Os fatos recentes (nestes três, quatro últimos anos) passam ao largo da
observação e da leitura histórica como se não fossem farinha e fermento para a
massa que resulta no bolo recentemente assado. Imagine o leitor quando
aprofundam-se em razões não alcançadas pelo vil mortal.
Vêm-nos, a propósito, a relação de eventos histórico-sulamericanos
que relacionam José Manuel Balmaceda, Francisco Solano López (séc. XIX), e
Getúlio Vargas (séc. XX), para se repetirem com Lula neste limiar do século XXI:
a intervenção do capital externo através de governos. Ficamos com esses, para não
nos estendermos a similitudes tipo Honduras, Nicarágua, Cuba, Costa-Rica,
Panamá, Venezuela, Bolívia etc. etc.
Uma outra, de ordem interna, que reflete a conformação da sociedade brasileira,
emergindo em sua dimensão classista como dominante em relação aos dominados. Sem compromisso algum para com a pátria.
Quem lembra de uma conversa por telefone entre Dilma e Lula, grampeada e
vazada por Sérgio Moro para a imprensa? Os que lembram da violação à intimidade
funcional de um Chefe de Estado ficam nos limites ‘teórico-formais’ da
ilegalidade apenas. E, mais que isso, não atentam para o fato de que o então
ministro Teori Zavaski, do STF, legitimou a atitude indecorosa e fortaleceu quem cometeu
a ilegalidade, o juiz Moro.
Mas – caro leitor – ninguém atenta para um outro aspecto: a rapidez com
que tudo se deu, entre o telefonema e o vazamento por Sérgio Moro, somente
seria possível – afirmam-no os técnicos – utilizando-se de sistema tecnológico
privativo da CIA e quejandos, nos Estados Unidos. Ou seja, a Presidente da
República ‘continuava’ grampeada – como já ocorrera antes – e monitorada por
órgãos estadunidenses, e estes passavam a autoridades brasileiras o que lhes
interessava. Ou estas àqueles recorriam quando necessário, como no caso de Moro e o grampo.
Uma gravíssima violação à soberania nacional, que, em qualquer país que se dá ao respeito, levaria Sérgio Moro
às barras dos tribunais. Não fora a aquiescência de Teori Zavaski, e a omissão,
ainda, do Procurador-Geral da República de então e do Ministro da Justiça etc.
etc.
Todo o escrito até aqui remete àquela relação posta no início:
Balmaceda, Solano López e Getúlio Vargas, para repetir-se com Lula/PT e sua
política de autonomia para o Brasil.
Balmaceda – levado ao suicídio para evitar uma guerra civil no Chile –
promovera a competição entre capitais estadunidenses e os ingleses, no controle
do cobre quando a Bretanha dominava o mundo. Buscava superar – com o dinheiro
dos Estados Unidos – o controle da Inglaterra, que importava o cobre a preço
vil e o devolvia a peso de ouro. Balmaceda tentou beneficiar o cobre no próprio
Chile, ali industrializando-o. Caiu.
Solano López – Satanás pintado pela história oficial brasileira –
reformava profundamente o Paraguai e já desenvolvera uma indústria naval e
bélica que incomodava a Inglaterra. Lembra o leitor que, ainda ao tempo da
rainha Elizabeth, no séc. XVI, o dito trazido por Sir Walter Raleigh, de que “Quem
dominar os mares dominará o mundo”, fizera da coroa britânica (inclusive se
utilizando da pirataria em benefício próprio na disputa contra a Espanha) estar
em qualquer parte do planeta em pleno dia, porque o ‘sol não se punha no
império britânico’, com colônias e possessões que iam da América ao Oriente,
África e Austrália, sem descurar do Oriente Médio.
Moveram-lhe uma guerra (a
Solano López), depois da provocação, e o mataram (alguma semelhança com Saddan
Hussein, em tempos de controle dos Estados Unidos, não é mera coincidência).
Getúlio Vargas se utilizara de meios como os de Balmaceda – capitais externos
– para industrializar o Brasil, inclusive estadunidenses (Volta Redonda) e
alemães (Mannesmann). Mas não se curvou a entregar a Petrobras. Suicidou-se
para evitar uma guerra civil ensaiada e por consumar-se.
Lula tornou o país competitivo, respeitado, e melhorou a vida dos brasileiros
com políticas públicas de distribuição de renda, incluindo ganhos reais para o
salário mínimo, a ponto de tais políticas levarem o país ao menor índice de
desemprego, de 4,3% (pleno emprego, para a teoria econômica). E – a causa maior
de sua desgraça – descobriu o pré-sal e suas reservas que ultrapassam os 100 TRILHÕES
de dólares e as fez vinculadas à Petrobras sua exploração (pelo sistema de
partilha), pretendendo que os resultados econômico-financeiros fossem destinados à educação, à saúde e à
pesquisa científica.
Os interesses dos agentes econômicos dos países hegemônicos sempre fizeram desta
América Latina e Central o quintal para uso e abuso. Quando algum líder destas
bandas se levantava para enfrentá-los a intervenção armada o destronava.
Atualmente, a intervenção é política, e não bélica. Com apoio judicial. A experiência paraguaia, que derrubou Lugo, se repetiu em plenitude aqui. Inclusive a embaixadora estadunidense que por lá andara, assim que exitosa, migrou para a terra brasilis.
Por tais razões, observadas sob o que a História nos permite utilizar, até que nos provem a existência do crime cometido por Lula para
condená-lo – não na base de teorias esdrúxulas e destoantes com o próprio
processo – tudo não passa de dominador e dominado.
Difícil compreender que o
dominador hoje se utiliza do dominado e de algumas de suas instituições para
sair vitorioso. Com o público interno como massa de manobra. E vence a batalha sem dar um tiro.
Próxima semana: análise sobre a denúncia de Gilmar Mendes, em torno das
‘delações combinadas'. O que está por trás de uma aparente defesa da constitucionalidade.
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