domingo, 31 de outubro de 2021

Outubros

 

Insistimos no tema como alerta. Porque é imperioso superar a tragédia iminente. E à luz da história recente somente a ocupação do poder permitirá uma retomada dos propósitos sadios para com a nação e seu povo.

No entanto, muito mais que superá-la é construir de forma sólida a retomada das políticas públicas que nos façam, como sociedade, enfrentar com ações concretas e efetivas a causa de tudo. Carecemos de identificar de imediato o verdadeiro adversário, razão de tudo que nos acomete, para que não caminhemos céleres para viver uma vitória de Pirro.

Não podemos apenas concentrar a esperança através de um projeto que desvia a atenção da causa. Impõe-se reconhecê-la de logo. Para que o saiba a maioria do povo e se integre ao projeto como agente ativo, para que compreenda e não apenas aventure. E fazê-lo sob a égide da radicalidade se preciso. Não do enfrentamento físico, mas do chamamento a compreender a realidade que tudo ‘causa’.

“Fora” atinge um indivíduo (no caso concreto, pau mandado dos interesses espúrios em relação ao país); não vemos empenho e consciência em torno do ‘fora a causa de tudo’.

“A causa de tudo” estampa através do fantoche o descaso que levou o Brasil à insignificância no concerto das nações. Enquanto entrega o que resta do patrimônio público aprofunda a fome e a miséria, eleva aos píncaros (para garantia de lucros) o preço de combustíveis e do gás de cozinha; cria um ‘teto de gastos’ para que mais assegurada esteja a remuneração do capital especulativo que sustenta a poupança nacional, ápice da teoria da dependência.

E a passividade se torna lugar comum. Porque “fora” se concentra naquele fantoche e dilui/desvia a energia que deveria ser destinada à “causa”.

A dura realidade da fome volta a se materializar depois de um período em que políticas efetivas de distribuição de renda e geração de empregos fizeram o país ser reconhecido como fora do triste mapa. No imediato deste genocídio invisibilizado (pela morte lenta de quem a vivencia e pela omissão em reconhecê-la a grande imprensa) um programa de sucesso absoluto e reconhecido internacionalmente como exemplo acaba de ser levado ao túmulo.

As informações dão conta de que cerca de 22 milhões deixarão de participar do novo sistema trazido pelo governo.

Finou-se o Bolsa Família em plenitude e o novo programa não absorve os que por ele eram assistidos com o mínimo possível. Anuncia-se um outro com valor que não alcança o Bolsa Família corrigido pela inflação que nos assola e que existirá tão somente até o final de 2022. Ou seja, mata-se o jovem Bolsa Família antes dos vinte anos, que tornava a vida mais segura, e arrebanha-se parte dos sobreviventes até o final da eleição presidencial. Depois disso, nem Bolsa Família afirme-se que haverá.

A cada doze meses um outubro, a cada século cem; a cada milênio, mil. Teimoso como calendário.

A sub-raça do Nordeste de antanho antevista por Josué de Castro (1908-1974) vivenciando ali a geopolítica e a geografia da fome, poemada por João Cabral de Melo Neto (1920-1999) na compreensão de “um pouco por dia”, tende a ocupar o território brasileiro em dimensão apocalíptica.

O retardamento mental oriundo da ausência proteica parecia página virada. Não mais é.

Ainda que não mais seja a desnutrição o instrumento da apatia, mas a alienação pela informação, vivemos um singular outubro em 2021 prenunciando o de 2022. Hoje, as pesquisas o afirmam, um candidato estaria vitorioso – em primeiro ou segundo turno.

Neste outubro ‘véspera de Finados’ há esperança no outubro ‘véspera de Natal’.

Que o compreendam os desassistidos e o percebam quão distintos podem ser os outubros. E como podemos refazer a leitura de Duke.


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