domingo, 17 de junho de 2018

Deprimências

O jornalismo dito econômico no Brasil – porque muito mais político partidário -, não bastasse o seu significativo caráter ideológico, leva o mais observador ao impasse entre deixar de assisti-lo ou tolerá-lo, para criticá-lo.

A segunda hipótese tem nos alimentado. Até como forma de sobrevivência. A indignação reprimida apenas nos afetaria a saúde; a crítica, então, passa a ser um descarrego (ops!) bem à maneira do que faz parcela significativa de templos evangélicos.

Nenhuma das teorias neoliberais aplicadas resolveu coisa alguma para os países em que aplicada, a não ser engordar o bolso de aplicadoras e a bolsa do assaltante mercado livre das amarras do estado.

O país, até 11 de junho – segundo José de Castro, no Valor Econômico – torrou mais de 38,6 bilhões de dólares para ‘conter’ a alta da moeda estadunidense, vendendo o chamado swap cambial, uma garantia para o investidor de que não perderá com a alta da moeda estadunidense. Em reais, a quantia beira os 150 bilhões.

Não resolve, porque tudo acontece para assegurar a manutenção da especulação, em detrimento da atividade econômica, que não avança.

Para que o leitor possa melhor entender (o que não fazem os senhores comentaristas econômicos) o dinheiro retirado do Bolsa Família (com previsão orçamentária de 28,8 bilhões de reais pra 2018, reduzida em 13,1% em relação a 2014), que auxilia – pelo consumo – a atividade econômica, é bem menos que o gasto com o “agrado”. E bem mais que o destinado para a Saúde em 2018, estimado em R$ 130,3 bilhões, e mais que o dobro do previsto para Investimentos – R$ 68,8 bi, conforme apuramos em dados originários do Governo Federal.

Mas, em tempo de Copa do Mundo, talvez, a melhor avaliação do que se passa em nível de ‘informação econômica’ na grande mídia (concentrada na mão de meia dúzia de famílias) esteja refletida no artigo de Philipp Lichterbeck, para o alemão Deutsche Welle,em “O eterno Galvão”, falando de futebol, Globo e Galvão Bueno: 

A concentração de poder nas mãos de poucos também é característica da política brasileira, onde, há décadas, os mesmos senhores se refestelam nos mais diferentes postos. Alguns políticos aproveitam para abrigar a família inteira na profissão, clãs familiares e círculos de amigos dominam Estados inteiros. E, naturalmente, fazem de tudo para manter o poder. Por isso, é claro que novatos ficam desencorajados ou têm dificuldade extrema de conquistar espaço.

Quando uma figura independente consegue a proeza de conquistar uma posição de destaque na política, pode acabar como Marielle Franco, assassinada há exatos três meses e cuja morte ainda não foi esclarecida.”

Política, futebol, imprensa/informação... tudo igual por aqui. Um Brasil que não saiu do “Coronelismo, enxada e voto”, para não esquecer Victor Nunes Leal.

Deprimente!


Broxante
O nível de desinteresse em relação a Copa do Mundo de Futebol está visível na terra brasilis. Muitas razões podem ser apontadas. Entre elas: aquele 7x1 de 2014; a situação econômica; as denúncias de corrupção no futebol (FIFA/CBF) e a tv aberta, capitaneada pela Globo (em linha de descrédito). Para não falar como partícipe da corrupção, como denunciado por Blatter, ainda que de forma velada, sem citá-la nominalmente. Mas não tem como negar que aquela “televisão brasileira” de que fala o ex da FIFA como envolvida em negócios escusos na compra de transmissões da Copa não seja a Platinada.

Por outro lado, não deixa de ser deprimente o esforço da rede Globo em mostrar a Seleção Brasileira como patrimônio pessoal (e o é). 

Mas, como diz a turma na rua: “O povo não é bobo, abaixo...”. 

O que parece estar refletindo no nível de interesse do brasileiro diante do maior evento do futebol.

O futebol que não vemos
Jogos e jornalismo em torno do futebol. Assunto de minuto a minuto. Ainda que não pareça estar essa Copa do Mundo sendo acolhida por nossa gente como as anteriores. Basta ver o número de bandeiras e vendedores de artigos para o evento.

Mas – afora um noticiário aqui e ali em torno dos escândalos que permeiam o negócio – pouco nos é mostrado do que está por trás do negócio em que se tornou o antes esporte do “pé na bola”.

A propósito, disponibilizamos avaliação no Brasil 247.

Afirmando o óbvio
Em meio à deprimência dos tempos atuais, uma deveria ter se destacado nestes dias: o STF julgando se condução coercitiva de acusado ou indiciado está conforme a Constituição. 

Por maioria (o que significa que o pensamento de alguns não se coaduna com o Direito, mas com o que “acham”) a Corte considerou a condução como arbitrária, fundado no princípio de que ninguém está obrigado a produzir prova contra si (no âmbito material) e de que outros instrumentos dispõe o Judiciário para avaliação (sentido processual), uma vez que a omissão em comparecer perante um tribunal (antecipadamente intimado) pode resultar na decretação da revelia e seus efeitos.

Ou seja, o STF foi instado a dizer o óbvio para que o autoritarismo de alguns magistrados não se tornasse regra constitucional ao arrepio da Constituição.

Perfeita a observação de Wadih Damous, em artigo publicado no DCM: “Autoritários são os tempos em que se torna preciso entrar com ações judiciais para que a Suprema Corte enxergue o óbvio”.

Parir, o crime
Aproveitando a observação de Damous no corpo do artigo acima referido e para coroar este clima de deprimência, um juiz e um promotor tornaram-se recentemente centro de atenção pelo abuso em que envolvidos: determinar a esterilização compulsória de uma mulher.

O que nos leva a constatar que o Brasil se torna no primeiro país a constituir (informalmente) o crime de parir.

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