A lucidez não permite
tolerar o que acontece no país. Pouco mais de ano da tentativa de ruptura constitucional,
de derrubada das instituições que sustentam o Estado Democrático de Direito, de
tentativa de golpe para destituir um governo recém-empossado, de terrorismo
explícito (bomba em carro tanque ao lado do aeroporto de Brasília), de ameaça
de matar ministro, de invasão e depredação de prédios públicos em centros e
sedes de Poderes da República, de conhecimento de reunião golpista no Planalto
em dimensão ministerial etc. etc. e o ex-presidente(?) anuncia ato em espaço
público em defesa dos interesses inconfessáveis que defende.
Dele individualmente este
escriba de província nada espera, tampouco cobra. Mesmo porque tem consciência
de que a chegada do ‘ilustre’ aonde chegou não foi fruto de sua (in)capacidade
individual, mas de uma articulada trama (e muito bem articulada!), baseada não
só em projeto alheio territorial e politicamente ao país; mas de efetiva
participação de parcela da judicatura (Curitiba e TRF-4), incluindo o STF e o
TSE que tanto fizeram e contribuíram para que o dito cujo vencesse as eleições.
Por tal razão toda e
qualquer adjetivação hoje atribuída ao próprio e levada aos quatro cantos como
crítica não convence este escriba como novidade.
Apenas avivando o fogo da lembrança – as cinzas não se fazem à custa da realidade do fogo que a origina? – alguém das cúpulas (Judiciário, Forças Armadas etc. ou da sociedade civil-empresarial) desconheceria a atuação terrorista do inominado nos idos de 1986 (explodir a adutora do Guandu, no Rio de Janeiro) que o levaram à prisão por 15 dias e se consumou com a sua reforma aos 33 anos dois anos depois?... Ou o que dele dizia o ex-presidente Ernesto Geisel – para quem o mais ameno era chamá-lo de "mau militar"?
A reforma do então tenente
– solução técnico-jurídica encontrada pela Justiça Militar – mais visou burlar
a opinião pública, ou maquiar a ‘justiça’ interna
corporis. A inoportunidade e momento histórico não poderiam reconhece-lo
expulso por ato de terrorismo diante da imagem desgastada de uma ditadura
militar que acabava de ser defenestrada (a qual sempre defendeu, e para ele no
período deveriam ter sido mortos/assassinados 30.000 Brasil a fora).
Não, caro e paciente
leitor deste escriba de província. A atuação do STF legitimou o ilegitimável,
de admitir a inconstitucional prisão em segunda instância – lançando às
calendas o trânsito em julgado fixado na Constituição Federal como direito
pétreo – não bastasse haver deixado correr frouxo um processo de impeachment,
legitimado pela Corte sob o pálio da omissão.
Sabido e consabido que a prisão do então ex-presidente Lula inviabilizaria sua candidatura e a garantia desta ficou aguardando na gaveta do Ministro Fachin até que fosse conveniente e garantido o seu alijamento do processo eleitoral;. E preso estava epois de 1 ano e 8 meses de processado, com decisão do TRF-4 que ampliou a condenação unânime na dosagem de penas (os três julgadores concordaram até nas vírgulas com o relator!.
A ex-presidente Dilma Roussef
fora defenestrada sob a anuência deste mesmo STF, a ponto de um Ministro
declarar em entrevista que a questionada inconstitucionalidade do processo de
impeachment não poderia ser analisado pela Corte por se tratar de tema correto
sob o prisma da processualística interna do Câmara, ainda que a questão que lhe
cabia dizia respeito à ausência de objeto, ou a inconstitucionalidade do objeto
que amparava àquele. Tal absurdo (ou conveniente ‘frouxidão’ diante do sistema
que se beneficiaria de tudo) representava o mesmo que dizer que um inquérito
policial armado para perseguir alguém, sem indícios de crime, seria válido
porque internamente estava regularmente constituído.
Lemos recentemente que “as
redes” estão sob “controle” de admiradores do ex-inquilino do Alvorada.
Residiria aí o temor das instituições diante dos absurdos em curso?
Como cobrar de quem
alcançou o poder máximo do país à custa de tamanhas omissões?
Não, caro e paciente
leitor deste escriba de província. Não há justificativa alguma para chorar o
leite derramado. Em especial para o intolerável.
Ou será que o ‘absurdo’
tem razão para existir e mesmo ser alcançado por uma ‘anistia branca’?
Certamente isso estaria em
andamento caso depois do ato anunciado (legitimador dos absurdos perpetrados e
provados à exaustão) se torne confissão escancarada da covardia institucional e
não esteja o ex-inquilino do Alvorada preso.
Ou – quem sabe? – conseguindo asilo como político “perseguido”, na vizinha Argentina!
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