-se o oráculo de uma parcela da elite brasileira.

No entanto – por uma questão de justiça – aos fatos cabe vê-los a partir dos detalhes. Alguns são marcantes. Como o escândalo ouvido a partir do gabinete de FHC no Senado chamando a companheira de ‘rameira’ quando esta lhe disse estar grávida, depois de promover dois abortamentos recomendados e custeados pelo príncipe. Não se cobre dele a responsabilidade cristã de promover o fim de uma vida em formação, pois sempre se disse ateu.

Não pesou em FHC as cautelas que lhe cabia – como a de preservar-se. Postura natural para a cultura latina, para a qual cabe à mulher o cuidado em não gerar (afinal, é ela quem carrega e rebento/peso por nove meses, não fora os riscos outros que podem atingi-la e somente a ela).

A desmedida ambição de poder leva a tais posturas. E mais ainda: a de exilar (sabe Deus as ameaças diretas ou veladas sofridas por Mírian) o risco para sua carreira política, garantindo-lhe materialmente tudo de que necessitasse. 

Compra do silêncio até que tudo se consumasse (como se consumou), ainda que afastando da terra natal mãe e futuro filho, fazendo incluir no pacote a nomeação da irmã de Mírian para cargo em comissão no Ministério da Justiça mal acabara de tomar posse em 1995 para estender o silêncio obsequioso – presume-se. 

Nesse particular da obsequiosidade, o PSDB parece haver assumido parte no compromisso, tanto que a moça trabalhou para Arthur Virgílio e Lúcia Vânia, no Senado, antes de tornar-se assessora para “projeto sigiloso” do senador José Serra, para demonstrar a extensão do conluio, onde já presente a TV Globo.

Outra vertente malcheirosa é a história de que o filho não era seu, como divulgado à exaustão depois de um exame de DNA que – em respeito ao exercício da dúvida – está mais que envolvido em suspeição quanto ao resultado. Que matou dois coelhos com uma só cajadada: livrar-se do incômodo familiar (filho fora do casamento) e macular moralmente aquela com quem conviveu por pelo menos 6 anos. Afinal – neste particular – amante é puta, meretriz, ‘rameira’. Desprovida de sentimento, privativo e imaginável somente em relação à bondade do homem que a ampara imbuído de altruísmo para com o sexo oposto.

Para o currículo de FHC pode ter sido o primeiro caso. Assim pensamos porque outros começam a vir à tona. Inclusive pelo uso indevido do patrimônio público (através das privatizações) para alimentar o ego do macho que detinha o poder e podia dispor – como césar romano – de quem lhe aprouvesse e do como e quando.

Fica, para concluirmos, a dúvida de como a elite que o incensa vê tudo isso. Ao lado de Mírian, como mulher e vítima, ou de FHC, vítima do infortúnio de haver se disposto a ajudar uma pobre ‘rameira’.

Não haverá caminho para melhor tudo sintetizar que entender como natural que tal aconteça. FHC não é o primeiro governante a encantar – pelo uso do poder – a corte feminina à sua volta. A cultura latino-americana cobra, dirão.

Mas não pode ser descartado como hipócrita e preconceituoso. Certamente não lhe faltarão os áulicos em sua defesa. Os mesmos que tudo esconderam.

Diferentemente do que fizeram com Lula em relação a Lurian. Que confessou ter sido usada e recebido para declarar o que declarou em 1989. Muito diferente de Mírian, a quem não restou se não sumir da geografia brasileira. Deixando a irmã como beneficiária de dinheiro público (assinava o ponto sem trabalhar) para garantia do silêncio familiar.

Mírian rompeu o dique do moralismo e dos moralistas de quinta categoria. Resta saber o que farão aqueles aos quais cumpre apurar.

O fio de Ariadne
Entenda o estimado leitor o tiro no pé originado da busca de um triplex no Guaruja perseguido como ocultação patrimonial do ex-presidente Lula.

Não tardaram nomes se entrecruzando e  em meio ao corre-corre  uma entrevista da ex-amante de Fernando Henrique Cardoso lança um tsunami a envolver  em outra vertente  os Marinho do sistema Globo.

O Portal Forum levanta o traçado.

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