Há
insistente mensagem persuasiva – não de agora – de lançar o dantesco que
alimenta a corrupção (histórica) no Brasil no exclusivo lombo da classe
política. Deixada ao largo uma pergunta elementar: há corrupção só de um lado?
Para
responder à pergunta o isento leitor buscará – só a partir das denúncias
(históricas) – o modus operandi de
estamentos sociais e verá que de empresários a povo ninguém escapa. A não ser
as honrosas exceções de sempre, porque nem tudo está perdido. Gregório de
Mattos já o percebera no século XVII e pagou por perceber.
Um
empresário (Emílio Odebrecht) diz haver tentado ‘comprar’ a Petrobras e a Telebras
na era FHC com anuência de um grupo de comunicação (Globo) apoiando-o (mensagem
persuasiva), espúria associação onde o grupo televisivo passaria, ainda que
concessionário de serviço público, a ser dono da concessão; um outro
(Joesley/JBS), afirma haver eleito 167 deputados, 16 governadores e 26
senadores.
A
implantação de castas sociais – privilegiadas com dinheiro público – é fenômeno
histórico. Em singular hierarquia e método.
Na
terra do meu pirão primeiro (classe dominante detém a porção maior, quase
total), até o mais inexpressivo cidadão foi cooptado. E acha normalíssimo até o
“rouba, mas faz”.
Nosso
caos mais se aprofunda – não só pela podridão que norteia a quase totalidade
das instituições, com honrosas exceções – desde o remoto instante em que sedimentamos
o inteiro desconhecimento do valor social do trabalho, marco inicial crivado a
partir da denominada libertação da escravatura.
Que nasceu consentida pela
classe (rural) dominante no instante em que manter a senzala custava-lhe mais
que remunerar com migalhas o ‘homem liberto’ e já dispondo da imigração
europeia como contraponto ao que seria compromisso de grandeza social em ocupar
as levas de desocupados oriundas da Abolição, porque nem ensaio houve de uma
reforma agrária para dotar os novos despossuídos (que nasceram sem nada) de um
naco do que ajudaram a construir.
Essa
tragédia social permanece, com a classe dominante ocupando todos os espaços sem
nem mesmo entender – muito menos praticar – o que em terras civilizadas passou
a ocorrer desde a Revolução Industrial: mercado de consumo para sustentar a
produção, gerar recursos e alimentar a atividade econômica onde o trabalho
passou a ser olhado com outros olhos, como a base deste mercado consumidor.
Por
aqui – muito mais profundamente que alhures – os estamentos dominantes
aprofundaram o controle sobre o Estado, não importando os meios para a obtenção
de resultados. E o ciclo se instalou: ponho no poder quem me interessa,
manipulo o processo eleitoral para que tal ocorra, com dinheiro alcanço o
resultado e lá adiante – não tão adiante – recupero com lucros e dividendos o “investimento”.
Natural
que a classe que exerce e exercita o poder sempre transitou com desenvoltura –
mais aqui, menos ali – por entre as trilhas do Poder/Estado. Qualquer que fosse
o regime. Apenas as peças substituídas na alternância circunstancial entre
democracia e ditaduras.
Mas,
acima registramos “[...] que de empresários a povo ninguém escapa”. Varia o que
cada um percebe. Sempre com honrosas exceções.
A
classe política é a expressão mais visível da safadeza, concordamos. Mas, e o
empresário, o banqueiro e o latifundiário que a elege para dela – ou através
dela – beneficiar-se?
Sabemos
que angustiado o leitor está para saber onde entra o povo nessa chafurdação.
Simples: não só no instante em que vota naquele que condena porque recebeu um
pedido ou dinheiro para tanto; ou quando se elege – com honrosas exceções –
dirigente de associação (moradores, bairro etc.) e de imediato leva o termo de
posse ao prefeito de plantão para “exercer o poder” de pedir um emprego para
ele, a mulher, o papagaio, o gato etc.
Não
seria exagero afirmarmo-nos aparelhos de um sistema vital, nacional,
aburguesado sob a compreensão de Mário de Andrade (“A burguesia nunca soube
perder e isso é que a perde” – Conferências)
porque “pretende conservar o ser sem o parecer” (Barthes, em Mitologias).
Talvez
nos reste – para não enveredarmos no pessimismo que a todos inspira – aprender com
Graciliano Ramos o que de sua obra dizia Otto Maria Capeaux, para quem nela havia um secreto sentimento de misericórdia. Em relação a essa terra brasilis, mormente em sua
contemporaneidade, não temos como afirmar se cristão ou socioantropológico há
de situar-se o dito por Carpeaux.
Diante
disso certamente fica mais fácil atribuir apenas à classe política as mazelas
todas por que passamos.
Horizonte
logo ali
A
brutal recessão a que chegamos leva o Brasil ao absurdo de endividar a
população/empresários sem oferecer-lhes saída. Afinal, sem atividade econômica
não há consumo, receita tributária etc.
Nesse
horizonte, logo à mão, a inadimplência não será somente a comissão de frente da
escola do samba enlouquecido.
Força
O
risível em tudo é ficar de fora observando discussões isentas de quem vê sua
opinião como solução para tudo o que ocorre – e vem ocorrendo há séculos – no
Brasil, que já foi Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz.
Lembra
aquele infantil He-Man e o seu “Eu tenho a força!”
Ovo
de serpente I
Sem
descrê da força dos muitos centros de produção de informação (inclusive
manipulada). Óbvio que alguém rematará que nem todos veem blogs.
Como milhões não
leem jornais e revistas, veem o Jornal Nacional.
Aí
reside o perigo!
Ovo
de serpente II
Ouça e veja o vídeo e faça suas conclusões.
Ovo
de serpente III
O
estágio a que chegaram algumas instituições deste país não há espaço para
comentarista avaliar este ou aquele ato praticado. Nem acusando, nem
defendendo.
O
melhor para o leitor é ver o quanto disponibilizado em nível de verdade factual
pela imprensa. Caso não concorde o leitor apenas desconsiderará o quanto
disponibilizado.
O
primeiro deles (através do Conversa Afiada) mostra o que anda por trás do filme
Polícia Federal – A lei é para todos.
Sobre a parte final do título esperamos
que o seja. Afinal, estão à espera o interino tornado presidente, Aécio, Geddel
etc. etc. etc.
Ovo
de serpente IV
O
silêncio do noticiário global (Globo mesmo) em relação ao projeto Bolsonaro pode
ser entendido como apoio escancarado à uma solução que lembre Collor x Lula em
1989.
O
alerta vem de Wallace dos Santos Morais, no Le Monde Diplomatique.
Ovo
de serpente V
Para
não duvidar, veja o vídeo. Para compreender o que ora corre revisite a
História, lendo Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer e
assista “O Ovo da Serpente” (The Serpent’s Egg) – 1972, de Ingmar Bergman.
(O vídeo da recepção a Bolsonaro é do dia em que chegou a Curitiba para acompanhar a chegada de Lula, que seria sequestrado e preso em São Paulo para ser levado à Superintendência da Polícia Federal paranaense, onde lá o aguardava Jair soltando rojões).
A
propósito de Geddel
Falam
que o artista baiano prepara uma delação. Já é sabido que para ferrar Lula,
Dilma, o PT e salvar – com sua honra pessoal – o PMDB dele e quejandos e o PSDB
das vestais da moralidade...
E,
provavelmente, liberar aquele andar no edifício da Ladeira da Barra, em Salvador.
Oportunismo
Não
vemos a iniciativa da OAB além de oportunista. Para a gloriosa instituição –
que agora chuta cachorro morto que ajudou a levar ao poder – a defesa do Estado
Democrático de Direito foi deixada de lado quando silenciou diante do
impeachment sem causa/crime.
Sua atual postura não passa de oportunismo
medíocre.
Nossa
classe dominante
Domina
o osso. E a classe política para satisfazê-la.
Os
sinais
Ensaiado em Brasília o sinal dos sonhos – o controle pelos militares da política
administrativa – não encontra anuência da sociedade – onde parte aplaude.
As
cenas veiculadas, de Brasília ocupada, não traduzem o que diz o governo em relação à suas propostas.
Quem
controla não ataca. O uso da força é ato de desespero.
A
batalha de Brasília bem poderia sinalizar a queda de outra Bastilha.
Mas,
cairá o presidencialismo para assegurar, com o parlamentarismo, o controle do país por um Congresso podre e caduco (por conveniência).
Convulsão
social
Quem
o diz é o Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, na BBC Brasil.