domingo, 8 de outubro de 2023

"Acorda, Brasil!"

 

Crianças de então – os que adorávamos as chanchadas nas matinês de domingo – ríamos a não mais ver. Afinal, humor circense de cacos e chistes, tropeções e empurrões valiam mais que o enredo. Quem de nós entendeu aquele “Trabalhadores de Gaza”” proferido pelo Sansão/Oscarito no “Nem Sansão, nem Dalila” (1955), de Carlos Manga?

A sátira de costumes e as paródias (“Matar ou Correr”, de Manga, 1954, entre elas) superavam os limites financeiros nativos para enfrentar Hollywood (confundida por muitos com a marca de cigarros) ocupando em plenitude as poltronas dos cinemas Brasil a fora. Nada entendíamos. Importava-nos rir!

Cabe destacar como rimos a valer com “O homem do Sputinik” (1959), do mesmo Carlos Manga.

Rever, por meio dele, este espaço do Cinema Brasileiro nos remete a reviver no presente aquilo que à época não compreendíamos: de que tudo não passa(va) de metáfora. E que de lá para cá nada difere; permanece a conviver com a realidade, travestida ao sabor das pretensões/interpretações oferecidas.

União Soviética,  França e Estados Unidos ali estereotipados vigaristas. A Guerra Fria levada na galhofa tendo como palco a terra brasilis. Deixando a lição de que os interesses de sempre, mais que tudo, faziam/fazem girar a disputa entre países. 

Chanchada de ontem, vigarice que a Geopolítica contemporânea faz permanecer sob idênticos paradigmas em outros palcos, sem dispensar o nosso.

Detalhe: os brasileiros – crianças de ontem, como as de hoje – deixaram de rir, mas continuam a viver ‘mensagens’ por meio das Agências United Press, France Press, BBC (contrapontuando com as rádios de Pequim, Havana e Moscou de então) capitaneadas pelos mesmos detentores do controle dos meios de comunicação/informação e quejandos tais permanentemente alimentando a “teoria do subdesenvolvimento” (obrigado Celso Furtado!).

E a sabujice e a imbecilidade – dos que desconhecem a leitura como fonte de informação – aí estão discutindo 'convicções' nos bares, nas esquinas e praças a ‘realidade’ que lhe é imposta formando ‘juízos de valor’ lançados aos quatro ventos no mesmo patamar que nos levou ao suicídio de Getúlio, ao Parlamentarismo de ocasião e ao coroamento de propósitos: golpe militar de 1964 carreando uma ditadura que nos corroeu no curso de 21 anos e destruiu valores pátrios ao alvitre dos ‘libertadores’. Trazendo, para coroamento de significativa parcela desta 'intelectualidade', a revolucionária teoria de que a Terra é plana.

Ainda permanecemos em igual patamar. Talvez em pior estágio – este nosso pessimismo(?) não nos permite expressar diferentemente – porque tão somente diante do fruto de todo o programado pelos ‘vitoriosos’. Que o digam as “reformas” tupiniquins no curso destes agros anos.

Mas não deixa de ser tempo, certamente – eis-nos prenhe de otimismo, novo Cândido à espera de um Voltaire (1694-1778) – de lembrarmos daquele instante de “O homem do Sputinik” em que a reportagem do jornal sai para o ‘furo’ e o fotógrafo – com o simbólico nome e sentido de tudo projetado em tela – é desperto para a obrigação: “Acorda, Brasil!”

Triste que não mais sejamos aquelas crianças que riam!


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