Por pouco,
muito pouco, o dominical não foi publicado na segunda-feira. A energia elétrica
finou-se e não havia expectativa de retorno. “O rio de minha aldeia” (Fernando
Pessoa) avalentou-se (neologismo que se impõe) como há muito não se via e
cobrou o descaso do homem para com a Natureza à qual deve tributo.
Sobre este
escriba de província o voo dos helicópteros resgatando os necessitados todos.
Todos iguais perante a cheia.
Mais de
cinco décadas o retorno das águas em alerta. O cordão de contas entre uma terra
e outra, entre Itororó e Itabuna, sucumbido às águas.
Este Natal
cobrou dívidas. Tornou iguais todos, ainda que não tão iguais assim.
Uns
clamando aos céus, chorando os teres perdidos, única expressão de uma
existência de economias. Agora sem mesmo dispor do alimento imediato. Outros,
impotentes diante do caos, ilhados em suas casas, agradecendo por não haverem
perdido tudo como outros, e mesmo sem poderem oferecer parte de si.
Lágrimas
escoando de faces, traduzindo a dor contida, impossível de ser expressada com
palavras.
As
hidrelétricas com suas barragens transbordando.
Não sabemos
se com tanta água que correu ainda justifica o anúncio de que o custo da tarifa
de energia continuará alta no ano entrante.
Certamente,
se mantida, o será para quem defende apenas o lucro dos que exploram a tragédia
alheia.
Como os que
aumentaram os preços da água engarrafada quando buscada por quem dela precisava para
crianças, idosos e doentes, aplicando indecorosa lei de oferta e procura.
Por outros
caminhos as lições ainda não aprendidas de quem ensinou que os mansos e os
pequeninos alcançarão o Reino.
Tampouco
leram Tiago, para quem “a Fé sem as obras é morta”.
Porque,
ainda que muitos elevem as mãos para o alto rezando em nome do Menino da
Manjedoura, apóstatas se fazem quando imaginam que o vil metal os torna deuses.
Deuses que
não controlam as águas que os alerta de que somos todos iguais.
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