domingo, 12 de dezembro de 2021

Presidencialismo de coalizão exige renúncias

 

A ora decantada possibilidade de aliança político-eleitoral entre Lula e Geraldo Alckmin faz tapar narinas à esquerda e à direita. Observada sob a égide ideológica tal aliança é inteiramente incompatível.

A socialdemocracia de Alckmin é a defendida pelo mercado capitaneado pela teoria neoliberal, ou seja, a do Estado mínimo. Tudo à iniciativa privada quando assegure lucro a esta e obrigações para o Estado inclusive salvar bancos e empresas. O contrário do que defende a esquerda.

Não sabemos se uma aliança com Alckmin virá a se constituir em nefandas consequências para o Estado, como a do PT com o PMDB fisiológico. Não esquecer que em quase tudo atribuído ao PT em nível de escândalos estão figuras de proa indicadas pelo PMDB para formar feudos que alimentassem a sua cornucópia. Como não bastasse plantou uma figura grotesca chamada Michel Temer que conversava com o Departamento de Estado americano desde idos de 2006 e comandou as negociatas que alimentavam o golpe ainda encastelado no Palácio Jaburu, em típica traição “ao vivo e em cores”.

A percepção de Lula em nível deste tipo de composição política não é nova, quando diz respeito a alianças com o centro ou mesmo centro-direita.

Quanto ao prejuízo eleitoral em cada uma das hostes (esquerda ou direita) de pouca influência se levamos em consideração o eleitor comum.

Ninguém imagine que o eleitor conservador vote em Lula porque Alckmin é seu vice. A possibilidade concreta de eleitores progressistas não votarem em Lula em razão da aliança, proporcionalmente aos ganhos, é insignificante. Ou seja, o contingente à esquerda será bem maior na manutenção do voto no petista do que a perda deste dentre votos conservadores.

Observados em suas dimensões para a análise e avaliação do eleitorado quem pesa é Lula. Presidente da República atuou sob visibilidade plena; Alckmin tem limites provincianos em que pese a hercúlea sabujice da mídia com o sistema nunca passou de ‘picolé de chuchu’. Os limites de sua longa carreira como governante, em São Paulo (a mais longa da história da República), não ofuscam a da presença de Lula no restante do país.

Pesquisa recente (Quaest, no 247) confirma tal avaliação, uma vez que somente 10% dos eleitores de Lula dizem que a chance de voto diminuiria. Isso faltando um ano para a eleição. Para nós tal chance (de não votar) se tornará nula quanto mais se aproximar o dia D.

No entanto não há como afirmar que dita aliança se consumará. A pretensão de Lula em dispor de alguém com tal viés não se esgota em Alckmin. Por outro lado, o amadurecimento de tal tema exige dele Lula que não corresponda ao imediatismo, à irreflexão para que não seja visto simplesmente como um oportunista.

Temos que Lula enxerga possibilidade de votos vinculados a Alckmin para o petista Fernando Haddad para governador, uma vez que tal aliança não afastará de Haddad os votos de que dispõe. Em cenário mais pessimista o único prejuízo residiria em Haddad não conquistar qualquer voto conservador.

Conquistar o Estado de São é a maior ambição de Lula (certamente sua maior vitória no atual instante), praticamente igual a reconquista da presidência. Emblemático e significativo: lá está a maior concentração do capital, centro do sistema financeiro e industrial, maior contingente de trabalhadores sindicalizados e onde o PT nunca venceu eleição para governador, incluindo o próprio Lula.

Eis o nó górdio: não haverá aliança Lula-Alckmin se não for Fernando Haddad o cabeça de chapa para governador em São Paulo.

Os críticos à esquerda imaginam que tal aliança seria passar uma borracha no passado. Cremos que a realidade da busca pelo poder na história recente do país e tomando o próprio Lula candidato em todas as eleições depois da ditadura não venceu o PT em qualquer delas quando formou aquilo que chamam de chapa puro sangue.

No mais, difícil o homem comum entender, que em regime de presidencialismo de coalizão não somente o poder deve ser conquistado; também a governabilidade.

Começando por aumento da bancada petista e de aliados no Congresso como efeito de uma candidatura Haddad, com chances de vitória.

Este fato exige renúncias no campo purista. Narinas tapadas, mas voto na urna.

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