Não aventamos, para
sustentar nossa digressão, por discorrer em torno das dezessete páginas para o
verbete Filosofia, do Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano (edição
revista e ampliada da Martins Fontes, São Paulo, 2007, 1210 p.), envolvendo sua
compreensão e reinterpretação conceitual no curso dos últimos 2.600 anos.
Tudo, no entanto, que
ocupou gênios e estudos tantos, não nos afasta do primordial pitagórico-platônico,
tão atual como a realidade palpável de então. Afinal, ‘amor pela sabedoria’
perceptível apenas pelo ‘ser humano consciente’ de suas próprias limitações,
através da qual o manuseio da investigação ‘da dimensão essencial e ontológica do
mundo real’ como meio de ultrapassar ‘a opinião irrefletida do senso comum que
se mantém cativa da realidade empírica e das aparências sensíveis’. Ou seja, um
chamado ao estudo de questões gerais
e fundamentais atinentes ao homem em sociedade sobre a existência, valores, razão, conhecimento,
mente e linguagem.
Tudo posto como problemas a se resolver a partir da dúvida
como fonte: POR QUÊ?
Ultrapassados dois e meio milênios aqui estamos diante de
indagações que incomodam além do homem ‘consciente’. Acrescidas das conquistadas
no curso dos séculos.
A consumação da negação se
extrai da escorreita resposta ao porquê da acumulação material, por que de tanta
riqueza em mãos reduzidas em detrimento da expansão da "sabedoria". Uma resposta que Voltaire (1694-1778) se dispensou
de refletir/verbetear em seu Dicionário Filosófico.
Destinado o Homem à
Felicidade, no curso da evolução histórica – eis o presente orientando futuro
inexorável – descamba para negar-se a tudo que lhe foi disposto, existência
controlada e submetida aos interesses parcos e de insignificância aos valores e
à razão. Por quê?
O desrespeito à Natureza –
em todas as dimensões – agravado pelo avanço ao pouco de que depende o planeta;
guerras intermináveis (alteram-se os palcos) sacrificando crianças, mulheres,
idosos; fome acometendo cerca de 1 bilhão, segundo dados da FAO (somente em
2022 mais 122 milhões) e mazelas et
caterva.
Folheando páginas várias
nos vimos descobrindo – em meio a este 1 bilhão famélico – que 2,6 mil
bilionários concentram/detêm o controle sobre US$ 12 trilhões (uma bagatela, de
60 trilhões na moeda tupiniquim), que pagam a ‘fortuna’ de 0,5% de impostos,
segundo Jamil Chade, no UOL.
Não há resposta ou teoria
que justifique o avanço científico confrontado com a degradação da espécie como
um todo: moral e materialmente.
Avançamos tanto em dimensão tal que já denominamos o processo de destruição do planeta, em decorrência do estágio de evolução humana, dando vezo a uma nova era geológica: a do antropoceno. Ou seja, a artificialidade desenvolvida pelo homem ‘engolindo’ a Natureza, em torno da qual perdeu o senso do quanto dela depende e quão insubstituível o é, assumindo-se como a grande ameaça para o planeta.
Não
bastando, esgotamos os limites de oferta da Natureza à sobrevivência e
caminhamos – a passos muito muito largos – para o singular estágio de concentração
de toda a espécie nesta “cápsula de Petri” em que tornamos a Terra. Afinal,
último estágio/etapa da valiosa contribuição ao antropoceno, vitória inexorável
do artificial sobre o natural, da qual nada levaremos.
Como antecipação do necrológio
que se avizinha, para os organismos da ONU que acompanham a Sobrecarga da Terra
(The Earth Overshoot), o limite se esgotou no último 22 de julho deste nada
augusto ano.
Filósofos reconhecidos no
curso da vida e da história – que se despertaram para o “amor pela Sabedoria”, “humanamente
conscientes” etc. etc. etc. – mantêm a
pergunta milenar: POR QUÊ?
Resta-nos – nada mais – retornar
às origens da Filosofia para desenvolvermos a teoria da negação aos seus
postulados.
Certamente através da Inteligência Artificial o que ora denominam aquilo que artificializa o pouco de inteligência que nos resta.
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