Atribui-se a Mark Twain uma afirmação, que soa
axiomática: “Nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota”. Ainda
que habilidades intelectuais aliadas a uma memória extraordinária não inibam a
possibilidade concreta de pouco compreender o que está sendo descrito marque a
dimensão de um idiot savant a convicção
que norteia um delirante (ler) situa-se em plenitude na afirmação daquele
estadunidense que se utilizou do sarcasmo e do humorismo para dizer verdades.
Mantemos —
por
dever de ofício — o penoso
hábito de acompanhar (apenas o suficiente) noticiários em TV aberta (Globo
somente em último caso, mesmo que a conveniência que oriente a platinada esteja
de algum modo próximo ao que gostaríamos que fosse) e mesmo o oriundo da
imprensa comprometida com a classe dominante.
Por tão inconveniente(!) costume é que nos
debruçamos sempre no contraponto a tudo veiculado. Inclusive partindo de nossa
indagação clássica: interessa a quê ou a quem?
Nesse viés nos vem o deslumbramento com que
amantes da democracia e da justiça andam encantados com falas e lágrimas (de
crocodilo) do ministro Gilmar Mendes, o mito da vez.
Sabemos não estar só quando criticamos
euforias político-partidário-eleitorais levadas a público soando como redenção
consumada a candidatura de Lula. O dito por Celso Amorim (“decisão histórica”),
por exemplo — ainda que não materializada
em resultados — bem demonstra a quantas anda a euforia. E abre espaço para que o
cidadão comum reconheça (com base no apoio da esquerda eufórica) qualquer
decisão absurda que venha a ser renovada pelos mesmos que inviabilizaram a
candidatura de Lula (e as aberrações jurídico-processuais cometidas contra
ele), que ora abrem espaço para ele mas deixando claro que têm o ‘poder e a
força’ para inviabilizá-lo.
Em
Pedro Serrano, à 247, a lucidez (da qual partilhamos em textos neste espaço não de
agora) diz com todas as letras, sem pedir licença:
“Hoje,
o Supremo representa o palco de uma luta entre o Estado de exceção e o Estado
Democrático de Direito. É como um xadrez, e a cada hora tem um movimento que
altera o tabuleiro.
O
Fachin tem duas metas. A primeira, que é sua meta olímpica, é evitar a candidatura
de Lula novamente, em 2022. A segunda finalidade dele, caso não consiga a
primeira, é pelo menos salvar a narrativa da Lava Jato. Ou seja, não haver o
reconhecimento do sistema de justiça de que o que houve com o ex-presidente foi
uma fraude, e não um processo penal.
O
discurso do juiz incompetente produz, para a direita, a possibilidade de ainda alcunhar Lula de corrupto. E a figura do
corrupto é fundamental para desumanizá-lo. (grifamos).
Porque,
na hora que Lula for “humanizado”, ele passa a ser identificado como um dos
melhores governos que o país produziu, queira ou não.”
Trazemos registro nosso (“Confissões nada agostinianas...”) que coincide com o raciocínio de Pedro Serrano no capítulo desumanização:
“Quarto impacto: abre-se a frente
sucessória e as portas de combate a Lula. Parcela substancial da imprensa já
começou a fazê-lo aproveitando-se da decisão para discuti-la sob o prisma de
‘favorecimento’ a Lula e manter — em fogo de brando a forte — no imaginário da população a ideia de que
Lula é ladrão e voltará a roubar se retornar ao poder. Isso porque, sob esse
viés, afasta-se o escândalo dos processos (criminosamente viciados) que levaram
a condenação de Lula, evita-se a punição dos criminosos e Lula, escapando por
‘artimanhas’ do sistema capitaneado pelo STF, não deixa de ser o criminoso que
muitos acham ou aprenderam a achar. O clamor se aprofundará no pentecostalismo
católico e evangélico diante do Apocalipse exibindo a Besta Fera.”
Temos abordado o que representa o STF — ainda que na atual composição — no contexto político-partidário.
Estranhará o leitor desavisado que uma corte que dirime conflitos (inclusive
eleitorais) exercite função inteiramente alheia ao seu mister.
Mas, caro e paciente leitor, tudo a cada dia
mais claro, mais escancarado. O voto do ministro indicado pelo inquilino do
Alvorada no habeas corpus que interessava a Lula (e, naturalmente, ao inquilino
que o indicou) demonstra à sorrelfa o que está ali fazendo.
Muito brevemente mais uma indicação — que pode ser uma ‘terrivelmente
evangélica’ (não por ser evangélica, mas em razão de quem a indicará) — levará à
desmoralização absoluta de uma casa que já abrigou figuras exemplares: Moreira
Alves, Sepúlveda Pertence, Paulo Brossard, mais recentemente; Carlos
Maximiliano, Eduardo Espínola, Evandro Lins e Silva, Nelson Hungria, Victor
Nunes Leal, Aliomar Baleeiro mais remotamente.
Não dizem por aí que as eleições e seus
resultados dirigidos estão nas mãos do STF. Não se iluda o caro e paciente
leitor que confia neste escriba de província.
A propósito do que ‘não dizem por aí’ está
Marcos Coimbra indagando por que o inquilino não se esborracha (veiculado no 247). Análise
preciosa a sua. Mas deixou de abordar em torno da parcela que mata e morre por
ele, que se embute, parte dela, naqueles 22% que o tem como bom e ótimo no
enfrentamento da pandemia: o peso da alienação evangélica plantada no
pentecostalismo católico e protestante que o tem como messias.
Arrumação à vista. Nenhuma dúvida há para este
cronista de província: a arrumação está em andamento. Lula no centro das
atenções, bola da vez no pebolim chamado STF. Caso se comprometa a respeitar os
contratos (entrega do patrimônio pátrio até aqui ocorrida) encontrará apoio dos
que muito ganharam com o golpe e a eleição do inquilino do Alvorada. Caso
contrário e se negue a tal desiderato continuará comendo o pão que o Diabo
amassou da imprensa enquanto a classe dominante sangrará o inquilino para
garantir uma peça do sistema. Qualquer uma que respeite e mantenha os
contratos.
O STF no comando
político-partidário-eleitoral. Legitimou as arbitrariedades da lava jato,
admitiu por oportunismo a prisão em 2ª instância, se omitiu diante do golpe
contra Dilma, legitimou a prisão de Lula e o afastou do processo eleitoral.
Agora tenta oportunizar Lula mas (recado dado) também pode inviabilizá-lo.
As cartas estão na mesa: STF de Fux pauta
julgamento para primeira quinzena de abril vindouro para avaliação pelo Pleno da
decisão que beneficiou Lula (disse na Bandnews o ministro Marco Aurélio que o
plenário a reverteria sob placar de 6x5); Datafolha e os Frias manipulando
pesquisa para manter no imaginário Lula como condenado por corrupção em
processo justo por Moro/lava jato (a desumanização de que fala Serrano);
mudança de voto de Fachin e Pleno do STF para embolar o meio de campo etc. etc.
Não esqueçamos Mark Twain, para evitar que
alguma quantidade de evidência eufórica possa nos tornar um idiota/inocente
útil.
Não esqueçamos no que se tornou o STF. Não esqueçamos que o mercado (que levou os dedos do governo Lula para que este não perdesse os anéis) afastou as políticas petistas quando lhe foi interessante e se hoje já o admite nada faz que não possa corresponder aos seus interesses.
Não esqueçamos que o jogo é bruto.
Euforias
podem ter utilidade imediata, inclusive de ópio diante da realidade.
Dizemos isso porque não vemos no seio da
sociedade a consciência do reconhecimento da importância das políticas de
Estado postas em prática pelos governos petistas. E aí estão em meio a ela 22%
achando BOM e ÓTIMO o comando de ações do inquilino do Alvorada no tratamento
da pandemia que já levou mais de 300 mil brasileiros e pode elevar este número
a assustadores 500 mil em menos de 60 dias, caso mantida a média diária (já alcançada em alguns instantes) superior a 3 mil mortes por Covid-19.
Perdidos em mar revolto caminhamos para tudo aceitar. Inclusive Lula submetido ao sistema.
Ainda que seja ele o único capaz
(como o fez quando governou) de perder os dedos para não perder os anéis. Os
milagrosos anéis das políticas de governo petistas voltadas para os menos
favorecidos.
Se o sistema o permitir, recomporá a
credibilidade e o respeito do país.
Até outro golpe.
“Com Supremo, com tudo”! Este
STF pebolim com camisa político-partidária, manipulado por imprensa, mercado
(indústria, agronegócio e sistema financeiro) e egos delirantes que tem por
bola da vez um nordestino que incomoda a todos.
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