Temos, neste espaço, levantado permanente dúvida sobre a saída forçada do inquilino do Alvorada amparada em impeachment. Temos afirmado que sua presença à frente do governo atende aos interesses mais comezinhos, tanto da classe dominante local como de além mar.
Também
levantado indignação crítica à forma como a denominada oposição ao inquilino se
porta, já que limitada ao ramerrão da denúncia midiática que em si mesma não
alcança o real objetivo (justamente porque interpretada aos olhos e ouvidos do
homem comum como apenas ‘coisa da oposição’, de quem perdeu o poder), sem meios
e força para enfrentar ou competir com os discursos de ódio, com a mensagem
evangélica. Ou seja, o discurso levado a termo pela oposição não conseguiu, em
dois anos de descalabro, reduzir o BOM(!) e ÓTIMO(?) de avaliação do inquilino
para menos de 30%. Simplesmente — por incrível
que pareça — dispõe
ele de 1/3 de apoio até agora imutável.
Salvo
esparsas vozes sem a penetração necessária na base da sociedade a experiência
recente deixa no ar que a oposição não aprendeu a lição de que não precisa
agredir ou perseguir mas não pode confiar em projeto nacional amparado na
burguesia. Sua postura nesse instante parece demonstrar apenas a realidade
imediata: a retomada do poder. Para tanto ataca o inquilino do Alvorada e
esquece (e não o combate) a razão que a afastou do poder: o projeto neoliberal,
com o qual de certa forma conviveu e tolerou. Parece não atentar que o que está
em jogo permanece sendo uma luta de classes em torno da qual não se situou além
do discurso.
Reconheçamos
(demonstrado está) que não conta a oposição com a força e os meios de que dispõe
o projeto espúrio do pentecostalismo (evangélico e católico); que perdeu muito
de suas bases e está a reboque dos erros do inquilino do Alvorada. E este, com
uma simples canetada, contornará os problemas em relação às bases desprotegidas
da sociedade (fonte de votos), basta-lhe acenar com um “auxílio emergencial” no
instante necessário, que — mesmo castrado
no momento — ressurgirá
próximo ao processo eleitoral, até porque (acuada) é esta oposição quem o
defende (o que lhe é natural).
Dirá
o paciente leitor que caminho outro não há no momento.
Este
o busílis: o momento. O momento cobra ser compreendido. E a compreensão exige
olhar o processo histórico por que passou o país e sua gente sob o tacão da
classe dominante (escravidão e espoliação). Imperativo entender que essa classe
que constitui a burguesia nacional é colonialista: servindo a quem quer que
seja além — desde que
assegurados seus históricos privilégios e sinecuras — às favas, dirá ela, os pruridos
pátrios, o que inclui a democracia.
No
fundo, uma classe dominante já muito bem espelhada por Gregório de Mattos
Guerra no século XVII, por ele cognominada de “canalha infernal”, que não
encontra para corresponder aos seus desígnios ninguém melhor que o inquilino do
Alvorada.
Caso
alguém duvide não custa fazer uma pausa para analisar o resultado das eleições
para mesa da Câmara e do Senado: traduzem acordos espúrios, nada a favor da
nação.
Mas,
caríssimo leitor – deixados os pruridos ao largo, fato concreto – o inquilino
do Alvorada alcançou uma vitória retumbante, maior que a da sua própria
ascensão ao poder. Não precisou de Moro, de procuradores da Lava Jato, da rede
Globo, da Polícia Federal, da PGR, do TRF-4, do STF, de ‘marrecos’ nas ruas.
Obteve-a a partir do projeto a que serve, do controle que soube exercer sobre
seus correligionários e admiradores. Soube usar do que dispunha diante de um
congresso (com letra minúscula, revisor!) fisiologista, emprenhado por bancadas
que se digladiam em busca de cargos mas unida em torno de quem possa
‘ampará-las’.
No
imediato do resultado os primeiros desdobramentos: uma deputada (processada
judicialmente) famosa por seus fake news e deboche em relação ao combate ao
Covid-19 assume a Comissão de Constituição e Justiça, o que significa que
dispensada pelos pares está de conhecer a Constituição e muito menos a Justiça.
Mas atenderá aos reclamos do inquilino do Alvorada.
A Comissão de Constituição e Justiça é a mais importante das
comissões no Poder Legislativo. A primeira a apreciar em qualquer instância
federativa (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) analisa propostas de
emenda à Constituição (ou à Lei Orgânica), a legalidade de projetos de lei, e
tem a prerrogativa de mesmo segurar denúncias por lacunas jurídicas ou barrar o
andamento de cassações de políticos e processos de impeachment.
Não
se negue: uma vitória avassaladora!
O
que acontecerá ao país aguarde o leitor: muito provavelmente tentativa de
federalização das polícias militares — o grande
projeto do inquilino — que tende
a ser posto em discussão levantando os policiais militares do país em defesa do
projeto de fechamento do regime para garantia de uma nova casta castrense (superam
400 mil que podem somar-se a outros 300 mil policiais civis), a partir de
qualquer estado da federação, capaz de fechar o país e torná-lo império do
inquilino, tão habituados estão a movimentos paredistas.
Não,
caro leitor, este escriba de província não acredita — como muitos o imaginam — que o inquilino do Alvorada será
defenestrado. Já acena com o que eles querem: privatizações... privatizações...
da Eletrobras, da Petrobras; Banco do Brasil, CEF e Correios logo, logo etc. E
quem poderia afastá-lo — a quem
incumbe, o Congresso — enquanto
participar do butim lhe dará sustentação. A não ser que o pedido extrapole as
disponibilidades...
No
mais, que Deus tenha pena de nós! Porque a oposição, presa ao torreão do
castelo a que lançada, continuará pedindo por um impeachment que não ocorrerá.
E
para completar o atual projeto das classes dominantes locais, considerando a
possibilidade concreta de a suspeição de Moro ser declarada e anulados os
processos da Lava Jato por ele manipulados em conluio criminoso com os
procuradores da Lava Jato, reconheçamos a perseguição a Lula, anulemos as
sentenças que o condenaram mas —
mantenhamos a suspensão dos direitos políticos (absurdo! absurdo! se anulada a
sentença principal também o será a acessória) —
não
o deixemos ser candidato, castremos seus direitos políticos.
Porque
Lula é ainda o pavor desta classe dominante.
No
mais muito provável que os mesmos se unam aos mesmos que hoje se concentram no
inquilino do Alvorada: este mesmo STF conivente com o golpe — por vingança ou temor a Lula (não
sabemos por quê!) — detém em
mãos o cordel: acolhe um pedido e anula todo o processo contra o ex-presidente mas
mantém o outro que o mantém inelegível.
Diante
desta podridão a classe dominante (STF, Congresso, “elite branca” empresarial,
latifundiária e financista) tem inegavelmente o seu melhor representante.
De
nossa parte —
considerando o quão responsável pelo o golpe o foi o STF — não duvidamos do alto nível de
sordidez judiciária ali encastelada. Somente isso para lermos o que anda ‘vazado’
a Mônica Bérgamo por integrantes do STF de que com base na sentença do sítio de
Atibaia — aquela do
ctrl-C ctrl-V da juíza Hardt, que substituiu Moro e deu seguimento ao ‘projeto’,
e copiou e colou a partir da sentença do apartamento — Lula permanecerá inelegível.
Pela
teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree) se são o juiz e seus acólitos
procuradores a razão contra um réu tudo que viciado o seja partindo deles em
relação a este réu o será por consequência. E foram Moro e seus procuradores a promovê-lo
em relação ao sítio de Atibaia, inclusive usurpando competência territorial.
Esperar
apreciação de cada um processo para o mesmo final apenas assegura a certeza da
sordidez que norteia o STF e confirmará o fato de que Sérgio — “Com Supremo, com tudo” — Machado tinha razão. Este STF que tem medo até
de General de pijama e não resistirá ao cerco que lhe fizerem policiais
amotinados.
Por
quejandos tais afirmamos — esperando
estar errado — que a
vitória do inquilino do Alvorada foi avassaladora.
Na
esteira dos fatos concretos — para demonstrar
o quão perdidos estamos — há quem
imagine que Mourão é a solução.
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