No último século antes da Era Cristã os romanos avançavam para consolidar sua expansão econômica e territorial dependendo em muito do produzido nas províncias conquistadas. Alcançaria foro de império em dimensões gigantescas no curso dos anos (Norte da África, Península Ibérica e Oriente Médio), mas houve tempo em que Roma dependia dos mares e não se pode dizer que detivesse controle pleno sobre eles; os riscos de navegar muito grandes, incluindo a temida pirataria no entorno da Sicília.
Por volta de 70 a.C. ao general Pompeu (106-48 a.C.) a incumbência de transportar o trigo das províncias para a sede do Império de Roma e diante do temor esboçado por seus comandados – afirma-o o historiador Plutarco – teria proferido a famosa frase que veio a ser referência para o poema de Fernando Pessoa “Navegar é Preciso” como tema para a criação como vocação do homem, que o insigne português punha acima do próprio viver:
Naqueles tempos, os riscos de navegação eram grandes, em virtude das
limitações tecnológicas e dos vários ataques piratas que aconteciam com
relativa frequência. Sendo assim, os tripulantes daquela viagem viviam um grave
dilema: salvar a cidade de Roma da grave crise de abastecimento causada por uma
rebelião de escravos, ou fugir dos riscos da viagem mantendo-se confortáveis na
cidade de Sicília. Foi então que, de acordo com o historiador Plutarco, o
general Pompeu proferiu a lendária frase.
Não afirmemos que tenha Lula lido Plutarco, mas – quando nada – sabe-o
pronunciada por Ulisses Guimarães, ao lançar-se anticandidato à Presidência da
República em setembro de 1973 enfrentando a peito aberto a ditadura militar
naquela fase das mais macabras.
Os riscos de aventurar-se por mares bravios (enaltecidos por Camões nos
Lusíadas) não constitui privilégio ou primado de uma época, de um instante no
curso da História, mas do reconhecimento da dignidade diante do terror, do
medo, do assombro. A perseverança em marcar posição em defesa de um ideal acima
da própria vida.
Afastado de qualquer ufanismo nos filiamos ao enfrentamento levado a
termo pelo Presidente Lula ao questionar o genocídio posto em prática por Israel
(em sua dimensão sionista) sob o crivo de Netanyahu. Não por ser Lula
presidente do Brasil; mas por existir e levantar sua voz contra tamanho absurdo.
Sua grandeza existe em externar sua voz contra oprimidos além fronteiras.
Afinal, o povo palestino não pode ser confundido com este ou aquele grupo que
ponha em prática atos condenáveis. Quem admite que a matança que ultrapassa 30
mil mortos – que não são do Hamas – entre recém nascidos, mulheres e idosos,
hoje privados até de alimentação, não o faz por conhecimento histórico,
tampouco por reconhecer Jesus como sionista. Afinal, por defender o que
defendeu foi assassinado pela cúpula do Sinédrio que impôs a Pilatos sua
condenação sob pena de ser ‘traidor’ de Roma.
Afinal, como já registramos neste espaço (Lá estavam os Cananeus)
DEUTERONÔMIO 20
16 Contudo, nas cidades das nações
que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança, não deixem vivo nenhuma alma.
17 Conforme a ordem do Senhor, o seu Deus,
destruam totalmente os hititas, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os
heveus e os jebuseus.
...
1
SAMUEL 15
3 Vai, pois, agora e fere a
Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém
matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os
bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.
Os que enfrentaram o poder concentrado e manipulado sabem – alguns não
tiveram tempo de percebê-lo no existir – que põem sua vida em risco. Os loucos
e desvairados aí estão imaginando-se heróis. Que o digam Lennon, Kennedy,
Gandhi, Luther King e profetas do Velho Testamento (o último deles,
Jesus de Nazaré, assassinado por enfrentar o poder judaico de então).
Há quem pense em si em detrimento dos que sofrem. Mas não cabe somente
aos profetas clamar contra as injustiças, contra os poderosos.
Dito isso, pode não ter Lido Plutarco ou Fernando Pessoa, mas deste
certamente o Presidente Lula conhece e verberou para o mundo: “Tudo vale a pena
/ se a alma não é pequena” (Mar Português).
E do poema trazemos sua conclusão:
“Deus ao mar o perigo
e o abismo deu,
Mas nele é que
espelhou o céu”