Obra – das seminais – o
Concerto nº 4 para Piano e Orquestra, Opus 58, de Ludwig von Beethoven. Para
nós pode ser ouvida como lição metafórica para a geopolítica e a economia política
contemporâneas. Não o 1º e 3º Movimentos, e sim, o intermediário, de pouco mais
de cinco minutos: Andante com Molto, do 2º Movimento.
Desperta-nos a
singularidade de um típico confronto entre orquestra e piano, vencido pelo
piano quase inaudível depois de carrear a orquestra para o seu terreno.
Destaca-se para a época o fato de inovar a regra geral (orquestra abrir o
concerto. Similaridade também presente em Concerto de Aranjuez, de Rodrigo) e
de imediato o piano o faz, como se se afirmasse ditando as regras. Na obra
bethoveana há um singular jogo de pergunta e resposta, cada um a seu tempo, e
quase não se encontram. Dispensou Beethoven os metais da orquestra para
alimentar a contundência da orquestra e o faz por meio das cordas e madeiras.
Traça e amacia no piano o seu desejo de terno convencimento para demonstrar que –
como o fará no 3º Movimento – unidos podem tudo fazer e não subjugando uns a
outros.
A lição do mestre do
Romantismo – como o expressará em obras como as 3ª, 5ª e 9ª Sinfonias – nasce de um
idealista que sonha com a igualdade entre os homens, menos distorções, e – certamente
– hoje militaria por ver a redução do desequilíbrio sócio econômico entre os
povos. Caso o ideologizássemos o teríamos certamente na fronteira das lutas em
favor de maior igualdade entre os homens.
Há países que trabalham
como a orquestra; outros como piano. Os primeiros continuam aos gritos para
amedrontar os que não tocam sob sua partitura e regência. Lá fora começam a
ouvir notas suaves oriundas do piano; mas ainda insistem em impor sua tessitura
ferindo os tímpanos dos que não pretendem usar suas técnicas. E persistem em
não compreender que há gente morrendo em decorrência das desigualdades e sucumbe
atravessando mares fugindo da asfixia a que submetida. Gente esquálida – que
motivaria Castro Alves a compor novo e épico ‘Navio Negreiro’ – estampando a
miséria e a desumanidade que ainda revive aquele triste exemplo.
O mundo não está só. O
Brasil, internamente, imaginou através de uma parcela de sua gente de que
gritar e ameaçar também seria o caminho mais fácil. No entanto destoou na
leitura das notas.
O mundo começa a sentir
que caminhos há para solucionar problemas e que não passam por convicções de
religiões particulares que ensaiam novo formato para o patrimonialismo clássico
ou que ensinam novo e revolucionário planisfério em nível de Geografia.
Essa gente, no entanto,
dificilmente ouvirá Beethoven. Quando muito dirá que conhece o alemão por meio
de caixinhas de música*.
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* Für Elise
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