domingo, 3 de julho de 2022

Calamidade e estado de emergência eleitoral

 

O Globo destaca um fato singular: praticamente o dobro de brasileiros se diz de direita (30% a 16%). Num país em que cerca de 70 milhões vivem em estágio entre não ter o que comer e não saber quando comer, encontrar 30% da população que se diz afinada com políticas concentradoras de renda (causa da miséria e da desigualdade) não deixa de beirar o surrealismo. Isso se pautássemos a compreensão por fatores atrelados à lógica.

Mas, por trás de tudo, a capacidade de convencimento dos meios de que dispõe a classe dominante leva a tais conclusões.

Coisa assim, tipo o indivíduo sem-teto pedindo esmola em frente a um ‘terreno de engorda’ (especulação imobiliária) e se dizendo defensor da propriedade. E outros tantos entendendo que a riqueza de poucos é desígnio de Deus e a miséria de milhões, falta de Fé.

Na esteira das coisas, outras acontecem neste Brasil do inquilino do Alvorada: pela primeira vez a calamidade de sua política econômica cobra por ser reconhecida como situação de emergência.

Na verdade, emergência eleitoral.

A situação da reeleição do inquilino do Alvorada por meios democráticos é ‘vela no caixão’ não somente diante das intenções de voto levantadas nas pesquisas, mas diante da rejeição decorrente das calamidades praticadas, segundo o DataFolha (em Mateus Leitão): “Bolsonaro é mais rejeitado por desempregados (66% nunca votariam nele), pretos (63%), nordestinos (62%), estudantes (62%), mulheres (61%), católicos (61%), jovens (60%) e os mais pobres (60%)”. Na média, “55% dos brasileiros disseram que não votam no atual mandatário de forma alguma nas eleições de outubro”.

Tal circunstância se materializa em dados de pesquisa (Carta Capital) que afirma não conseguir vencer qualquer dos candidatos no segundo turno.

Ou seja, para quem está no fundo do poço qualquer ponta de corda é guindaste.

Para tanto organize-se a quadrilha (ops!, a base no Congresso, inclusive porque não faltará eleito pela esquerda que ‘entenda’ o instante) e promova-se uma escancarada fraude eleitoral; em meados de julho será possível a redução do preço dos combustíveis (à custa de receitas estaduais) sem reduzir o lucro dos acionistas da Petrobras, amplie-se os valores do Vale Gás e do Bolsa Família travestido em Cartão Brasil e distribua-se o Vale Caminhoneiro. Mas atenção! – até dezembro de 2022. De janeiro em diante volta tudo ao que fizemos.

O que nos causa espécie no arrazoado presente não é 30% da população dizer-se “de direita”, porque sabemos o que ouve e o muito pouco que lê.

Nem mesmo o governo que pretende tornar-se permanente dizendo-se necessitado e alardeando crescimento econômico promissor.

Tampouco a fraude anunciada com data antecipada para terminar.

Mas a quase indiferença com que o tema é tratado pelos formadores de opinião diante da imoralidade contida em pedido de emergência para justificar uma fraude flagrantemente anunciada para fins eminentemente eleitoreiros. O destaque dado às “bondades” dão-lhe um caráter de perenidade quando não ultrapassarão quatro ou cinco meses.

Neste escancarado cenário de fraude para manter a tragédia implantada a partir de 2016 30% da população a defende porque se considera de direita e outra parcela será ‘convencida’ da bondade e da preocupação do governante com os desamparados de sempre, ora lembrados pelo messias. 

Com apoio da leniente grande imprensa lançando ao largo a verdade. Mais uma vez!


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