Certeza temos de que o país seria melhor aquinhoado de
sementes da Felicidade caso não se fizesse permanente palco de disputa entre
dominantes e dominados. Os primeiros ampliando território e avançando,
insaciáveis, sobre o que resta do alheio.
Como credo, melhor seria que uma consciência de
respeito ao semelhante fosse posta em prática como corolário de Civilização. O
desprendimento para com parte da riqueza acumulada, destinando-a também aos que
contribuíram para a acumulação como força na produção.
Que a acumulação pudesse ser compreendida nos limites
da busca individual por tranquilidade e segurança materiais, nunca como
instrumento de controle e de mais aprofundar a apropriação aos menos
aquinhoados reduzindo-os aos limites da miserabilidade como futuro.
Que os instrumentos do Estado não se fizessem baraço
e cutelo para privilegiar uma minoria cada vez mais concentrada e escassa aritmeticamente.
Minoria ideologicamente amparada na ideia de que o
indivíduo – concentrando riqueza – supera o coletivo, de que o poder material
traz aos pés todos aqueles que não o detenham porque, acima de tudo, fui agraciado com bênçãos e traduzo méritos apenas por mim alcançados.
Este culto da humilhação do outro que não dispõe dos
meios para atender às necessidades básicas alimenta um mundo bizarro onde o
Homem – destinatário da Felicidade – se torna unidade estatística para
corresponder aos interesses de uma minoria cada vez menor e mais ávida.
A manipulação a seu favor dos variados fenômenos
sociais e da ideia de que o seu grupo a tudo controlando superará quaisquer
dificuldades leva a promover a exclusão do outro como instrumento de inclusão aos
seus interesses. O outro estará incluído se estiver a ‘meu’ serviço, se
depender do que detenho retirado dele.
Longe do ideário materializa-se na conformação da
hegemonia como instrumento de eternização do poder como controle absoluto.
A diferença – pela exclusão – assegura o poder.
Se o outro come iguala-se a mim e, assim, não tenho
como submetê-lo.
E dialogar não é o forte da hegemonia que exerço e defendo com
unhas e dentes, e sim a imposição.
Aquele que pretenda exercitar políticas de governo
para reduzir desigualdades não há de ser reconhecido pelos benefícios que tenha
promovido.
E passo a exigir que sejam reconhecidos os erros: dos
outros. Como autocrítica.
Os erros, sim, serão declamados e multiplicados como
negação da ação governamental posta em prática.
Sublime-se no erro humano o
conteúdo e a essência da boa prática.
Reconhecer o erro por sonhar com um mundo melhor, de
colocar em prática as Políticas de Estado a serviço dos excluídos, que devem
ser tratados sob a ótica da desigualdade.
A autocrítica como ideologia impõe-se, então, para alimentar
a hegemonia que detenho.
Para que permaneçam os frutos desta singular
supremacia. Em que me visto de hipocrisia.
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