domingo, 1 de janeiro de 2017

O por vir

Por vir
Em tempo de clássico positivismo a nação tinha pela frente inquestionável e grandioso porvir. Cantado e decantado em hino e poesia. Na esperança da pátria grande a grandeza de seus filhos, amantes dela inveterados. Desfiles, bandeiras desfraldadas e hasteadas elevavam o nome do país e inflava o peito de sua gente.

O porvir era cantado nas escolas, desfolhado em leituras. Fazia de todos parte de uma glória por vir, da qual adubo para o solo regado por esperanças de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Do Oiapoque ao Chuí de logo traduzido no que representava a grandiosidade territorial de uma nação de povo eleito para celeiro do mundo, evangelho de paz e catecismo do que viria para as futuras gerações.

Varado o terceiro milênio ensaiou maioridade. Não precisou de duas décadas para voltar ao que sonharam seus exploradores colonialistas.

Não mais porvir – dirá o poeta – mas um por vir dentro de um túnel sem luz e sem fim.

2017, antevéspera do novo golpe
Ao que parecem demonstrar certo colunismo político da imprensa amestrado/golpista estamos na fase das favas contadas. Contados os dias para o interino tornado presidente. Já redigimos neste espaço nossas angústias a se confirmarem com a não eleição em 2018 nos moldes constitucionalmente reconhecidos.

A continuidade de Lula como nome elegível em 2018 – impossibilidade de a antiga oposição golpista manter-se no poder, ora usurpado – levará à supressão do processo eleitoral vigente. 

Simplesmente com a implantação do parlamentarismo a partir de 2019.

Outra saída
2017 tem início com sinais de aprofundamento da crise institucional. A eleição de Lula – altamente viável a teor das pesquisas – é o sinal de alerta para os que defendem os interesses materializados no golpe que afastou a presidente Dilma Rousseff.

Houvesse certeza de eleição de algum dos atuais situacionistas risco não haveria de o barco ser mais entornado. No entanto, a manutenção da entrega do país justifica qualquer violação a mais.

Assim, duvidar não se deve de a eleição indireta – com o afastamento de Temer – coroar FHC ou quejandos com um mandato a ser prorrogado.

A legitimação da ditadura. Com apoio do Congresso e do Poder Judiciário (leia-se, STF).

Tempo escasso
Sebastião Nery revela em seu Folclore Político 1, a manifestação vaidosa de Gilberto Amado (que em Valparaíso, praia chilena do Oceano Pacífico, se percebia um infinito diante do outro “infinito”) em diálogo com Josué Montello lhe disse que não tinha (o Josué) assunto para conversa de duas horas com ele, e que ele  não teria paciência de igual tempo para com o autor de Cais da Sagração.

O tempo entre quem conversa varia conforme a condição de cada um dispor de temas, informações, dialetizações que possam ser compreendidas pelo outro ou tenha este argumentações e contrapontos intelectuais para ocupar o do adverso.

O Brasil está sem assunto para conversar. Não lhe dão nem cinco minutos. 

Ainda que gigante. 

Castraram-no tanto que mofa no canto do porão planetário, programadamente esquecido.

Ano velho
2017 surge como um ano findo. Vem com o gosto de comida estragada. Chega finado. Há tempos não se via um estado de descrença, de desesperança, de falta de perspectiva como no limiar deste ano, que somente faz sentido pela existência do calendário. Já nasce morto.

Que contrarie esta pessimista afirmação. Como absurdo otimista. 

Definitivamente acabou
Até Ronaldo Caiado, senador por Goiás, líder da União Democrática Ruralista (a Ku-Klus-Klan do campo brasileiro), porta bandeira do arrocho (e do golpe) grita por eleições já.

Vinculado ao DEM (que já foi Arena, PDS, PFL), expressão máxima do udenismo.

A manifestação de Ronaldo Caiado deixa claro que o governo do interino tornado permanente acabou. 

Respirará por aparelhos, até consumar o que se propôs.

O amor é lindo!
Na ausência de administração, de seriedade, de caráter, etc., etc., etc., estamos partindo para uma outra etapa da galhofa: transferir para uma mulher bonita a solução de problemas que não são dela. Tampouco por ela causados.

Coisas da Veja!

Devagar e sempre
A firmeza do 0,1% vai assegurando o sucesso da política de emprego do interino tornado permanente. Não o devagar e sempre da paciência em busca do progresso. Mas da persistente atuação governamental em defesa do desemprego. Que já bate os 12% em números oficiais... como no final do governo FHC.

Boia
A indagação em qualquer esquina ou boteco gira em torno do porquê sustentam o interino tornado presidente. 

Nada lhe é favorável. Nega tudo a que prometeram por ele. Ministeriado por parcela considerável da grande quadrilha nacional já nasceu desmoralizado e se desmoraliza ainda mais a cada ‘ministro’ afastado. O Palácio do Planalto tornou-se o covil da matilha (salve-se os lobos reais!).

Por que permanece? A melhor resposta é a pergunta: por que chegou lá.

Vista sua interinidade a partir do proposto fácil fica para que serve e a quem serve.

Ao povo se afogando nada mais que uma bigorna de 55 quilos como boia.

'Hoje é sexta-feira!'
Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, pode alimentar a solução para prender Lula. Como não encontraram nada até agora que comprove ilícito cometido pelo ex-presidente, diante do tempo perdido, podem ter encontrado a solução/prova: cerveja.

Lula – vejam o absurdo! – teria sido instado a elogiar a cerveja Itaipava.

Fez justiça
Respeitar quem não está formalmente acusado é respeito à cidadania. Aécio Neves – em que pese irrefutáveis as provas contra sua imaculada pessoa – prestou declarações a Polícia Federal em Brasília. Ninguém saberia se não fosse a imparcial postura da revista Época.

Não entendemos – diante de circunstâncias idênticas – que o ex-presidente Lula tenha sido sequestrado, naquele 4 de março.

O leitor entende...

Compatibilidade
Um palácio de governo tem uma representação simbólica significativa. Ali está o poder nacional, de onde emergem as decisões para beneficiar sua gente, amparado nela para administrar em seu proveito (dela).

Imaginar uma crítica ao próprio palácio, lavado por urina humana e animal, pode demonstrar – mais que a licença humorística do autor – o nível de degradação por que passam as instituições. STF rodeado de urubus, Legislativo apinhado de ratazanas, Executivo mijado por Papai Noel e suas renas.

Simbolicamente lavado com o único saponáceo líquido compatível.

Dois tempos
Pessoa que integra a equipe de servidores do Palácio da Alvorada revelou a um amigo que ficou impressionada com o que viu no primeiro dia depois da posse Lula, em 2003: procurou por D. Marisa e não a encontrou. Havia saído com o motorista para fazer compras em uma feira livre. Pretendia – como serviu – fazer uma feijoada para Lula. Recebeu a lição de que tudo que desejasse lhe(s) seria servido. E a admiração da funcionária, encantada com a simplicidade do casal.

Maria Antonieta, rainha de França de Luís XVI, teria dito – diante da falta de pão para o povo – que o populacho comesse brioche. 

A turma não esqueceu e quatro anos depois lhe tirou a cabeça do pescoço em 1793.

Para entender 2016
Basta relembrar das declarações de Sérgio Machado, na conversa com Romero Jucá ainda em março de 2016. Está tudo ali. O melhor registro histórico dos fatos que levaram ao afastamento da presidente Dilma Rousseff.

"Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel"
"Estancar a sangria"
"O primeiro a ser comido vai ser o Aécio"
"Quem não conhece o esquema do Aécio"
"Fui do PSDB 10 anos, não sobra ninguém"
"Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições sem ela. Enquanto ela estiver lá essa porra não vai parar nunca"
"Michel é Eduardo Cunha"
"Só Renan esta contra essa porra.'porque não gosta do Michel, porque Michel é Eduardo Cunha'. Gente esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra. "
"É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional. Com o Supremo, com tudo. Aí parava tudo."

Villa-Lobos, por Ana Vidovic
Estudo n. 1, para violão.

                       

Um comentário:

  1. Professor Adylson, a leitura deste blog é uma oportunidade ímpar de ser instigado à reflexão, diante de um discurso que foge ao lugar-comum, e com uma notável coerência. Por favor, continue a nos brindar com vossos questionamentos e pontos de vista. Compartilho do tímido otimismo sobre 2017. Um abraço!

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