Quando insistimos no tema não fazemos buscando proselitizar em relação a este ou aquele. A circunstância de existir este ou aquele decorre do fato elementar de que tudo que ocorre na sociedade diz respeito a um este ou aquele. Conforme quem veja qualquer deles — ou a circunstância que motiva — este pode ser aquele e vice-versa.
No
particular chama a atenção quando este
ou aquele é vítima de um sistema que
não admite concorrentes. Seja Assange, destruindo a ‘verdade’ estadunidense,
seja o manuseio de instrumentos estatais (judiciais, legislativos, policiais) contra este ou aquele cidadão para
corresponder a interesses privados, alguns muito particulares em seara
tupiniquim.
E
voltamos ao que nos motiva escrever, posto no primeiro parágrafo. O que gira em
torno deste ou daquele. Em entrevista concedida ao Canal 247 o sociólogo português
Boaventura de Sousa Santos destaca: “A
credibilidade do sistema judicial brasileiro depende de anular a condenação de
Lula”.
Redigimos neste espaço, aos 22 de novembro do ano findo, "Direito, STF, democratas estadunidenses, Lula e leituras". Fundávamos nossas considerações no “’Manifesto de solidariedade internacional
ao presidente Lula e pela votação do habeas corpus pelo STF’, subscrito por 356
líderes e intelectuais em diversos ramos”.
E refletíamos:
“Nossa leitura é outra: não a temos como pedido em
favor do ex-presidente. Pelo contrário: há no manifesto uma clara defesa do
Direito que deve ser aplicado de forma equânime".
E afirmávamos:
"E, mais
grave, muitíssimo grave: parcela respeitável da comunidade jurídica
internacional duvida do Julgador brasileiro. Este o aspecto mais grave — mesmo
inimaginável — posto à luz na manifestação”.
Quase 60 dias daquele registro. E nos vem Boaventura
novamente tocar na ferida, clamando por “credibilidade do sistema judicial
brasileiro”, que estará indelevelmente maculada caso não anule a condenação de
Lula, escândalo dos maiores nos registros da história da Justiça no planeta.
Aqui não há uma particularidade como a denunciada por Émile Zola, em “J’acuse’,
no que se tornou o famoso Caso Dreyfus, mas a escancarada bocarra de um poder
que se faz casta no país de famintos, de desempregados e de sem vacina. Do
poder responsável diretamente — afirmamos peremptoriamente — por tudo que está a nos ocorrer.
Um dedicado leitor nos encaminhou uma relação que supera
cinco dezenas de envolvidos no escândalo do judiciário baiano. Agradecemos e
lhe dissemos que está a faltar muita gente de agora e de antes. E não
enveredamos em torno de outras honrosas carreiras de Estado maculadas por nada
honrosos ocupantes.
A manifestação do sociólogo português Boaventura de Souza
Santos é a reafirmação de que a luta desta terra
brasilis diz respeito a sair do luto em que está: luto por mais de 200 mil
mortes pelo Covid-19 atestadas e por outras milhares omitidas ou que virão inexoravelmente;
luto por havermos perdido a credibilidade política e diplomática; luto por
termos de conviver com o permanente alerta de que uma injustiça perpetrada
neste país permanece porque a instituição maior se nega a fazer a Justiça que
deve não só ao condenado sem provas mas a todos os que um dia acreditaram que o
Poder Judiciário (onde se destaca o STF) seria o último bastião para os
desalentados.
Ou, talvez careçamos a nos habituar, como na fábula, e permaneçamos
o cordeiro que tenta convencer o lobo de que quem está abaixo (jusante) não suja a água
de quem a bebe acima (montante).
Nenhum comentário:
Postar um comentário