domingo, 17 de setembro de 2023

Beethoven para o Brasil e o mundo

 

Obra – das seminais – o Concerto nº 4 para Piano e Orquestra, Opus 58, de Ludwig von Beethoven. Para nós pode ser ouvida como lição metafórica para a geopolítica e a economia política contemporâneas. Não o 1º e 3º Movimentos, e sim, o intermediário, de pouco mais de cinco minutos: Andante com Molto, do 2º Movimento.

Desperta-nos a singularidade de um típico confronto entre orquestra e piano, vencido pelo piano quase inaudível depois de carrear a orquestra para o seu terreno. Destaca-se para a época o fato de inovar a regra geral (orquestra abrir o concerto. Similaridade também presente em Concerto de Aranjuez, de Rodrigo) e de imediato o piano o faz, como se se afirmasse ditando as regras. Na obra bethoveana há um singular jogo de pergunta e resposta, cada um a seu tempo, e quase não se encontram. Dispensou Beethoven os metais da orquestra para alimentar a contundência da orquestra e o faz por meio das cordas e madeiras. Traça e amacia no piano o seu desejo de terno convencimento para demonstrar que – como o fará no 3º Movimento – unidos podem tudo fazer e não subjugando uns a outros.

A lição do mestre do Romantismo – como o expressará em obras como as 3ª, 5ª e 9ª Sinfonias – nasce de um idealista que sonha com a igualdade entre os homens, menos distorções, e – certamente – hoje militaria por ver a redução do desequilíbrio sócio econômico entre os povos. Caso o ideologizássemos o teríamos certamente na fronteira das lutas em favor de maior igualdade entre os homens.  

Há países que trabalham como a orquestra; outros como piano. Os primeiros continuam aos gritos para amedrontar os que não tocam sob sua partitura e regência. Lá fora começam a ouvir notas suaves oriundas do piano; mas ainda insistem em impor sua tessitura ferindo os tímpanos dos que não pretendem usar suas técnicas. E persistem em não compreender que há gente morrendo em decorrência das desigualdades e sucumbe atravessando mares fugindo da asfixia a que submetida. Gente esquálida – que motivaria Castro Alves a compor novo e épico ‘Navio Negreiro’ – estampando a miséria e a desumanidade que ainda revive aquele triste exemplo.

O mundo não está só. O Brasil, internamente, imaginou através de uma parcela de sua gente de que gritar e ameaçar também seria o caminho mais fácil. No entanto destoou na leitura das notas.

O mundo começa a sentir que caminhos há para solucionar problemas e que não passam por convicções de religiões particulares que ensaiam novo formato para o patrimonialismo clássico ou que ensinam novo e revolucionário planisfério em nível de Geografia.

Essa gente, no entanto, dificilmente ouvirá Beethoven. Quando muito dirá que conhece o alemão por meio de caixinhas de música*.


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* Für Elise

 

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