Aluguel social
Aos que
estão acostumados com aquele maluco da esquina que atira pedras nos passantes,
forçando-os a se abaixarem para não se ferirem, também se agacharão quando ele
lhes jogar uma pluma. O gesto, o movimento do arremesso define por si, inserido
que está no inconsciente. A reação é instintiva.
Sob esse
viés vemos, no imediato, a fala do hóspede do Palácio da Alvorada.
Sem nenhum
projeto, sem nenhuma proposta racional já se tornou reconhecido e identificado
como atirador de ‘pedras’, o que se materializa nas ameaças e loucuras várias e
gestos nada recomendáveis a quem exerce a mais alta magistratura da nação.
Tudo
estamos a dizer porque andou falando em ‘aluguel social’, o que, de imediato,
nos cheirou a mais uma pedrada. Inclusive houve quem nela embarcasse, criticando-a, sem analisar a profundidade nela contida, caso aplicada em consonância com a sanidade.
Não
deixa de ter razão quem assim pensar.
Certamente
o dito cujo nem sabe quem foi o arquiteto e urbanista Affonso Eduardo Reidy,
tampouco o que representa uma coisa chamada Projeto do Pedregulho, no Rio de
Janeiro.
Destinado
a atender a demanda de moradias pelos funcionários públicos do estado continha
o princípio que norteava a arquitetura de Reidy: Habitar não se resume à vida no interior de uma casa.
Assim, no
Conjunto Habitacional do Pedregulho, nos idos de 1947, o conjunto da obra
correspondia ao pensamento do arquiteto que o planejou e executou. Praças,
aproveitamento do espaço respeitando a natureza, igreja, escolas, parques, reserva, teatro, construções
em consonância com o ambiente etc.
Não havia aquisição do imóvel, mas a utilização remunerada.
As
ideias de Reidy, Niemayer, Lúcio Costa, Burle Marx e outros estavam inseridas
na concepção humanística para uma reforma urbana (uma daquelas anunciadas
futuramente por João Goulart no bojo das ‘reformas de base’) compatível com a
realidade do homem e não do mercado imobiliário, razão por que por este sempre
foi combatida.
Tanto
que, para enfrentar o ideário daquela gente, no imediato do golpe de 1964, houve
por bem o governo de desenvolver a ideia da moradia própria como única forma de
alimentar a autoestima para o morador: ser proprietário importava mais que
morar bem.
Para corresponder ao 'sonho' foi criado o Sistema Nacional de Habitação e o famoso
estilo dos conjuntos financiados pelo denominado sistema BNH, um punhado de
cortiços ofertados como se fossem versões do Palácio de Versalhes.
Para
quem precisa de um teto três caminhos respondem ao anseio: aquisição, aluguel
ou comodato.
O tema
apresenta complexidade em dimensão de análise, mas, de imediato, aqui nos
colocamos diante do anúncio de substituição de faixas de financiamento de
imóveis pelo Minha Casa, Minha Vida por ‘aluguel social’. Ou seja, em vez de
financiar a aquisição o governo construiria para alugar.
Os desdobramentos
embutidos – justamente por falta de estudos, pelo menos não apresentados –
podem tornar temerária a pretensão, inclusive pelo uso político-partidário.
Mas, a ideia não é ruim. Bem aplicada é excelente, desde que os investimentos
do Governo federal sejam efetivados (e dúvida fica à conta de ser anunciado por
quem anda economizando em educação etc. etc.) venha a dispô-los para a
construção, não fora a garantia para o locatário de efetivamente pagar um
aluguel compatível com suas condições financeiras.
Ariano
Suassuna dizia-se encantado pelo doido em razão de sua ‘lucidez’.
Pelo
menos ocorre neles, aqui e ali, um lampejo de lucidez.
O risco
é quando voltam ao ‘normal’.
Voltando ao 'normal'
Mal
iniciada a administração o administrador convoca a sociedade para uma passeata
de apoio.
Não fora
a singularidade de pedir apoio para projeto nenhum em andamento fica uma outra
singularidade: o número de apoiadores que acorreu ao convite.
Também cheira a coisa daquela gente 'lúcida' de fala Suassuna.
E a caixão e vela para a imagem 'gestora'.
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