domingo, 20 de maio de 2018

A CIA e a bandeira vermelha


O mote para violar direitos e conquistas democráticas exige chavões. Cada instante com o seu: o comunismo já foi de plenitude nesta América Latina no curso da ‘guerra fria’; ao lado da ideologia, a corrupção. Aquele, traduzido na bandeira vermelha.

No imediato anterior de 1964, vésperas do golpe civil/militar, lá estava a defesa dos ‘valores cristãos’ contra o comunismo ateu, a luta para não transformar nossa bandeira verde-amarelo em vermelha. A turma espumava. Como espumou, no mesmo mané luís, para derrubar Dilma Rousseff. Aliás, derrubar para essa gente é a palavra de ordem.

Por trás de um projeto de controle sobre a riqueza nacional põe-se a questão ideológica e a moral como prato à mesa, servidas com todos os condimentos possíveis. Monta-se a indústria da construção da mítica de que algo grandioso estava em andamento, estruturado e a um passo de dominar o país caso alguém não o salvasse. E aos filhos, vítimas de atrocidades que adviriam, o risco iminente de mortes, defloramentos, arranque de unhas, de línguas, etc. etc. Quando a sacrossanta investigação da Inquisição se torna o instrumento de atrocidades.

Na Escola das Américas, no Panamá, militares brasileiros que integravam a Escola Superior de Guerra fizeram curso para combate ao comunismo. O juiz Sérgio Moro foi bolsista, em 2007, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, no "Internacional Visitor Leadership Program”, programa que se dedica à iniciação de líderes estrangeiros sobre cultura, diplomacia e interesses geopolíticos dos EUA. Leia-se: como líderes, aqueles que estão a seu serviço ou podem servi-lo.

Por essas e outras, a pulga atrás da orelha nos buzina novamente um chavão. É que diante da dificuldade de a classe dominante, que teme a bandeira vermelha, vencer as eleições – sua derrota põe em risco o projeto de 1964, reeditado em 2016 – bem pode ser materializada outra prática: acabar com as eleições.

A CIA – que não é paradigma de seriedade para ninguém quando o assunto é soberania alheia – e o Departamento de Estado Americano observam. Daqui a anos revelarão o que todos sabiam e ninguém dizia.

Ah! Para não deixar de enxergar atrás das paredes: a divulgação das informações da CIA somente agora (Rubens Valente, na Folha, aqui através do Conversa Afiada), quando disponíveis há três anos – caso ourice setores vários – à esquerda e à direita – pode cair como luva para o adiamento das eleições. 

Com a efetiva participação de militares. Que teriam o álibi de preservar seus nomes históricos atingidos pela informação de que comandavam grupos de repressão e deram ordens para assassinato de lideranças, através de execuções sumárias, o que levanta a retomada das suspeitas sobre as mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e mesmo Carlos Lacerda, sob auspícios da Operação Condor.

Tudo como antes. Sem precisar projetar a explosão do gasômetro do Rio de Janeiro e matar 100 mil pessoas, como o planejou o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, em 1968. Tragédia que não se consumou graças à iniciativa do capitão Sérgio Miranda de Carvalho, o “Sérgio Macaco”, que liderou companheiros na recusa em consumar a pretensão.

Sobre o álibi, possível de ser manipulado, basta perceber o barril de pólvora contido na reação de um neto do general Golbery do Couto e Silva, ainda que desconheça, certamente, o que representou o avô para a história do entreguismo pátrio, muito bem dissecado por Luiz Cláudio Cunha no Observatórioda Imprensa.

Mas, não imaginemos que as fake news são coisa nova. Tampouco nossas. Úteis por demais.

A propósito, para finalizar: um município de São Paulo compra um ovo (uma unidade) por R$ 12,15, como denuncia o Balaio do Kotscho. E desconhecemos o sistema capitaneado pela Globo clamando contra este crime hediondo. Muito menos bater de panelas e protestos contra a corrupção. Entenda a razão por que da CIA e quejandos atuando.

Afinal, com Escola das Américas ou não, com bolsistas no Internacional Visitor Leadership Program” ou não, sempre há um tempo para que “sejam educados” a admitir e aplaudir o pensamento hegemônico em torno do que pretendam, como escreveu Vernon Walters, mentor de sublevação de então. 

Como sempre fizeram os EUA. Contando com expressões do valoroso exército local. Atualmente até com figuras do Poder Judiciário e do Ministério Público.

Considerando que a análise do passado sempre será lição para o futuro, especialmente quando se trata de jogo onde interesses estadunidenses na disputa geopolítica, não será exagero se a história se repetir. Porque, não duvide o leitor, tudo está sendo preparado para que tal ocorra.

Especialmente quando um anunciado candidato a presidente da república declara que a “Amazônia não é nossa” (do Brasil) e de que pretende copiar da legislação estadunidense o que entende bom para o país, como noticiado pelo espanhol El País.

Imaginar que golpes são dados para acabar logo ali beira a insanidade. O de 1964 durou mais de duas décadas; o de 2016 está programado para igual tempo.

Pessimismo nosso, dirá algum leitor. Esperamos estar errado. Mas tudo caminha para isso. Até nas faixas e palavras de ordem. Ainda que tenhamos informações e análises no imediato dos acontecimentos, como sinaliza Carlos Coimbra.

Não custa lampedusamente ler com o passado: tudo como dantes no quartel de Abrantes.

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