Roto fala de esfarrapado na casa do faz de conta que defende a Constituição. O que parece mensagem cifrada fica cristalina quando no centro dela colocamos Supremo Tribunal Federal.
É que, caro leitor, o recém empossado presidente daquela Casa revelou contrariedade em relação ao colega Gilmar Mendes por andar/continuar fazendo das suas. Sentiu-se incomodado o ilustrado Luiz Fux porque Mendes exercitou seu lado político (mais uma vez) e influenciou na indicação do desembargador Kássio Nunes Marques para substituir Celso de Mello, conseguindo afastar um “terrivelmente evangélico” por enquanto.
A ar(rru)mação foi construída por nada mais
nada menos Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Deixando de fora o Fux — coitadinho!
Talvez estivesse pensando em ver indicada a filha — prevaleceram, ao que demonstram os resultadaos, a intervenção do mercado e dos militares. Não pode ser
descartada a articulação política — como sói ocorrer nas indicações — onde a
ala centrada em torno do inquilino planta uma semente para agradar a muitos.
Diga-se, de passagem, que Mendes não está só
na pretensão: também o centrão, a gloriosa classe advocatícia (o indicado é
advogado que ocupa o TRF-1 por eleição pelo denominado Quinto Constitucional,
ou seja, cargo em tribunal intermediário ou superior ocupado por advogado
eleito em lista tríplice levada ao Presidente ou Governador conforme o caso), a
turma contrária à postura da Lava Jato em sua versão de violação de direitos
constitucionais etc. e, naturalmente o próprio inquilino, que soube muito bem
aproveitar a oportunidade para fazer sua média.
O Fux sobrou; roto falando de esfarrapado. Com
o passado não recomendado a leituras — o escândalo de reconhecer a Telesena
como título de capitalização, enquanto ministro do STJ, que deu origem a uma
representação junto ao STF (leia uma das notícias, através do GGN) — imaginava-se
todo poderoso e, certamente, almejava ser o bajulado e incensado interlocutor, conselheiro e definidor
da indicação.
O inquilino do Alvorada, para não perder
oportunidade, criou nova jabuticaba e, antes que a vaga fosse aberta no STF indicou
a “indicação” de Mendes.
Certo que o inquilino do Alvorada não bate
prego em sabão e vai garantindo trânsito mais satisfatório junto ao Judiciário.
E — correspondendo ao seu papel de pau mandado do mercado – acaba de conseguir,
entre proezas futuras, a liberação pelo glorioso e patriótico Judiciário do
direito de torrar as refinarias da Petrobras sem autorização do Congresso.
A esquerda em sede do PT gargareja como macaca
de auditório em razão da decisão da juíza Hardt inocentando Lula das acusações
de recebimento de propina em forma de palestras e determinou a liberação dos
depósitos e investimentos do ex-presidente.
Em outras palavras: a Justiça confessa que
errou. E em razão dessa confissão a euforia. Ainda que os males maiores não
tenham se desfeito com a confissão, qual sejam: o lawfare para atingir
objetivos indecorosos e — o mais grave — os danos irrecuperáveis causados ao
país em decorrência do golpe promovido para afastar Lula da disputa.
Mas, ainda assim, esgoela-se onde o povo não
escuta, com matéria da Veja (“Após cinco anos, Justiça reconhece legalidade de
palestras de Lula”). Para Gleise Hoffmann “a justiça tarda mas não falha”.
A mesma justiça (com letra minúscula,
revisor!) que não julga a suspeição de Moro, que libera venda de refinarias da
Petrobras sem anuência do Congresso, que libera o Conama de Salles para
perpetrar a dizimação de manguezais e restingas e mesmo declara — como o fez um
destes TRTs da vida — que chamar um negro de "macaco" é injúria LEVE (247), como já fizera
instância que afastou o crime de racismo daquela juíza que quantificou a pena
de um acusado em “razão de sua raça” (negro).
A leitura da História continua por ser feita.
Essa turma nunca aprende. Nem com os fatos
recentes. Mesmo tendo José Dirceu para ler e refletir.
[...]
“Se você olhar a História do Brasil, vai
verificar que de tempo em tempo — conforme o nível de organização, politização
e, principalmente, ocupação de espaços institucionais, no sentido eleitoral, de
governo e parlamentar, como também de auto-organização das classes populares —
sempre há uma interrupção do processo. Foi assim em 1964 e se repetiu em 2016.
Em outros momentos houve tentativa de golpe, como em 1955, tentativa de impedir
a posse de Juscelino. Em 1945, Getúlio foi deposto por um golpe da cúpula das
Forças Armadas, elegeu Dutra, voltou nos braços do povo e foi ‘suicidado’ em 54’.
[...]
Ganhar quatro eleições em um país como o
Brasil não é para amador. Nossa debilidade talvez tenha sido não ter o nível de
organização e mobilização para se contrapor ao tipo de golpe que tem sido dado
agora em vários países, que é a mobilização de classes médias, às vezes de
classes populares, muito apoio da mídia, a partir de razões muitas delas reais,
muita intervenção externa e uso do Parlamento e do Judiciário. Foi o caso de
Honduras, Paraguai e depois Brasil. O golpe foi a saída que tiveram para abortar
a volta do Lula em 2018, que seria natural.
[...]
“Se nós não elevarmos o nível de
organização e de consciência política em geral, vai ser muito difícil enfrentar
nos próximos anos a direita, que já mostrou como age”.
(Entrevista ao Brasil de Fato, em maio de
2018)
Cremos, salvo melhor juízo, que os conteúdos fáticos acima expostos — e suas implicações — não devem se satisfazer com remendos e migalhas enaltecidas com expressões de caráter moral-religioso tipo “a justiça tarda, mas não falha”.
Sob pena de ser apenas uma euforia em meio a
zangas e jabuticabas nesta terra brasilis
que se torna a terra do faz de conta...: que se faz justiça, que se administra,
que se faz política para o futuro e suas gerações.
Porque de "consciência política" estamos a cada dia mais distantes.
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