domingo, 28 de março de 2021

Lula: a bola da vez nas arrumações do pebolim chamado STF

 

Atribui-se a Mark Twain uma afirmação, que soa axiomática: “Nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota”. Ainda que habilidades intelectuais aliadas a uma memória extraordinária não inibam a possibilidade concreta de pouco compreender o que está sendo descrito marque a dimensão de um idiot savant a convicção que norteia um delirante (ler) situa-se em plenitude na afirmação daquele estadunidense que se utilizou do sarcasmo e do humorismo para dizer verdades.

Mantemos por dever de ofício o penoso hábito de acompanhar (apenas o suficiente) noticiários em TV aberta (Globo somente em último caso, mesmo que a conveniência que oriente a platinada esteja de algum modo próximo ao que gostaríamos que fosse) e mesmo o oriundo da imprensa comprometida com a classe dominante.

Por tão inconveniente(!) costume é que nos debruçamos sempre no contraponto a tudo veiculado. Inclusive partindo de nossa indagação clássica: interessa a quê ou a quem?

Nesse viés nos vem o deslumbramento com que amantes da democracia e da justiça andam encantados com falas e lágrimas (de crocodilo) do ministro Gilmar Mendes, o mito da vez.

Sabemos não estar só quando criticamos euforias político-partidário-eleitorais levadas a público soando como redenção consumada a candidatura de Lula. O dito por Celso Amorim (“decisão histórica”), por exemplo — ainda que não materializada em resultados — bem demonstra a quantas anda a euforia. E abre espaço para que o cidadão comum reconheça (com base no apoio da esquerda eufórica) qualquer decisão absurda que venha a ser renovada pelos mesmos que inviabilizaram a candidatura de Lula (e as aberrações jurídico-processuais cometidas contra ele), que ora abrem espaço para ele mas deixando claro que têm o ‘poder e a força’ para inviabilizá-lo.


Em Pedro Serrano, à 247, a lucidez (da qual partilhamos em textos neste espaço não de agora) diz com todas as letras, sem pedir licença:


“Hoje, o Supremo representa o palco de uma luta entre o Estado de exceção e o Estado Democrático de Direito. É como um xadrez, e a cada hora tem um movimento que altera o tabuleiro.

O Fachin tem duas metas. A primeira, que é sua meta olímpica, é evitar a candidatura de Lula novamente, em 2022. A segunda finalidade dele, caso não consiga a primeira, é pelo menos salvar a narrativa da Lava Jato. Ou seja, não haver o reconhecimento do sistema de justiça de que o que houve com o ex-presidente foi uma fraude, e não um processo penal.

O discurso do juiz incompetente produz, para a direita, a possibilidade de ainda alcunhar Lula de corrupto. E a figura do corrupto é fundamental para desumanizá-lo. (grifamos).

Porque, na hora que Lula for “humanizado”, ele passa a ser identificado como um dos melhores governos que o país produziu, queira ou não.”

Trazemos registro nosso (“Confissões nada agostinianas...”) que coincide com o raciocínio de Pedro Serrano no capítulo desumanização:


Quarto impacto: abre-se a frente sucessória e as portas de combate a Lula. Parcela substancial da imprensa já começou a fazê-lo aproveitando-se da decisão para discuti-la sob o prisma de ‘favorecimento’ a Lula e manter  em fogo de brando a forte  no imaginário da  população a ideia de que Lula é ladrão e voltará a roubar se retornar ao poder. Isso porque, sob esse viés, afasta-se o escândalo dos processos (criminosamente viciados) que levaram a condenação de Lula, evita-se a punição dos criminosos e Lula, escapando por ‘artimanhas’ do sistema capitaneado pelo STF, não deixa de ser o criminoso que muitos acham ou aprenderam a achar. O clamor se aprofundará no pentecostalismo católico e evangélico diante do Apocalipse exibindo a Besta Fera.

Temos abordado o que representa o STF ainda que na atual composição no contexto político-partidário. Estranhará o leitor desavisado que uma corte que dirime conflitos (inclusive eleitorais) exercite função inteiramente alheia ao seu mister.

Mas, caro e paciente leitor, tudo a cada dia mais claro, mais escancarado. O voto do ministro indicado pelo inquilino do Alvorada no habeas corpus que interessava a Lula (e, naturalmente, ao inquilino que o indicou) demonstra à sorrelfa o que está ali fazendo.

Muito brevemente mais uma indicação que pode ser uma ‘terrivelmente evangélica’ (não por ser evangélica, mas em razão de quem a indicará) levará à desmoralização absoluta de uma casa que já abrigou figuras exemplares: Moreira Alves, Sepúlveda Pertence, Paulo Brossard, mais recentemente; Carlos Maximiliano, Eduardo Espínola, Evandro Lins e Silva, Nelson Hungria, Victor Nunes Leal, Aliomar Baleeiro mais remotamente.

Não dizem por aí que as eleições e seus resultados dirigidos estão nas mãos do STF. Não se iluda o caro e paciente leitor que confia neste escriba de província.

A propósito do que ‘não dizem por aí’ está Marcos Coimbra indagando por que o inquilino não se esborracha (veiculado no 247). Análise preciosa a sua. Mas deixou de abordar em torno da parcela que mata e morre por ele, que se embute, parte dela, naqueles 22% que o tem como bom e ótimo no enfrentamento da pandemia: o peso da alienação evangélica plantada no pentecostalismo católico e protestante que o tem como messias.

Arrumação à vista. Nenhuma dúvida há para este cronista de província: a arrumação está em andamento. Lula no centro das atenções, bola da vez no pebolim chamado STF. Caso se comprometa a respeitar os contratos (entrega do patrimônio pátrio até aqui ocorrida) encontrará apoio dos que muito ganharam com o golpe e a eleição do inquilino do Alvorada. Caso contrário e se negue a tal desiderato continuará comendo o pão que o Diabo amassou da imprensa enquanto a classe dominante sangrará o inquilino para garantir uma peça do sistema. Qualquer uma que respeite e mantenha os contratos.

O STF no comando político-partidário-eleitoral. Legitimou as arbitrariedades da lava jato, admitiu por oportunismo a prisão em 2ª instância, se omitiu diante do golpe contra Dilma, legitimou a prisão de Lula e o afastou do processo eleitoral. Agora tenta oportunizar Lula mas (recado dado) também pode inviabilizá-lo.

As cartas estão na mesa: STF de Fux pauta julgamento para primeira quinzena de abril vindouro para avaliação pelo Pleno da decisão que beneficiou Lula (disse na Bandnews o ministro Marco Aurélio que o plenário a reverteria sob placar de 6x5); Datafolha e os Frias manipulando pesquisa para manter no imaginário Lula como condenado por corrupção em processo justo por Moro/lava jato (a desumanização de que fala Serrano); mudança de voto de Fachin e Pleno do STF para embolar o meio de campo etc. etc.

Não esqueçamos Mark Twain, para evitar que alguma quantidade de evidência eufórica possa nos tornar um idiota/inocente útil.

Não esqueçamos no que se tornou o STF. Não esqueçamos que o mercado (que levou os dedos do governo Lula para que este não perdesse os anéis) afastou as políticas petistas quando lhe foi interessante e se hoje já o admite nada faz que não possa corresponder aos seus interesses. 

Não esqueçamos que o jogo é bruto. 

Euforias podem ter utilidade imediata, inclusive de ópio diante da realidade.

Dizemos isso porque não vemos no seio da sociedade a consciência do reconhecimento da importância das políticas de Estado postas em prática pelos governos petistas. E aí estão em meio a ela 22% achando BOM e ÓTIMO o comando de ações do inquilino do Alvorada no tratamento da pandemia que já levou mais de 300 mil brasileiros e pode elevar este número a assustadores 500 mil em menos de 60 dias, caso mantida a média diária (já alcançada em alguns instantes) superior a 3 mil mortes por Covid-19.

Perdidos em mar revolto caminhamos para tudo aceitar. Inclusive Lula submetido ao sistema. 

Ainda que seja ele o único capaz (como o fez quando governou) de perder os dedos para não perder os anéis. Os milagrosos anéis das políticas de governo petistas voltadas para os menos favorecidos.

Se o sistema o permitir, recomporá a credibilidade e o respeito do país.

Até outro golpe. 

“Com Supremo, com tudo”! Este STF pebolim com camisa político-partidária, manipulado por imprensa, mercado (indústria, agronegócio e sistema financeiro) e egos delirantes que tem por bola da vez um nordestino que incomoda a todos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário