Deixando
de lado o Eclesiastes
Há tempo
de plantar, há tempo de regar, há tempo de colher. Acrescemos: há tempo de ler
e há tempo de escrever.
Aos que
escrevem uma verdade: carecendo de leitores/consumidores para seus escritos cabe à
realidade ditar o gênero em cada época.
Assim se
nos afigura a caminho um novo gênero literário: o de manuais.
No qual
proliferarão os manuais de sobrevivência.
Porque
em tempos de estio cada estiagem pede um estilo de escrita. E do Eclesiastes se
aproveita a temporada que se aproxima, porque em tempo de murici cada um cuide
de si.
Este escriba já tem preparado o seu manualzinho de sobrevivência.
Em
tempos de pensar pequeno
Atribuída
a Lula a expressão de que o convite de Bolsonaro a Moro confirma a trama que o
levou à prisão e, consequentemente, à sua inelegibilidade.
Ainda
que flagrante a realidade expressa há engano de compreensão do ex-presidente em
duas vertentes:
1. Imaginar
que Moro tramou para Bolsonaro, quando Bolsonaro entrou na trama, como
beneficiário, assim como Pilatos no Credo, já que o projeto visava o PSDB, de
quem Moro já foi filiado, assim como familiares.
2. Por
outro lado, imaginar Sérgio Moro capaz de planejar tudo isso, quando apenas
executou ordens, é maximizar uma inteligência que não existe.
Ou pensar pequeno.
Moro, a
um passo do STF
O
primeiro passo foi dado: convite do presidente eleito para Sérgio Moro assumir
o Ministério da Justiça. Daí para Ministro do Supremo Tribunal Federal é só
aguardar a vaga.
Caso o
magistrado não aceitasse o convite o presidente lhe ficaria devendo o outro
convite: para ministro do STF.
Como o
STF tem se tornado mais uma casa de políticos que de juízes Moro se torna o par
perfeito.
Afinal,
respeito às leis e à Constituição Federal e notório saber jurídico passaram a
ser complemento.
Melhor ser
amigo do rei.
Assim,
de Dias Tóffoli a Moro, passando por Alexandre de Moraes, nada a comentar.
Óbvio
ululante
Há quem
se espante com o affair Bolsonaro x Moro x Ministério da Justiça e dele extraia
ilações várias.
Caso
alguém nunca tenha percebido que toda a atuação de Moro (como cabeça de ponte,
secundado por TRF-4, STF e TSE) em relação a Lula se efetivava em nível de uma
pauta político-partidário-eleitoral cabe aplaudir pela inocência.
Nelson
Rodrigues melhor resumiria: o óbvio ululante.
A lógica
I
Teremos
a inteira falta de lógica para a lógica. O que explica a lógica do sistema,
caracterizada por reunir cacos para mantê-lo. Naquela de Lampedusa: mudar para
deixar com está.
Esta a
que sustentou todo o processo de redemocratização (?) que já nasceu se
arrumando com a ditadura finda.
No
varejo, muda-se a linha de políticas públicas de governo, apenas, para fazer
valer a visão de Política de Estado deste ou daquele governante. Visível com
Collor, FHC e Lula/PT.
O que as difere é a efetividade em relação aos
destinatários dessas políticas: para os primeiros, o mercado; para os segundos, os mais carentes.
Um apelo,
ampliado em milhões de decibéis, pôs a caserna no poder em 2018, porque fizeram
massificar o povo para entender que somente um governo forte – alguns
defenderam, e ainda defendem, até mesma uma ditadura – poderá conter mazelas
históricas como violência, corrupção etc.
A lógica
II
Na
esteira dos acontecimentos e interpretações da realidade presente a declaração
do Ministro Luiz Fux, do STF – de que a escolha de Moro para Ministro da
Justiça seria a escolha da própria sociedade brasileira “se fosse consultada” –
encontrou resistências.
Resistir ou repudiar o que venha de Fux tornou-se natural, e dúvida não pode haver
diante do que hoje representa Sua Excelência no plano da indignidade.
Mas sua
afirmação de que a sociedade escolheria Moro somente erra ao ofertar caráter
generalizado, de unanimidade, onde não ocorre.
Afinal, a mesma
(in)consciência que escolheu Bolsonaro escolheria Moro.
Telhado
de vidro
A Folha
de São Paulo acaba de ser declarada inimiga nº 1 do presidente eleito. O autodeclarado
defensor da ditadura e da tortura estraga a declaração pública de inimizade, mais
remetendo-a às calendas da ingratidão.
Afinal, foi a Folha de São Paulo tão
íntima da ditadura (para ela “ditabranda”) que até mesmo seus veículos emprestava
para conduzir os sequestrados que iam para o calabouço.
Bolsonaro
x Folha: a coisa fica assim mais para incompatibilidade de gênio, uma vez que
são – no plano das ideias e das ações, cada um em sua vertente – flor de uma
mesma cepa.
Primeiros
sinais
Nada de
novo no front. A palavra front lembra guerra, batalha. Os tempos presentes
tornaram-se guerra de permanentes batalhas.
Mal
eleito, Jair Bolsonaro aliviou o discurso, o que nada representa para este
escriba. Também o faz Rosa Weber, do STF, e permanece a mesma quando chamada à
responsabilidade.
Ninguém
imagine que Bolsonaro não sabe o que quer. Sabe-o muito bem. Pode não ser o seu
gosto afinado com os interesses pátrios, mas não foi para a defesa destes que
recebeu os apoios que recebeu.
Os
sinais estão aí. Preocupantes para muitos.
Mas,
para quem escreve estas mal traçadas, um sinal singular a demonstrar o que
Bolsonaro quer ficou constatado em razão do primeiro órgão de TV a quem concedeu
entrevista.
Analisando
os últimos presidentes eleitos, a partir de Lula: este, de imediato foi ao Bom
Dia Brasil, em vez de convocar uma coletiva. Dilma Roussef quedou-se em fritar
ovo no programa de Ana Maria Braga. Bolsonaro, no entanto, concedeu entrevista
à Rede Record.
Tem mais
alguém preocupado.
E não
somos nós.
Antitudo
Há quem
afirme ser a parte da análise o todo. Ou seja, o antipetismo seria a razão da
eleição de Bolsonaro.
Mano
Brown foi vaiado quando criticou a postura do PT em relação às bases enquanto
exercendo o poder. Falava a verdade. Porque a derrota petista muito mais se
ampara na descrença de parcela do ‘seu’ eleitorado.
Eleitorado que não aprendeu
– porque não ensinado – o que se lhe afigurava de melhor.
Claro, não há como
negar, que uma campanha sórdida foi encetada contra o partido. Mas, tal
campanha não passa de ocupação de espaços midiáticos, que o PT não soube
ocupar.
Alguns
exemplos são singulares: Lula, em sua primeira entrevista como presidente concedeu-a
a Globo; Dilma, assim que eleita, fritou ovo no programa de Ana Maria
Braga.
Ou seja, o PT confiou na Globo e mesmo a alimentou com fartos recursos (em
torno de 7 bilhões de verbas publicitárias no período) quando poderia – e
deveria – ter fortalecido a TV pública, tornando-a acessível a todos, fazer
dela uma concorrente da Globo no plano da informação.
Ao não fazê-lo tornou-a – para não dizer fortaleceu-a – o canal oficial do país, autorizada tacitamente a fazer o que bem entendesse em defesa de 'seus' interesses.
A ponto de ser porta-voz do antitudo.
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