Lembra
Percival Maricato AQUI que “Os jornais noticiam
agora que atropelaram normas brasileiras e tratado internacional, ao pedirem,
receberem e usarem documentos de nação estrangeira (Suíça), para servirem como
provas contra um dos acusados. Os trâmites deveriam passar pelo Executivo (Ministério
da Justiça).
Juiz e
colhedor de depoimento (uma outra jabuticaba brasileira, que consiste em reunir
investigador e julgador em uma só pessoa) manipula-o ao alvitre de seus
interesses inquisitoriais (de Inquisição, mesmo) para negar o exercício da
ampla defesa ao acusado preso. A circunstância da prisão agrava a negativa do
exercício da defesa ampla. O que ocorreu com Marcelo Odebrecht, envolvido em transcrição manipulada, onde o não dito passou a ser o dito.
O(s) dito(s) fazem uma referência velada aos procuradores da Lava Jato e ao juiz Sérgio Moro. O que simplesmente nos leva a aprender que dessa troupe (que adora um espetáculo) nada mais se duvida.
Caso
estivéssemos no curso da ditadura militar – ou em tempos mais pretéritos, no
DIP e seu braço armado por Filinto Müller – estaríamos estarrecidos todos os que tomaram conhecimento
do(s) fato(s).
Não basta os acima revelados, um escândalo em si. Mas aquel’outro denunciado pelo
deputado federal Paulo Pimenta – presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara de Deputados – de que uma mulher está submetida a maus tratos na Polícia
Federal, em Brasília, porque o marido, chantageado por um delegado da PF, não correspondeu à tentativa de que se tornasse delator.
Como
publicado, “O advogado do casal, Roberto
Podval, disse ao Estado que, no encontro, o policial 'chantageou' seu cliente
para que fizesse acordo de delação premiada. Conforme o defensor, a colaboração
foi proposta como uma forma de Mauro Marcondes evitar a transferência de
Cristina para uma unidade prisional".
A
proposta/chantagem ocorreu no dia 11 de janeiro e como o marido parece não tê-la aceitado a mulher foi transferida de sua casa, em São Paulo (onde cumpria
prisão domiciliar) para Brasília, no dia 18, mesmo em cadeira de rodas, ainda
que sem meios de mobilidade em razão de cirurgia nas pernas.
A
mulher, em razão de seu estado, e por lhe faltar a assistência de que carece,
anda se urinando e se merdando por não ter condições de fazer suas necessidades
fisiológicas no ‘boi’ (como denominado o aparelho sanitário que consiste num buraco no
chão).
A
denúncia dos maus tratos chegou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara e seu
titular – para resumir – simplesmente foi impedido de verificar as condições a
que estava submetida a prisioneira. Veja seu périplo em PF mantém presa em
condições precárias para forçar delação premiada do marido, detalhado em relato de Conceição Lemos para o Viomundo.
O
que assusta é que tudo que está a ocorrer – no plano de aberrações – vai se
tornando lugar comum. Coisa normal. Afinal, tudo se justifica quando se combate
a corrupção: de violações ao direito (direto) do acusado à inviabilização de empresas, violando (indiretamente) o direito do trabalhador ao emprego.
Temos
encontrado – a cada dia mais comum – pessoas que sustentam posições para as quais
não leram uma mísera vírgula. No entanto, a afirmativa que fazem em defesa de
suas ‘posições’ reside na mensagem que lhe foi transmitida em massa repetida
por meios de comunicação.
Talvez
devêssemos nos libertar – buscando e lutando pelo ‘como’ – para fugirmos à dura
sentença/afirmação de Gadamer, trazida a lume na abertura do texto do jurista Alexandre
Morais da Rosa, publicado no Empório do Direito:
“Faz muito tempo que nem tudo aquilo que
acompanhamos com a consciência de nossa liberdade é realmente consequência de
uma decisão livre. Fatores inconscientes, compulsões e interesses não dirigem
apenas nosso comportamento, mas também determinam nossa consciência.”
Sob
o viés isntaurado na terra brasilis, os fins estão a justificar os meios. Assim, para combater a corrupção tudo
vale. Ainda que violando as regras que norteiam o Estado de Direito,
como instrumento de assegurar garantias e direitos individuais insculpidos na
Constituição.
Ou, talvez, o tenhamos
de sobra. Ao inverso. Pelo menos sob a ótica de alguns que se tornaram compulsivos determinadores
de nossas consciências. Ainda que para
destruir nosso Estado Democrático de Direito.
Criando esta outra nossa consciência: a de compreender a existência de um jogo de futebol sem bola.
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