A ora decantada possibilidade de
aliança político-eleitoral entre Lula e Geraldo Alckmin faz tapar narinas à
esquerda e à direita. Observada sob a égide ideológica tal aliança é
inteiramente incompatível.
A socialdemocracia de Alckmin é a
defendida pelo mercado capitaneado pela teoria neoliberal, ou seja, a do Estado
mínimo. Tudo à iniciativa privada — quando assegure lucro a esta — e
obrigações para o Estado — inclusive
salvar bancos e empresas. O contrário do que defende a esquerda.
Não sabemos se uma aliança com Alckmin
virá a se constituir em nefandas consequências para o Estado, como a do PT com
o PMDB fisiológico. Não esquecer que em quase tudo atribuído ao PT em nível de
escândalos estão figuras de proa indicadas pelo PMDB para formar feudos que
alimentassem a sua cornucópia. Como não bastasse plantou uma figura grotesca
chamada Michel Temer que conversava com o Departamento de Estado americano
desde idos de 2006 e comandou as negociatas que alimentavam o golpe ainda encastelado
no Palácio Jaburu, em típica traição “ao vivo e em cores”.
A percepção de Lula em nível deste
tipo de composição política não é nova, quando diz respeito a alianças com o
centro ou mesmo centro-direita.
Quanto ao prejuízo eleitoral em cada
uma das hostes (esquerda ou direita) de pouca influência se levamos em
consideração o eleitor comum.
Ninguém imagine que o eleitor
conservador vote em Lula porque Alckmin é seu vice. A possibilidade concreta de
eleitores progressistas não votarem em Lula em razão da aliança,
proporcionalmente aos ganhos, é insignificante. Ou seja, o contingente à
esquerda será bem maior na manutenção do voto no petista do que a perda deste
dentre votos conservadores.
Observados em suas dimensões — para a
análise e avaliação do eleitorado — quem pesa é Lula. Presidente da
República atuou sob visibilidade plena; Alckmin tem limites provincianos — em que
pese a hercúlea sabujice da mídia com o sistema — nunca passou de ‘picolé de chuchu’.
Os limites de sua longa carreira como governante, em São Paulo (a mais longa da
história da República), não ofuscam a da presença de Lula no restante do país.
Pesquisa recente (Quaest, no 247) confirma
tal avaliação, uma vez que somente 10% dos eleitores de Lula dizem que a chance
de voto diminuiria. Isso faltando um ano para a eleição. Para nós tal chance
(de não votar) se tornará nula quanto mais se aproximar o dia D.
No entanto não há como afirmar que
dita aliança se consumará. A pretensão de Lula em dispor de alguém com tal viés
não se esgota em Alckmin. Por outro lado, o amadurecimento de tal tema exige
dele Lula que não corresponda ao imediatismo, à irreflexão para que não seja
visto simplesmente como um oportunista.
Temos que Lula enxerga possibilidade
de votos vinculados a Alckmin para o petista Fernando Haddad para governador,
uma vez que tal aliança não afastará de Haddad os votos de que dispõe. Em
cenário mais pessimista o único prejuízo residiria em Haddad não conquistar
qualquer voto conservador.
Conquistar o Estado de São é a maior
ambição de Lula (certamente sua maior vitória no atual instante), praticamente
igual a reconquista da presidência. Emblemático e significativo: lá está a
maior concentração do capital, centro do sistema financeiro e industrial, maior
contingente de trabalhadores sindicalizados e onde o PT nunca venceu eleição
para governador, incluindo o próprio Lula.
Eis o nó górdio: não haverá aliança
Lula-Alckmin se não for Fernando Haddad o cabeça de chapa para governador em
São Paulo.
Os críticos à esquerda imaginam que
tal aliança seria passar uma borracha no passado. Cremos que a realidade da
busca pelo poder na história recente do país — e tomando o próprio Lula candidato em
todas as eleições depois da ditadura — não venceu o PT em qualquer delas
quando formou aquilo que chamam de chapa puro sangue.
No mais, difícil o homem comum
entender, que em regime de presidencialismo de coalizão não somente o poder
deve ser conquistado; também a governabilidade.
Começando por aumento da bancada
petista e de aliados no Congresso como efeito de uma candidatura Haddad, com
chances de vitória.
Este fato exige renúncias no campo
purista. Narinas tapadas, mas voto na urna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário