sábado, 14 de abril de 2018

Sem dar um tiro


Os fatos recentes (nestes três, quatro últimos anos) passam ao largo da observação e da leitura histórica como se não fossem farinha e fermento para a massa que resulta no bolo recentemente assado. Imagine o leitor quando aprofundam-se em razões não alcançadas pelo vil mortal.

Vêm-nos, a propósito, a relação de eventos histórico-sulamericanos que relacionam José Manuel Balmaceda, Francisco Solano López (séc. XIX), e Getúlio Vargas (séc. XX), para se repetirem com Lula neste limiar do século XXI: a intervenção do capital externo através de governos. Ficamos com esses, para não nos estendermos a similitudes tipo Honduras, Nicarágua, Cuba, Costa-Rica, Panamá, Venezuela, Bolívia etc. etc.

Uma outra, de ordem interna, que reflete a conformação da sociedade brasileira, emergindo em sua dimensão classista como dominante em relação aos dominados. Sem compromisso algum para com a pátria.

Quem lembra de uma conversa por telefone entre Dilma e Lula, grampeada e vazada por Sérgio Moro para a imprensa? Os que lembram da violação à intimidade funcional de um Chefe de Estado ficam nos limites ‘teórico-formais’ da ilegalidade apenas. E, mais que isso, não atentam para o fato de que o então ministro Teori Zavaski, do STF, legitimou a atitude indecorosa e fortaleceu quem cometeu a ilegalidade, o juiz Moro.

Mas – caro leitor – ninguém atenta para um outro aspecto: a rapidez com que tudo se deu, entre o telefonema e o vazamento por Sérgio Moro, somente seria possível – afirmam-no os técnicos – utilizando-se de sistema tecnológico privativo da CIA e quejandos, nos Estados Unidos. Ou seja, a Presidente da República ‘continuava’ grampeada – como já ocorrera antes – e monitorada por órgãos estadunidenses, e estes passavam a autoridades brasileiras o que lhes interessava. Ou estas àqueles recorriam quando necessário, como no caso de Moro e o grampo.

Uma gravíssima violação à soberania nacional, que, em qualquer país que se dá ao respeito, levaria Sérgio Moro às barras dos tribunais. Não fora a aquiescência de Teori Zavaski, e a omissão, ainda, do Procurador-Geral da República de então e do Ministro da Justiça etc. etc.

Todo o escrito até aqui remete àquela relação posta no início: Balmaceda, Solano López e Getúlio Vargas, para repetir-se com Lula/PT e sua política de autonomia para o Brasil.

Balmaceda – levado ao suicídio para evitar uma guerra civil no Chile – promovera a competição entre capitais estadunidenses e os ingleses, no controle do cobre quando a Bretanha dominava o mundo. Buscava superar – com o dinheiro dos Estados Unidos – o controle da Inglaterra, que importava o cobre a preço vil e o devolvia a peso de ouro. Balmaceda tentou beneficiar o cobre no próprio Chile, ali industrializando-o. Caiu.

Solano López – Satanás pintado pela história oficial brasileira – reformava profundamente o Paraguai e já desenvolvera uma indústria naval e bélica que incomodava a Inglaterra. Lembra o leitor que, ainda ao tempo da rainha Elizabeth, no séc. XVI, o dito trazido por Sir Walter Raleigh, de que “Quem dominar os mares dominará o mundo”, fizera da coroa britânica (inclusive se utilizando da pirataria em benefício próprio na disputa contra a Espanha) estar em qualquer parte do planeta em pleno dia, porque o ‘sol não se punha no império britânico’, com colônias e possessões que iam da América ao Oriente, África e Austrália, sem descurar do Oriente Médio. 

Moveram-lhe uma guerra (a Solano López), depois da provocação, e o mataram (alguma semelhança com Saddan Hussein, em tempos de controle dos Estados Unidos, não é mera coincidência).

Getúlio Vargas se utilizara de meios como os de Balmaceda – capitais externos – para industrializar o Brasil, inclusive estadunidenses (Volta Redonda) e alemães (Mannesmann). Mas não se curvou a entregar a Petrobras. Suicidou-se para evitar uma guerra civil ensaiada e por consumar-se.

Lula tornou o país competitivo, respeitado, e melhorou a vida dos brasileiros com políticas públicas de distribuição de renda, incluindo ganhos reais para o salário mínimo, a ponto de tais políticas levarem o país ao menor índice de desemprego, de 4,3% (pleno emprego, para a teoria econômica). E – a causa maior de sua desgraça – descobriu o pré-sal e suas reservas que ultrapassam os 100 TRILHÕES de dólares e as fez vinculadas à Petrobras sua exploração (pelo sistema de partilha), pretendendo que os resultados econômico-financeiros fossem destinados à educação, à saúde e à pesquisa científica.

Os interesses dos agentes econômicos dos países hegemônicos sempre fizeram desta América Latina e Central o quintal para uso e abuso. Quando algum líder destas bandas se levantava para enfrentá-los a intervenção armada o destronava.

Atualmente, a intervenção é política, e não bélica. Com apoio judicial. A experiência paraguaia, que derrubou Lugo, se repetiu em plenitude aqui. Inclusive a embaixadora estadunidense que por lá andara, assim que exitosa, migrou para a terra brasilis.

Por tais razões, observadas sob o que a História nos permite utilizar, até que nos provem a existência do crime cometido por Lula para condená-lo – não na base de teorias esdrúxulas e destoantes com o próprio processo – tudo não passa de dominador e dominado. 

Difícil compreender que o dominador hoje se utiliza do dominado e de algumas de suas instituições para sair vitorioso. Com o público interno como massa de manobra. E vence a batalha sem dar um tiro.

Próxima semana: análise sobre a denúncia de Gilmar Mendes, em torno das ‘delações combinadas'. O que está por trás de uma aparente defesa da constitucionalidade.

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