domingo, 29 de abril de 2018

O país sem futuro


Parodiar Stephen Zweig torna-se apropriado ao instante. Quando publicou sua obra, “Brasil, o país do futuro” (1941), certamente não imaginava o que aconteceria no limiar do século XXI ao país que o acolheu – e o encantou – quando fugou do nazismo.

O quadro pode ser iniciado por aquilo que está a ocorrer com o andar de baixo: rendimento mensal dos brasileiros mais pobres caiu de 76 para 47 reais em 2017, segundo o IBGE.

Vai piorar, porque os dados se referem ao ano passado.

O quadro lembra o futuro ‘promissor’ de trabalhar a troco de um prato de comida. Não faltará quem promova troca de trabalho por um pedaço de pão dormido. Ou a volta da meia tigela, procedimento utilizado por mineradores das gerais para o escravo que não alcançava o resultado exigido, daí a origem da expressão “meia tigela” como sinônimo de gente de menor valia.

O rombo aumenta porque não há atividade econômica. Sem atividade econômica faltam recursos para pagar os juros, porque para o custeio da máquina estatal o há. Então, vende-se o patrimônio público para fazer dinheiro para pagar/enganar os juros, em vez de investir. Não investindo a atividade econômica não avança... Eis o ciclo em que se esvai pelo ralo a riqueza nacional. Como política de Estado. A festa do neoliberalismo e dos rentistas.

O rentismo – sistema de inusitada atuação no Brasil – onde a indolência dispensa o trabalho dos que dispõem de recursos para aplicar no mercado financeiro não deixa de frequentar as páginas dos jornais, inclusive estrangeiros (Le Monde). Um escândalo, através do qual migra a escassa riqueza produzida pelo conjunto da sociedade para a bolsa de um escasso punhado de nativos.

Educação, Saúde, Saneamento Básico, Pesquisa Científica, Infra-estrutura – tudo alcançado pelo contingenciamento, caso contrário não sobra dinheiro para os juros da dívida. Porque, caso não seja assim, não continuaremos no 'honroso' patamar de terceiro pior país em desigualdade de renda.

Mas, enquanto tal processo anda a passos largos vão-se novas joias da coroa: a Eletrobras, onde já investidos 400 bilhões busca arrecadar 20 com a privatização anunciada.

Difícil sairmos deste determinismo, programado pela classe dominante controlada por punhado, pequeno punhado, de peças que domina e promove a (des)informação. Que não escapa nem ao estrangeiro, que o diga a Al Jazeara (abaixo).

Não falta quem reconheça estarmos caminhando para o primeiro mundo. Tanto que já dispomos de colégio que cobra em equivalência a dólar americano, porque fica mais bonito para o subserviente nativo endinheirado falar que paga mensalidade em DÓLAR AMERICANO. Não é coisa para quem não seja rico. Tanto que quase 1 milhão de jovens – que não pôde ter acesso ao ENEM em razão das novas regras impostas para a inscrição – e outros 500 mil que tiveram pedido de dispensa de pagamento da inscrição negado não terão como chegar à universidade, denuncia a CUT. Mas, isso não vem ao caso – dirá aquele magistrado.

Visível que capengamos. E, para piorar, até em searas outras passamos a buscar o fundo do poço como apoteose. Como na jurídica, quando estamos a enveredar por “Justiça” ‘arquitetada sobre o princípio da incompetência, da vilania e do desprezo à democracia’, como diz Marcos César Danhoni Neves.

Na esteira do que pratica de desmanche jurídico o próprio Judiciário através de figuras de altas Cortes abrimos ao público um novo tema para discussões: o Direito em seara de visão pessoal, dispensado de ser compreendido sob a égide de princípios e fundamentos, tornando-se mais um tema de “papo de botequim”. Assim, não mais futebol, religião ou política – e a vida alheia, naturalmente – também a ‘interpretação’ jurídica. Espelhada a freguesia no que dizem dominar certos analistas de TV e jornalistas, tornados entendedores do assunto com argumentos vazios e destituídos de razões científico-jurídicas.

Decididamente estamos bem próximos do fundo do poço. Sem futuro algum para o povo. Mas continuamos a trajetória. Prestes a alcançá-la cabe chamar Gláuber Rocha para filmar um novo Terra em Transe, essa terra brasilis.

Contrariando Stephen Zweig.

No contraponto, um ex-favelado, governando o estado da Bahia, inaugura um metrô.

                     
                     

PRÓXIMA SEMANA: O que assusta Sérgio Moro e quejandos.

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