Eis que já não basta a Suas Excelências parlamentares a função de parlamentar: também querem diplomaciar, serem embaixadores no exterior sem deixar o mandato. Sim, caríssimo leitor, este o singular detalhe: sem perda do mandato. É a ‘PEC dos embaixadores’ que o presidente do Senado pretende aprovar a toque de caixa.
Eis que o Ministro da Defesa em reunião ministerial (muito mais eleitoral) reflete o que o preocupa: as urnas eletrônicas (Globo). Ou seja, sua preocupação não é a defesa das fronteiras ou da soberania nacional, evitar a invasão de terras indígenas ou a exploração garimpeira ilegal e o contrabando de minérios na Amazônia, ou mesmo de atos terroristas em diferentes pontos do país, mas do cargo.
Eis que “militares dizem não abrir mão
de três pontos para distensionar ambiente até as eleições” (DCM).
Eis que lançam uma bomba caseira (mais
uma; a outra, em Minas Gerais, através de drone) durante o evento em que Lula participava no
Rio de Janeiro. O problema não é a bomba em si, mas o cristalino de
constituir um ato de terrorismo.
Do púlpito de uma igreja católica em Laranjal-SP: “O maior ladrão que o mundo já viu...” – proclama o padre, referindo-se ao ex-presidente Lula.
Família de Dom Cláudio Hummes teria
demonstrado constrangimento com presença de Lula e Alckmin no velório (Revistaoeste). Ainda
que não haja informações de que os políticos fizeram discurso de campanha no
evento.
Eis o caminhar deste país, em ano
crucial como um eleitoral. Ano que substitui debates de ideias e quem deles
foge ‘argumenta’ com provocações e agressões a quem pense diversamente.
Tudo como antes no quartel de Abrantes
tomando-se cada caso isoladamente:
Suas Excelências sempre insatisfeitas
com a boquinha. Insaciáveis.
O atual Ministro da Defesa, ah!... Deixaríamos
pra lá se não estivesse embutido na ‘preocupação’ uma intervenção voltada para
impedir as eleições ou intervir no resultado. Não fora isso, como entender as
esdrúxulas exigências de que seja feita uma ‘totalização paralela’ por TREs ao
mesmo tempo que a do TSE (reedição do escândalo Proconsult nas eleições do Rio
de Janeiro para garfar Brizola), realização de auditoria por empresa indicada
pelo governo e o suprassumo levantado pelo inquilino do Alvorada: um computador
das Forças Armadas conectado ao sistema oficial (do TSE) para apurar por conta
própria.
Bomba lembra o projeto do Brigadeiro João Paulo
Burnier de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, em 1968, para jogar a culpa
nos comunistas; ou aquele outro, de explodir a adutora do Guandu, programado pelo atual inquilino do Alvorada,
em 1986, que o levou à reforma/aposentadoria aos 33 anos de idade para não ser
condenado e preso por terrorismo.
Conclusão deste escriba de província
sobre a ameaça velada de parcela de chefes das Forças Armadas de impor três
pontos para distencionar (não intervir através de um golpe): ponto 1: Lula não
vencer; ponto 2: Lula não vencer; ponto 3: Lula não vencer. Ou prometer que se
vencedor renuncia em favor do atual inquilino. Rsrsrsrsrsrsrs...
Padre no púlpito e reação da família do Cláudio Hummes: natural. Afinal, parcela considerável da Igreja Católica no Brasil – e de ‘católicos’ que a servem – como já ocorreu na Espanha etc. não vê os “pequeninos” de que fala Jesus Cristo e muito dessa gente não suporta o Papa Francisco. Aliás, parcela da Igreja Católica no Brasil atualmente disputa com os evangélicos e o pentecostalismo mercantil quem ainda dispõe de ‘lascas’ da cruz de Cristo para comerciar!
Avalie, caro e paciente leitor, se o
padre anda fazendo política no púlpito imagine no confessionário!
Por outro lado – ainda que respeitemos o gosto político-partidário dos familiares – não sabemos se a família de Dom Cláudio Hummes lembra de sua relação com os trabalhadores desde os idos de 1975, quando tomou posse como bispo diocesano de Santo André (no fervilhante ABCD paulista) e que acompanhou o movimento sindical que se organizava contra a ditadura militar, se tornou amigo de Lula e se aproximou da Teologia da Libertação; que foi um feroz crítico dos abusos do capitalismo e da globalização; que foi um influenciador decisivo na eleição de Jorge Mario Bergoglio – Papa Francisco – a quem saudou com um “Não esqueça dos pobres”.
Lamentavelmente, vendo seus familiares
se retirando do velório do pranteado com a chegada de Lula e de Alckmin (dentre
outros) não sabemos se a deselegância o foi por Lula ou por Alckmin (da Opus
Dei) ou por ambos. Tampouco se imaginaram que ali se fizesse política eleitoral
em simples ato de respeito aos mortos. E eis que ali não estava um morto
qualquer.
Os gestos e atos vislumbrados ampliam
a certeza de que não vivemos um estágio civilizatório digno do nome. Pulsões da
brutalidade reprimida, do descaso para com o semelhante, da ambição e do poder
pelo poder, da manipulação de valores morais a serviço da imoralidade, do
alheamento à realidade nos tornam uma sociedade de seres abjetos e infames.
E neste atual quadro eleitoral, reflexo
da bizarrice que nos acometeu, tudo aflora e vai assumindo patamares nunca
antes imaginados. Onde tudo será possível acontecer, porque não falta quem
pense que pode mudar o mundo para torna-lo à sua forma de pensar. Que o que tem
na cabeça pode lançar através de drone ou de bomba caseira como expressão de
sua intelectualidade que tem a
barbárie como objetivo a alcançar para sentir-se em casa.
Eis que fraternidade se torna palavrão
e o espírito da cordialidade sucumbe ao da intolerância. Nem mesmo comemorar um
aniversário em sua própria casa sob símbolos do que acredita. A estupidez ocupa
os espaços. Uma gente incapaz de ouvir a Ode à Alegria, de aceitar que o homem idealista
sonha com a igualdade e paz como apoteose da existência.
No geral e no bem fundo do fundo há um
sonho velado desta gente neste quadro eleitoral: um outro morto. Não um morto
qualquer!
Conheci Adilson, quando trabalhei em Itororó.
ResponderExcluirNunca duvidei da sua inteligência.
Parabéns, amigo
Lamentável e preocupante.
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