Dos mais pungentes contos da Literatura pátria “Os Ciganos”, de Sabóia
Ribeiro (da obra Rincões dos Frutos de Ouro – contos regionais da Bahia, de
1928, reeditado pela Editus em 2005). A comovente conclusão não deixa de
transitar por entre as relações humanas em dimensão de poder em nível de
província, ali representado pelos interesses pessoais de um delegado, e as
agruras e sofrimentos deste ou daquele que se vê a tal circunstância submetido.
No conto um cigano causara prejuízo em negócio realizado e o bando a que
pertence somente pode novamente entrar no povoado, tempos depois, caso não
trouxesse aquele, sob pena de todos serem presos, o que é aceito pelo chefe dos
zíngaros.
Em meio às agruras por que passam seus integrantes uma em particular
comove a localidade: uma criancinha, de primeiros meses, que vai morrendo aos
poucos sem que qualquer das iniciativas para salvá-la, inclusive médicas, o
consiga.
Registra Sabóia o drama vivido por todos (ciganos e população) em torno
do infante:
“Era um bebê languento, pobre ente mirrado, costelas de fora, pele
seca, e pregueada, em cujo rosto avultavam, de cada lado da boca, como dois
parêntesis, duas fortes rugas cavadas... O infante quase não dava acordo de si,
langue e flácido, frio, com alternativas de um pranto choramingado, sentido.
Depois de alguns dias, era, já, em romaria, que a gente do povoado,
mulheres sobretudo, acorria à barraca, onde definhava o mísero. E lá estava
ele, nos maternos braços, cada vez mais entanguido, mais consunto e mumífeito,
esgargalhado, imóvel, menos os olhinhos, muito acesos, movendo-se como
procurando compreender algo, hipotérmico. E foi numa agonia surda,
imperceptível, sem convulsão, sem trejeito de face, sequer, que ele, enfim, se
extinguira.
A própria mãe não o sentiu, dando com o pequenino frio, bem morto, no
aconchego do colo.”
E todos foram sepultá-lo, viventes de uma agonia que os atingira e
levava-os à solidariedade capaz de demonstrar a razão por que da existência
humana arvorar-se superior.
No trajeto, escondido num capão de mato, o cigano foi reconhecido e
contra ele o delegado deu ordem de prisão, depois de identificá-lo.
Só restou ao “acobardado e trêmulo” articular:
“– Sou, inhor sim, patrão. Prender pode, inhor sim, isto pode – mas deixe ver primeiro o anjinho que morreu... sou o pai dele...”.
Só restou ao “acobardado e trêmulo” articular:
“– Sou, inhor sim, patrão. Prender pode, inhor sim, isto pode – mas deixe ver primeiro o anjinho que morreu... sou o pai dele...”.
Nenhum instante de uma existência pode ser medido em sofrimento como aquele em que se pranteia um amigo, um parente. E não é algo que se esvaia com a dolorosa separação com o sepultar. Tudo permanece por dias, meses, quantos mais entre si viveram o que se foi e os que ficam.
A sensibilidade humana sempre cobrou respeito para com tais instantes. A civilização tratou de desenvolver a cultura de enterrar seus mortos e de respeitá-los enquanto tal. Até como um direito inalienável, universal. Religiões mesmo atribuíram o luto como uma forma de lembrar aos demais a dor por que o que o veste passa.
Tudo vem-nos à baila diante do que lemos: com mandado expedido no dia da cerimônia de missa pelo 7º dia de falecimento de Marisa Letícia – no qual consta até o nome da falecida – audiência designada para ouvir Lula no próximo dia 15. Mantida, apesar de requerimento da defesa por adiamento amparada nos fatos recentes.
Entre o poder do delegado provinciano e o de um juiz que tem lado tudo
fica explicado. Deitados sob a mesma frondosa árvore da mesquinhez humana
debocham do semelhante. Esquecidos – se em algum tempo o tiveram – dos
sentimentos que marcam o homem como expressão da Humanidade.
Raposa
no galinheiro
Reforma da previdência será relatada pela previdência privada. Outra não
poderia ser uma manchete diante do fato de o deputado Arthur Maia (PPS-BA)
haver sido o ‘escolhido’ para relatar a reforma da previdência.
Tudo porque o dito cujo apenas recebeu 300 mil para sua campanha, oriundos do Bradesco Vida e Previdência. E outras gorjetas vieram do Itaú (R$ 100 mil), Safra (R$ 30 mil) e Santander (R$ 100 mil).
Não custa lembrar que Maia é sobrinho de Nilo Coelho, o Nilo Boi,
singular exemplo de 'servir ao povo'.Tudo porque o dito cujo apenas recebeu 300 mil para sua campanha, oriundos do Bradesco Vida e Previdência. E outras gorjetas vieram do Itaú (R$ 100 mil), Safra (R$ 30 mil) e Santander (R$ 100 mil).
Nada
escapará
Quase uma centena de entidades da sociedade organizada, inclusive de
órgãos públicos, alertam para os graves retrocessos embutidos na MP 759/2016,
que alcançará campo e cidade, violando princípios e fundamentos de políticas
urbanas e sociais, levada ao Congresso sem qualquer discussão com as entidades
e organizações sociais.
Da política urbana à Amazônia, das conquistas de décadas, tudo de roldão será levado.
A grita não levará a nada – infelizmente – com o Congresso atual e os
interesses em jogo, representados por eles.Da política urbana à Amazônia, das conquistas de décadas, tudo de roldão será levado.
O
retorno
Mal instalado o governo do interino tornado presidente o sonho da classe
dominante – que se diz elite (“Branca”, como o afirma Cláudio Lembo) – caminha
para o gáudio de ver a escravidão mais próxima.
Afinal – como registra O Globo – 500 mil já retornaram ao Bolsa Família.
Afinal – como registra O Globo – 500 mil já retornaram ao Bolsa Família.
É o retorno à pobreza e à miséria.
Na falta de filé osso é caviar
De
Cláudio Humberto sobre a CEF comemorando 11,4% de aumento nos negócios de
penhor:
“Não foram considerados os custos afetivos, a
angústia e a dor, muito menos as lágrimas das pessoas que recorrem à penhora de
bens para enfrentar a crise, pagar contas, dívidas, e sobreviver.”
Sem adentrar no mérito do que pensa Cláudio
Humberto – o que aí está passa por seu “sonho” de consumo – o que diz sobre a
“comemoração” da CEF traduz a mais absoluta razão.
Na falta de filé – os depósitos na poupança
estão minguando a cada mês – osso é caviar.
Gilmar
x Moro e vice versa
Um
passa a ser contra as prisões preventivas/provisórias por tempo indeterminado;
outro, mantem-se em razão delas. Inclusive como forma de obter delações.
Anulada
Quanto
custará ao Brasil a irresponsável falência da Panair – anulada judicialmente –
promovida pela truculência militar no imediato do golpe.
Tal
como, no futuro, a quebradeira – articulada – da indústria de construção civil
nacional.
Afinal,
eis os dados mais recentes, noticiados na imprensa:
"Braço de construção da Odebrecht encolhe pela metade com a Lava Jato. Empresa demite mais de 50% dos funcionários e receita tem queda de 57% em relação a 2014".
Medrou
A
iniciativa de proibir gravações em audiência – o que vinha acontecendo – é primeiro
passo para compreender que o juiz Sérgio Moro medra diante de fatos concretos.
Afinal, acompanhar uma audiência presidida por Sua Excelência é oportunidade de
confrontar seus saberes jurídico-processuais com a realidade.
Para nós –
observador de província – é medíocre e limitado. Dirceu, Eduardo Cunha, Marcelo
Odebrecht o puseram no bolso e não entraram no seu jogo.
Advogados já o acusaram ao vivo e em cores.
No
imediato de uma audiência com Lula teme ser flagrado enrolado pelo torneiro
mecânico.
Acinte
Quando Dias Tóffoli
foi indicado para ocupar vaga no STF foi um escândalo. A de Alexandre de Morais
é entendida como um acinte ao mundo jurídico e um escárnio para com a nação.
Nenhum dos
adjetivos que traduzem um “notável saber jurídico” será aplicado ao indigitado
indicado pelo interino tornado presidente.
Nada contra a
exercer a advocacia em defesa de empresas que lavam dinheiro para o PCC ou de
Eduardo Cunha. O exercício profissional é opção do próprio profissional. No
entanto, moralmente não o habilita a uma vaga no STF.
Tampouco o fato
de plagiar autor estrangeiro, sem se dignar citá-lo. Coisa comum até na era do
ctrl-C + ctrl-V.
O mais medíocre – caso consumada a indicação – chegará ao STF para mostrar que este Brasil não
vale mais nada como nação e tornou-se um coio de uma quadrilha.
A
verdade nua
“Moraes
tem todos os predicados para compor o STF” – afirmou o ministro Gilmar Mendes.
Desde quando Mendes está lá fazendo o que faz e nada lhe acontece, tem toda a
razão.
Por
outro lado, pelo nível do pensamento jurídico que norteia as cortes
jurisdicionais do país Moraes é apenas mais um.
Por
fim, o país vive o que sonhava a sua classe dominante. Resta concluir o
aparelhamento.
Premiando
o atraso
Por
elegância citamos a ação verbal premiar em vez de conluiar. Afinal, em meio a
tantos criminosos que certamente sairão beneficiados com a indicação tudo não
passa de mais uma ação criminosa travestida de exercício de direito.
Para
o governo do interino tornado presidente a indicação de Alexandre de Moraes
para o STF define sua linha de ação: nada de intermediários.
Eis
o nível
O
estágio de degeneração institucional no Brasil chegou ao ponto de –
considerando a omissão de inúmeras organizações da sociedade civil – termos de reconhecer
razão a Eduardo Cunha. Afinal, está certo em suas colocações em artigo publicado
na Folha, onde “pede respeito à Constituição”.
Mas,
este é o quadro: considerando a comprovação de crimes praticados por Eduardo
Cunha está cabendo a ele – criminoso – cobrar de público o cumprimento da lei.
Coisa
que o STF anda escolhendo como e quando fazer.
Tudo
dominado!
O
acordão de que falava – e traçava – Machado com Romero Jucá, em março do ano passado, vai se consumando.
O traçado envolve o PSDB, o DEM, o PSB e o PMDB no que diz respeito à Lava
Jato, em que pese a gloriosa PGR de Janot ver somente o PT como interessado
(Patrícia Faermann, no GGN).
O
que está nos restando
Espernear,
por certo. Mas, melhor que se acomodar. A ironia – espernear, por certo –
porque não souberam exercitar o poder quando o comandaram, por não compreender,
em profundidade, o que representa a histórica aliança dos poderosos diante de
interesses alcançados/reduzidos na sanha do “tudo para mim”.
Sempre,
no plano do que escrevemos, nos pautamos na opinião. Como tal, até mesmo
concordâncias podem – e são – alcançadas pelos desvios daqueles sobre os quais
residem nossas críticas.
A
propósito, os deputados federais Carlos Zarattini e Wadih Damous levantam
questionamento, por representação, contra delegados da Polícia Federal que
ultrapassaram os limites da funcionalidade.
Para
um governo que indica Alexandre para ministro do STF esperar o quê?
Esperneio,
tão somente.
Ao
mocambo, todos!
A
tragédia vista por uma de suas facetas: a casa própria. O inadimplente ainda
será multado.
Na ironia de PHA cabe ao ‘quebrado/enforcado” pagar pela corda.
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