Não sabemos se os tempos
são outros ou se simplesmente os fatos interferem no tempo. Como vivemos os instantâneos,
e a partir deles o fixado em nosso imaginário, tudo dá a entender que definem
os tempos.
Mas, caso não existíssemos
como produtores dos fatos os tempos deixariam de existir? Certamente não.
Todo o bolodório diz
respeito a entendermos no curso da existência a gama de fatos que dão origem
aos “comunicados” e à singularidade que envolve alguns deles.
Um vereador de Itororó nos
idos em que a Câmara iniciava sua segunda legislatura (exatamente em 7 de abril
de 1963) pediu a palavra para ‘comunicar
que havia pedido a palavra para comunicar que não pediria a palavra nas sessões
vindouras’.
Exatamente, caro e
paciente leitor: pedir a palavra para comunicar que não a pediria futuramente.
Supimpa!
Mas, sabemos, não são os
comunicados em si destinados a tal desiderato. A não ser como exceção. Sua
utilidade – desde que a comunicação se tornou necessária – se impôs desde os
primórdios. Mesmo quando não havia imprensa. Fidípides, o famoso que levou a
notícia da vitória dos gregos contra persas, em Maratona, na Primeira Guerra
Médica (490 a.C.), efetivada ‘na perna’.
Com o advento da imprensa
escrita – e posteriormente outras formas de comunicação – utilizada à mancheia,
por todo e qualquer que dispusesse de recursos para viabilizar seu
‘comunicado’.
Alguns de singular
importância (para demonstrar aos de hoje terríveis tempos de ontem), como o registrado
no jornal A Razão, de Santo Amaro da Purificação, no século XIX, através do
qual procurado um ‘preto fujão do engenho Muribeca, da nação Caçanje, de nome
Gregório’, com recompensa de 50 mil reis, além da inusitada recomendação de que
quem o achasse lhe “desse uma surra primeiro” antes de leva-lo à redação do
jornal, que trazia no nome alusão ao Iluminismo, ainda que vivendo em tempos
medievos.
Não podemos negar a
importância e a oportunidade de comunicados, cada um atendendo ao instante: o
padre no púlpito, muitas vezes chamando os fiéis à obrigação para com o dízimo;
o comércio, anunciando vantagens e oportunidades para os agraciados que o
atendam; o poder público alertando em torno de riscos, pandemias, concursos e
coisas tais; o circo, anunciando seu último espetáculo a preços módicos etc.
etc.
No entanto não
imaginávamos encontrar nesta contemporaneidade um comunicado de jaez tão singular,
como aquele emitido por um estabelecimento de ensino localizado na Zona Sul de
São Paulo, o Colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara, destinado aos pais de
adolescentes entre 11 e 14 anos de uma 6ª Série, orientando para “não soltarem
pum dentro de sala de aula” (jornal O Tempo).
E mais: “A instituição de
ensino ressaltou que ‘esta única turma, e não todas, foi orientada sobre a
importância de liberar os gases do ponto de vista da saúde”, mas sem descurar
que “também é possível considerar a coletividade e a maneira mais adequada de
agir nesta situação”.
Considerando a
‘preocupação’ demonstrada buscamos identificar a instituição, em razão da
paciência exemplar diante daquilo que em outras (milhares delas) levaria ao
disciplinamento com, pelo menos, suspensão da turma (já que identificada).
Encontramo-la. Então
entendemos: afinal, neste 2023 a mensalidade por lá gira em R$ 5.431,00, o que
nos remete a uma conclusão óbvia: melhor administrar o pum que perder quem o origina.
E aqui estamos,
compreendendo que se os tempos são outros ou se os fatos interferem no tempo e
vivendo-os no plano instantâneos cabe-nos, a partir deles, fixa-los em nosso
imaginário, entendendo-os como definidores dos novos tempos.
Tanto que, para o restante
do país sugerimos entrar em contato com a instituição para aprender como
controlar pum em sala de aula; ou mesmo fazer turismo para conhecer tamanha
realidade, naquela que, provavelmente, será a primeira escola conhecida em
nível mundial a dar tratamento especial ao pum coletivo e a estabelecer
preocupação científico-didático-pedagógica para seu controle.
Quem sabe, primeiro Nobel
para o Brasil!
Ou, quando nada, ‘patriotas’
poderiam inscreve-lo para o próximo Ig Nobel.
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