Karl Marx (1818-1883) afirmou
que no plano da luta de classes – Capital versus
Trabalho – o capitalismo, como instrumento daquele, sucumbiria a suas próprias
contradições centradas no fato de coletivizar/socializar a produção da riqueza
(através do trabalho) e concentra-la a seu favor por meio da acumulação e mais
valia. Isso porque simplesmente tudo se origina do trabalho. Que adianta
toneladas de ouro na natureza se não houver a força que o extraia? E esta – manual
ou maquinariamente – se origina da força do homem.
Para o filósofo alemão
Immanuel Wallerstein (1930-2019), o
sistema não sucumbirá num ato heróico. Desabará sobre suas próprias contradições.
Ou seja, não o será pela imaginada revolução do
proletariado como pensadores muitos no curso dos Séculos XIX e XX, de Proudhon
(1809-1865) a Bakunin (1814-1876) e Trotsky (1879-1940).
E adiantou, em entrevista ao Outras Palavras, em 2011: “Na minha visão, o capitalismo chegou ao fim da linha e já
não pode sobreviver como sistema. A crise estrutural que atravessamos começou
há bastante tempo. Segundo meu ponto de vista, por volta dos anos 1970 – e
ainda vai durar mais uns vinte, trinta ou quarenta anos. Não é uma crise de um
ano, ou de curta duração: é o grande desabamento de um sistema. Estamos num
momento de transição. Na verdade, na luta política que acontece no mundo — que
a maioria das pessoas se recusa a reconhecer — não está em questão se o
capitalismo sobreviverá ou não, mas o que irá sucedê-lo”.
Ainda que envolvidos o
pensamento do filósofo e do sociólogo no entremeio de dois séculos, mantem-se a
evidente contradição no plano interno do sistema capitalista ao não partilhar
parcela da riqueza gerada pelos trabalhadores – produtores de tudo através da
força do trabalho – excluindo-os dos sistemas de saúde, segurança, moradia, educativo,
que deveriam ser comuns a todos.
Desta forma tendo o
capitalismo como objetivo a obtenção de lucros, cada vez multiplicados com a
parcela que absorve e não distribui, sem reconhecer a fonte que o alimenta (fábricas,
agricultura, comércio) aprofunda a cada instante, mais e mais, a desigualdade
entre quem concentra e quem produz.
O progresso científico e a
decorrente substituição de parcela da observação empírica dos fundamentos da
teoria marxista não excluem a conclusão básica, definida historicamente como
luta de classes.
Aí, mais viva do que
nunca, travestida em outras roupagens. Não mais a vetusta escravidão humana
como regra, mas escravidão à tecnologia imposta como consumo a quem não alcança
recursos suficientes para corresponde-la sem perder a dignidade.
O capitalismo monopolista
(contraponto ao de livre-concorrência ou liberal) ocupa o planeta com todos os
seus tentáculos aprimorado em apropriação através de sua forma contemporânea: o
capitalismo financeiro.
Na esteira de tudo a lição
não aprendida de ver no outro o semelhante; a soberba e a indiferença tão só
subsiste como se nada mais houvesse, nos que ostentam tal potentado.
Nenhuma sensibilidade para
corresponder aos milhões de carentes atendidos por outros milhões que
contribuem com parcelas de 30 reais mensais, atendendo aos que imploram nas
redes os grupos humanitários, enquanto trilhões de dólares pautam carteiras de produtividade
nula em relação a quem, para sobreviver, carece de centavos do que acumulam.
Inconcebível (se não fosse
concreto) que o Homem, em dimensão de Humanidade e Civilização, convivesse com
tamanha distorção: sem moradia milhões de famílias enquanto alguns milhares
vivem em castelos e mansões milionárias; homens do campo sem um pedaço de chão
para plantar a sua sobrevivência enquanto milhões de hectares estão concentrados
nas mãos de poucos, que ainda acham muito pouco o que têm; milhões de seres
humanos tornados objeto de uma cultura que os descarta, como coisa nenhuma
diante dos ‘benefícios’ econômicos; que a Economia tenha primazia sobre o Homem
espelhado em famílias sem teto, terra, saúde, educação e comida.
Havermos chegado a esse
nível de indiferença espanta. E não se trata de ideologia tal espanto. Tão só
clamar por mais equidade. Os homens não precisam ser iguais; mas, menos
desiguais, mais fraternos e solidários. Afinal, a igualdade e a fraternidade
como aspiração dispensam conteúdo ideológico, apenas espírito humanístico.
E não custa lembrar a
lição irrefutável, inexorável: seremos reconhecidos (aqui e além) por aquilo
que fizemos ao semelhante e não pelo acumulado, que aqui permanecerá.
Ainda que a terra seja plana, como imaginam alguns.
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