Vários são os cantos da Bahia, muito
mais de recantos. Porque em cada um deles há um querer que o molda, uma
tradição que o torna inigualável, um cantinho de seu de cada um. A energia que
emerge da Bahia dizem ser sem igual. Alimento e néctar. Poesia e sons guardam
relíquias ancestrais de povos vários, aqui concentrados pelas circunstâncias.
A Bahia de mistérios, dos gemidos dos
afrodescendentes sob a chicote nas senzalas e pelourinhos, transformada em
singularidades que elevam a superstição à píncaros comparáveis somente aos de
suas origens ancestrais, sacra em tudo.
O sincretismo religioso – sábia solução de ver manter reconhecidas as tradições dos desvalidos – tornou-se fonte de convivências espirituais diversas e conflitantes amalgamando-as no instante invocado.
Por meio de tudo desenvolveram-se
quereres tantos guardados em relicário único.
E a Bahia se fez de festa. Tudo motiva
sua gente a festejar. Na esteira, às festas religiosas aliaram-se às saudações
pirotécnicas, dos antigos rojões de vara aos contemporâneos pistolões. Quanto
mais o pipocar e mais tempo levar o queimar mais grandeza traduz o festejar e o
poder de quem o promove ou do respeito ao destinado: santo ou político.
Sim, caro e paciente leitor: a classe
política descobriu nos fogos a forma de expressão própria. Não se faz comício,
carreata, passeata sem foguetório.
Desta forma – quem à distância esteja do frege – presume o que está a ocorrer pela quantidade e o tempo do pipocar.
Sob esse quesito todos se tornam
iguais perante a queima do foguetório, escondidos sob a nuvem de fumaça que se
forma: o poder aquisitivo pode confundir quem escute o alvoroço como se pequeno
ou grande o ‘benfeitor’.
Um outro fator sustenta a classe política em disputa, programado a impressionar: a quantidade de gente, de cavalos ou carros nas programações para impressionar. Gente é povo, eleitorado fiel; cavalos traduz a categoria do eleitorado campesino e veículo a de abastados, em princípio, porque – de uns tempos para cá – não falta quem consiga um veículo a motor qualquer para garantir uns litros de combustível e livrar o bolso da despesa. O resto, nesta gente, é economizar de verdade, alguns desviando para casa na primeira esquina.
Assim, uma singular festa – resposta que se presume dada a este ou aquele candidato – é medida pelo que arrebanhe de seguidores em caminhadas.
Há alguns meses, antes das caminhadas,
candidaturas se diziam definidas em resultados; a pouco mais de três meses para
o primeiro turno as caminhadas vão pintando o quadro que se aproxima da
verdade.
Caso tomemos por referência as
caminhadas ultimamente realizadas por dois principais candidatos ao governo da
Bahia em rincões vários as coisas começam a desagradar vencedores e animar
perdedores.
Para completar, em Itabuna, a morte de Fernando Gomes – uma de suas maiores lideranças políticas no curso da história, no particular dos últimos cinquenta anos – deixa um pouco ao léu um deles na pretensão de arrebanhar seus herdeiros.
E, caso sejam as caminhadas uma forma
de premonição, um tradicional herdeiro de feudo político pode estar perdendo os 'quereres
tantos' de antanho, em lugares vários deste relicário de surpresas em que se tornou a Bahia
há 16 anos.
Sinal de que um outro modelo destronou
a tradicional forma que tanto dominou em lugares vários no
passado, libertando-a dos gemidos e do chicote nas senzalas e pelourinhos eleitorais que
vão desaparecendo na penumbra dos novos tempos que se implantam.
Onde caminhadas passam a destronar
foguetes e rojões.
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