José APRÍGIO de Souza, valentia de Corema, quarto zagueiro
do Botafogo de Ozias, desafio à sergipanada da Drogaria, parceiro de noitadas seresteiras
que Itororó de outros tempos sempre há de lembrar. Não só pelo seresteiro de
violão empunhado – que de vez em quando sumia (o violão) para Itacaré – mas
pelo raro em quem simbolizada em essência a existência do latino amicus.
Amigo de Nara Leão e Cacá Diegues, de Andreaza Filho. O
homem a quem deve a cumprida promessa brasileira de o Concorde pousar no Galeão
no dia aprazado.
Coisa que Itororó não sabe!
Pra que saber?
...
Porta da ‘Drogaria’ a meio-pau. Diálogo de manhã tradicional
em dia especial:
– É, ‘mestre’, tô aqui. Esperando ‘cumpadi’ Luciano para o
ensaio.
– Não fica melhor fazermos um duo?
– Tá demorando... e eu tenho pressa!
– Não vos agonieis, Aprígio!
O arpejo soa nos ouvidos – desembalando o duo, onde o escriba
lança a segunda temerária – com uma quinta inovadora, provocando os versos no embalo
da melodia:
– “Ando devagar,
porque já tive pressa...” (1)
– E aí, Mide, toca ou não toca?
– Só se ficar com a chave, porque eu tenho hora... – e completa:
– Tô fazendo concessão hoje...
– “E levo esse
sorriso, porque já chorei demais...”
– Só for o “sorriso do lagarto”...
– Cala a boca ‘bico de chaleira’, deixa o nariz cantar!
– “Hoje me sinto mais
forte, mais feliz, quem sabe...”
– “Só levo a certeza,
de que muito pouco sei, ou nada sei...”
A manhã ensaia, perdida, entre esvoaçar-se em luzes ou
quedar-se plúmbea, para louvar o parceiro que a cantou em instantes vários,
findada a noite.
“Conhecer
as manhas, e as manhãs...”
– “O sabor das massas,
e das maçãs...”
O tinir dos copos na Drogaria se faz arrastado, lento,
gregoriano. Entoa por entoar, pede descanso, rede.
– “É preciso amor pra
poder pulsar...”
– “É preciso paz pra
poder sorrir...”
– “É preciso a chuva
para florir...”
Chuva não faltou nestes dias. Regou a terra, fez orgulhar as
sementes fagueiras na ousadia de brotar, fez estampar sorrisos.
– “Penso que cumprir a
vida seja simplesmente...”
– “Compreender a
marcha e ir tocando em frente...”
– “Como velho boiadeiro
levando a boiada...”
– “Eu vou tocando os
dias, pela longa estrada eu vou, estrada eu sou...”
O caminhar caminha no verso do conterrâneo Suassuna:
“cumpriu sua sentença...” (2)
É, velho Aprígio – paraibano aportado no sertão da jacobina
baiana nos limites de São José, pertinho ali de Monte Alegre, onde descobriu
comer bem na feira-livre, com sobremesa de rapadura, doce de araçá ou de
marmelo na palha de banana, destrambelhado por estes lados de Itapuhy,
descoberta Itororó – estamos no estrofe do teu canto-marca.
“Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz”
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz”
Estamos aqui mestre, em busca...
– “Morena, bela, do
Rio Vermelho...” (3)
– Ora, Aprígio, essa foi a que você cantou pra Rai, lá
no final dos anos 60!
– “Adeus, Bahia...” (4)
_______
(1) Tocando em Frente (Almir Sater-Renato Teixeira)
(2) Verso de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna
(3) Morena do Rio Vermelho (Oswaldo Fahel)
(4) Adeus do Baiano (Oswaldo Fahel)
(1) Tocando em Frente (Almir Sater-Renato Teixeira)
(2) Verso de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna
(3) Morena do Rio Vermelho (Oswaldo Fahel)
(4) Adeus do Baiano (Oswaldo Fahel)
Nenhum comentário:
Postar um comentário