Crianças de então – os que
adorávamos as chanchadas nas matinês de domingo – ríamos a não mais ver. Afinal, humor circense de cacos e chistes, tropeções e empurrões valiam mais que
o enredo. Quem de nós entendeu aquele “Trabalhadores de Gaza”” proferido pelo
Sansão/Oscarito no “Nem Sansão, nem Dalila” (1955), de Carlos Manga?
A sátira de costumes e as
paródias (“Matar ou Correr”, de Manga, 1954, entre elas) superavam os limites
financeiros nativos para enfrentar Hollywood (confundida por muitos com a marca
de cigarros) ocupando em plenitude as poltronas dos cinemas Brasil a fora. Nada
entendíamos. Importava-nos rir!
Cabe destacar como rimos a
valer com “O homem do Sputinik” (1959), do mesmo Carlos Manga.
Rever, por meio dele, este
espaço do Cinema Brasileiro nos remete a reviver no presente aquilo que à época
não compreendíamos: de que tudo não passa(va) de metáfora. E que de lá para cá nada difere; permanece a conviver com a realidade, travestida ao sabor das
pretensões/interpretações oferecidas.
União Soviética, França e Estados Unidos ali estereotipados
vigaristas. A Guerra Fria levada na galhofa tendo como palco a terra brasilis. Deixando a lição de que
os interesses de sempre, mais que tudo, faziam/fazem girar a disputa entre
países.
Chanchada de ontem,
vigarice que a Geopolítica contemporânea faz permanecer sob idênticos
paradigmas em outros palcos, sem dispensar o nosso.
Detalhe: os brasileiros –
crianças de ontem, como as de hoje – deixaram de rir, mas continuam a viver
‘mensagens’ por meio das Agências United Press, France Press, BBC (contrapontuando
com as rádios de Pequim, Havana e Moscou de então) capitaneadas pelos mesmos
detentores do controle dos meios de comunicação/informação e quejandos tais
permanentemente alimentando a “teoria do subdesenvolvimento” (obrigado Celso
Furtado!).
E a sabujice e a imbecilidade – dos que
desconhecem a leitura como fonte de informação – aí estão discutindo 'convicções' nos bares,
nas esquinas e praças a ‘realidade’ que lhe é imposta formando ‘juízos de
valor’ lançados aos quatro ventos no mesmo patamar que nos levou ao suicídio de
Getúlio, ao Parlamentarismo de ocasião e ao coroamento de propósitos: golpe
militar de 1964 carreando uma ditadura que nos corroeu no curso de 21 anos e
destruiu valores pátrios ao alvitre dos ‘libertadores’. Trazendo, para coroamento de significativa parcela desta 'intelectualidade', a revolucionária teoria de que a Terra é plana.
Ainda permanecemos em
igual patamar. Talvez em pior estágio – este nosso pessimismo(?) não nos
permite expressar diferentemente – porque tão somente diante do fruto de todo o
programado pelos ‘vitoriosos’. Que o digam as “reformas” tupiniquins no curso
destes agros anos.
Mas não deixa de ser tempo,
certamente – eis-nos prenhe de otimismo, novo Cândido à espera de um Voltaire
(1694-1778) – de lembrarmos daquele instante de “O homem do Sputinik” em que a
reportagem do jornal sai para o ‘furo’ e o fotógrafo – com o simbólico nome e
sentido de tudo projetado em tela – é desperto para a obrigação: “Acorda,
Brasil!”
Triste que não mais sejamos
aquelas crianças que riam!
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