O pensador, filósofo, psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm
(1900-1980) em “A presente condição humana”, abre este ensaio, inserido em O
Dogma de Cristo (Zahar Editores, tradução de Valtensir Dutra, 4ª ed. 1974, p.
80), escrevendo o seguinte:
“Quando o mundo medieval foi
destruído, o homem ocidental parecia aproximar-se da realização final de seus
ardentes sonhos e visões. Libertara-se da autoridade de uma Igreja totalitária,
do peso do pensamento tradicional, das limitações geográficas de nosso mundo
então apenas meio descoberto. Criou uma nova ciência que levou, finalmente, à
libertação de forças produtivas até então desconhecidas e à completa
transformação do mundo material. Criou sistemas políticos que pareciam garantir
o desenvolvimento livre e produtivo do indivíduo, reduziu as horas de trabalho
em proporções tais que o homem ocidental pode gozar horas de lazer com que seus
antepassados nem sonhavam.
Apesar disso, onde nos encontramos hoje?”
Registre-se que a obra referida foi publicada em 1963. Deste idealista
a tese do humanismo normativo, pelo qual o homem tornar-se-ia apático ao se
distanciar e abdicar das faculdades humanas vinculadas à razão, o que ocorre
quando as condições humano-sociais são contrárias à sua natureza humana.
O nível a que chegamos ultrapassa o surrealismo. Há quem afirme que – em nível de Civilização – estamos regredindo.
Certamente o que ocorre em nível global muito se acentua nesta terra brasilis. Figuras inexpressivas, incapazes de manter conversa em botequim (sem agredir o botequim) passaram a ser referidos na imprensa – com destaque inusitado – como figuras extraordinárias, questionadas tão somente por sua forma de pensar quando, quando na realidade caberia indagar se integram a espécie homo sapiens, porque certamente não alcançaram ainda o sapiens sapiens.
Certamente o que ocorre em nível global muito se acentua nesta terra brasilis. Figuras inexpressivas, incapazes de manter conversa em botequim (sem agredir o botequim) passaram a ser referidos na imprensa – com destaque inusitado – como figuras extraordinárias, questionadas tão somente por sua forma de pensar quando, quando na realidade caberia indagar se integram a espécie homo sapiens, porque certamente não alcançaram ainda o sapiens sapiens.
Ministro da Tecnologia, atendendo a pedidos, publica o revolucionário “a
terra é redonda, sim”. Ele que andou pelo espaço durante 10 dias e o sabe de
cátedra. É o nível intelectual no comando: explicar o óbvio, quando não o
destroem.
Na esteira da luta contra a Corrupção foram gastos, em auditoria, cerca
R$ 17,5 milhões do BNDES para afirmar que não havia corrupção.
Denúncia de 23 milhões de caixa 2 para José Serra, depositados na Suíça,
não gera punição porque prescreveu.
O CAPES (órgão incumbido de financiar e coordenar o aperfeiçoamento do
pessoal de nível superior) – que integra a construção da formação pensamento do
país para esta e as futuras gerações – integra o universo dos que são contrários
à teoria da evolução das espécies. Para essa gente, tudo começou há pouco mais
de 6 mil anos, como o afirma a ‘melhor’ interpretação do fenômeno sob a ótica dos
protestantes que se apegam ao Gênesis como lido pelo judaísmo.
Descobre-se, no Brasil, que o índio está se tornando um ser humano
igual a nós outros, como o diz o ilustrado inquilino do Alvorada.
Em vez de avançar caímos mais de uma dezena de pontos percentuais no
ranking mundial de combate à corrupção.
Ministro da Fazenda anuncia ao mundo a tese revolucionária de que a
pobreza afeta o meio ambiente.
Para fechar a cena: descobre-se na leitura do jornal que uma viúva
teve garantida uma pensão de 100 mil mensais porque os gastos da família giram
em torno dos 700 mil.
Uma outra – atriz e personagem – é descoberta com uma pensão oriunda de
militar na ordem de 6 mil mensais. Já casou quatro vezes; certamente no padre,
porque no civil não teria mais direito ao penduricalho. Como ela são centenas
de milhares no país. Pensionistas não só de militares: de juízes, promotores,
servidores públicos dos três poderes etc. etc.
O inquilino do Alvorada foi alvo de protestos na China. Neste campo
iguala-se aos grandes Chefes de Estado do planeta (Estados Unidos, Rússia,
Alemanha, Inglaterra, Itália, França etc.).
O mesmo inquilino aplaude a deportação de brasileiros pelo governo dos
Estados Unidos (cujos nativos estão dispensados de visto para entrar no Brasil),
que chegaram no Brasil com mãos e pés algemados.
Lá fora o coronavirus se alastra e já é epidemia na China. Aqui a
pesquisa – na esteira das instituições – sendo destruída, Fiocruz a ver navios, pedindo luz em meio à
escuridão. Aquela ministra e sua visão na goiabeira certamente, com sua gente, se
imagina com a solução sob rédeas porque tem a Pátria acima de tudo e Deus acima
de todos.
Êta semaninha interessante!
Melhor voltarmos a Erich Fromm de “...onde nos encontramos hoje?”, caso
estejamos preocupados com o que andam defendendo por aí e para compreender a razão por que de tudo:
Parece profecia redigida para estes tempos
particularmente nossos em sua dimensão tupiniquim.
“O nacionalismo é a
nossa forma de incesto, é a nossa idolatria, é a nossa insanidade. ‘Patriotismo
é o seu culto’” (A sociedade sã, 1955).
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