O cidadão comum tem sua base de informação
pautada no que lê, ouve ou vê. No que diz respeito ao cotidiano o que lê está
nos jornais e revistas, o que ouve ou vê através de rádio e televisão. No imediato
– afetado pelos meios contemporâneos de comunicação – bombardeado por mensagens
através de celulares/computadores.
Aqui aventamos em torno da fonte de informação
versus a realidade vivida. Ou seja, corresponde a informação recebida à
realidade vivida?
Uma ida ao supermercado, ao açougue, à feira-livre
reverbera clamores e insatisfações. O dinheiro cada dia mais curto, ainda que
as necessidades a serem atendidas estejam reduzidas nas listas dos
planejamentos domésticos, algumas sublimadas (ovo em vez de carne etc.).
Mas nos deparamos com os ‘analistas
econômicos’ de plantão concluindo que a situação do país está superando as
dificuldades e mesmo a melhorar. O cinismo de alguns chega ao desplante de
dizer que o imediato não se sustenta no futuro, mas se sustentam nos 'indicadores' de que se valem.
Por trás de tudo tais analistas repercutem políticas
do governo federal implantadas para efeitos eminentemente eleitorais, com prazo
de vencimento em dezembro, como os ‘reajustes’ de bolsa isso-bolsa aquilo.
Nenhuma referência à realidade de que parte do dinheiro que falta escorreu pelo
ralo da sem-vergonhice e bandidagens várias, inclusive gastos com pagamento de
auxílio emergencial a milhares de mortos que consumiram alguns míseros bilhões
de reais (Vermelho) sem falar nos vivos 'muito vivos' encastelados em escalões governamentais vários. Dirão eles que o aspecto não lhes cabe abordar.
Folheando Millôr Fernandes (1923-2012) em “Millôr
Definitivo – A Bíblia do Caos” (LP&M Pocket, 5ª impressão, 2005, p. 594)
encontramos:
“[...]
Heróis nunca me iludiram. Quando caço
o homem, como Nemrod na Bíblia, e procuro alvejar individualmente o mesquinho,
o covarde, o safado, o hipócrita, o corrupto, o incompetente e, coletivamente,
a medicina, a política, a psicanálise, o jornalismo, o economismo e sandices
(que são as minhas, eu nunca esqueço; só que eu nunca esqueço; a maior parte
das pessoas nem se lembra) não estou preocupado com essas falhas e defeitos
insanáveis, mas com o inevitável fim a que isso leva – a desumanidade do homem
para com o homem”.
Eis o retrato cru da crueldade com que tratado
o homem brasileiro. A desumanização como política de estado maquiada através do
jornalismo econômico em defesa do individualismo, negando a coletividade de
pessoas, todas iguais em espécie e a maioria transformada em pária por um sistema
que explora a totalidade em benefício de um punhado.
Em meio a ‘sandices’ tantas o Cristianismo
manipulado para produzir riqueza a ponto de até marchar pelas ruas “em nome de
Jesus” exibindo arma como novo instrumento de fé, essa fé mesquinha que
alavanca a miséria que mata e ensina a matar para sobreviver.
Mas – é também da natureza humana, ainda que explorada e vilipendiada – acreditar em algo que não toca mas assegura suportar o dia seguinte que desconhece. Em meio a isso a sublimação, a busca por sentir possível a realização de um sonho, de confiar, de acreditar.
Não tendo como entender tanta mensagem otimista quando seu imediato se faz de pessimismo resta se apegar a alguma coisa. E não lhe falta. Sim, caro e paciente leitor, porque entre as virtudes teologais – ao lado da caridade e da fé – a esperança ainda existe e, nestes nada áureos tempos, mesmo desfila portando uma arma.
Esperança, eis o que resta. Não sabemos como
será exercitada.
Afinal, “Num país como o Brasil, manter a
esperança viva é em si um ato revolucionário” (Paulo Freire).
Se já o foi para Paulo Freire (1921-1997) imagine para os que vivemos 25 anos depois bombardeados por mensagens de otimismo!
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