Definindo
Elegante
e competente. O mínimo que se pode dizer da postura do deputado estadual
Rosemberg Pinto refletida na fala proferida na plenária que realizou em Itabuna
no último sábado.
Cabe
ressaltar, de imediato, a singularidade da iniciativa rosemberguiana: periódicas
prestações de contas de seu mandato em curso em encontros regionais onde aberto
à discussão e ao debate ou sugestões.
Particularmente
vemos na iniciativa do deputado uma inovadora forma de integração
eleitor-eleito depois do resultado eleitoral. Uma postura que espelha, em nível
da representação legislativa, os mesmos princípios que norteiam a participação
cidadã na discussão, elaboração e fiscalização dos Orçamentos Públicos prevista
no ordenamento jurídico pátrio, experiência petista em Porto Alegre, com Tarso
Genro, repercutida em outras administrações Brasil afora e no Estatuto das
Cidades (arts. 2º II; 4º ‘f’, III; 40, § 4º I, II e II e 44).
A
iniciativa do deputado baiano, em permanecendo, ensejará, certamente, estudos,
análises e trabalhos acadêmicos e cabe esperar que se torne prática comum a
todos os níveis de representação política (municipal, estadual e federal) como
forma de fazer integrar o cidadão no processo consciente de sua responsabilidade
na edificação da sociedade e na promoção de políticas públicas consoantes com a
sua realidade.
Mas,
retomando o quanto disposto no título.
Primeiro,
a considerar a competência demonstrada na análise em torno da conjuntura
brasileira. No que diz respeito à política dirigente em nível nacional provocou
reflexão em torno do porquê do que aí está, considerando a atuação
político-administrativa do PT em nível federal não reconhecida pelos próprios
beneficiados, tanto que não o repercutiu eleitoralmente.
No
quesito elegância o deputado traçou o perfil da atuação petista no exercício do
poder (sem ferir quem quer que seja) e alertou para o fato concreto (uma ferida ainda não cicatrizada e que
muitos não querem reconhece-la) de que o distanciamento mantido pelo PT no poder em relação às
bases da sociedade (ainda que beneficiada) não deixou de ser um componente a
ser considerado do resultado eleitoral e não somente os elementos mais visíveis
e palpáveis (mídia etc. etc.), sem descurar do chamamento à reflexão em torno
dos equívocos praticados.
Evidentemente
uma reflexão madura e consistente destinada a desviar a discussão da realidade
sob a égide pura e simples do maniqueísmo (natural ao conservadorismo),
tendente a lançar sobre o outro/adversário a culpa dele (em si) originada.
Por fim,
convocou para a luta política, sem dispensar as alianças que possam ocorrer em
torno do projeto comum que defenda políticas públicas que beneficiem o povo e
não somente o PT como trincheira exclusiva de ideais e propostas. Não só
destinar aos carentes o acesso ao consumo – lembrando o ex-presidente uruguaio José
‘Pepe’ Mujica – mas transformá-los em cidadãos.
Ficou-nos
uma convicção: de que na seara político-partidária há quem tenha um olhar para
o futuro, reformulando-o a partir da experiência recente.
E, acima de tudo – e o
disse Rosemberg de forma cristalina – de que sem que seja assumido um lado como
escolha (nada de meio termo) não se conseguirá reverter o quadro que aí está. E
mais: que sozinho ninguém (inclusive o PT) conseguirá resultados.
Leitura
precisa da experiência recente – dizemos nós.
Coronéis
A
República Velha está viva. Mantém os meios através dos quais se sustenta e
sustenta o Poder. O Judiciário – não só o político-partidário – se eterniza.
Singular
particularidade em relação ao ‘poder’ paranaense para o professor Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, em entrevista concedida a Amanda Audi, para a Pública, onde expõe a
construção dos estamentos sociais no Brasil e a concentração de poder exercida por
famílias ou grupos familiares, a partir de um estudo denominado 'República do Nepotismo'.
Acrescentamos: não
custa reler a tese Coronelismo, Enxada e Voto (1948), de Victor Nunes Leal
(Ministro do STF de 1969 a 1969), para entender por que a República Velha
continua vivíssima, refletindo Império e Colônia. Mudaram-se, apenas, os coronéis.
Para
apoio à matéria do A Pública, além do próprio Victor Nunes Leal, a leitura de Os
Herdeiros do Poder (1995), de Francisco Antônio Dória.
Nada a
ser acrescentado
Um dos
assuntos da semana nasceu de manifestação do ministro Gilmar Mendes no curso do
voto proferido na ação que se limitou, em nível de decisão, apenas a reafirmar
o sempre fora reconhecido em definido na Constituição e no Código Eleitoral: a
Justiça Eleitoral é competente para julgar os crimes denominados ‘de caixa 2’ e
aqueles que lhe sejam conexos.
O que a
decisão definiu, e enfrentou: não cabe interferência de juízo comum (estadual
ou federal) em matéria atinente à Justiça Eleitoral, a não ser quando esta o
decida.
Mas, o
que se destaca do voto de Gilmar Mendes é haver se debruçados sobre a origem
das práticas incomuns – para não se dizer ilegais – promovidas pela ‘república
de Curitiba’, que se arvora de inovar a interpretação jurídico-normativa e
mesmo instituir figuras inteiramente esdrúxulas no ordenamento jurídico sob o
argumento de estar combatendo a corrupção. Uma gente que praticou desmandos
à margem da lei como desculpa de combater à corrupção.
A gota
d’água – extrapolando a ousadia curitibana (em muito legitimada pelo próprio
STF, e Mendes a tiracolo, que a tudo tolerou enquanto vitimava o PT e Lula) – se
deu quando espúrio acordo (envolvendo, inclusive, Departamento de Estado
estrangeiro – Estados Unidos – o que exige participação/definição por parte do
Senado Federal) pretendeu retirar da fiscalização estatal recursos financeiros
oriundos do próprio Estado/Petrobras em benefício de uma ‘fundação’ a ser
administrada por ‘suas excelências’ (com minúscula, redator), os procuradores
encastelados na Operação Lava Jato sob a asa da Vara de Moro hoje sob tutela de
uma sua ex-aluna, tão aluna que não se digna em simplesmente copiar trechos de
uma sentença de Moro contra Lula (no caso do tríplex) para deles utilizar-se em
outra condenação ao ex-presidente (no caso do sítio de Atibaia), mas até a legitimar
ilegalidade (fundação a ser administrada por procuradores da Lava Jato).
Registre-se
que um e outro caso envolvendo Lula padecem de absurda e ilegal absorção de
competência (primeira das ilegalidades), uma vez que ambos os imóveis se
encontram no estado de São Paulo e em nenhum instante ficou provada a
existência de recursos oriundos da Petrobras (o cavalo de batalha que justifica
a Lava Jato), razão por que deveriam ser julgados pela Justiça Comum de São
Paulo.
Mas,
voltando a Gilmar Mendes. Desancou o Ministro a atuação de procuradores
capitaneados por Deltan Dallagnol, aos quais chamou de “gângsters”, “tipo de
gente desqualificada”, “covarde”, “gentalha”, “despreparada”, cretinos”, que
estariam arregimentando recursos para um “fundo eleitoral” e quejandos outros.
Não nos
dispensamos de elevar crítica à postura do ministro no curso de seu voto,
porque a temos como inapropriada ao instante e indecoroso o uso daquele ‘púlpito’
em que se tornou o STF transmitido ao vivo. Também porque sua deselegância
cheira a ranço, mágoa e beira a falta de Ética no exercício funcional.
Especialmente ele que em tantas oportunidades demonstrou pouco apreço pela
defesa do Direito e da Justiça e mesmo do Estado Democrático de Direito quando
no outro lado não estão os seus amigos/correligionários ou seus interesses
particulares. Tanto que seu currículo não pode ser considerado recomendável
neste quesito.
Mas, Sua
Excelência tocou na ferida que se tornou tumor em fase de metástase: a Operação
Lava Jato esqueceu do que se propunha (em tese) e abraçou o exercício de um
poder paralelo às instituições, legitimado – lamentavelmente – pelo próprio STF
e Mendes dele não foge.
A tal ‘fundação’
não passa de um a picaretagem de quem se habituou a violar o ordenamento
jurídico e achou que havia conquistado em plenitude o exercício deste desiderato. Faltando-lhe a ‘autonomia’ financeira esta lhe seria assegurada com a transferência
irregular/ilegal de 2,5 bilhões, envolvendo, inclusive, Estado Estrangeiro ao
arrepio do Congresso Nacional.
Por fim,
ao falar em ‘fundo eleitoral’ o Ministro Gilmar Mendes tem sobejas razões. Que
o diga a manifestação liderada por procuradores da República em torno de Associação que
nada mais é do que atuação político-partidária ideologizada nos termos da
matriz curitibana, como se deduz a partir da matéria de Fábio Zanini, na Folha (Onda conservadora chega ao Ministério Público), veiculada no Conversa Afiada.
Para
partido político só falta o registro. Porque quanto ao dinheiro para garantia
de seu ‘caixa 2’ tentaram e quase conseguiram.
Do Paraíso ao Inferno
As ambições pessoais a nortearam. Para corresponder ao prestígio sensacionalista fizeram violar normas, atingiram mortalmente o próprio país, destruíram empregos e reputações enquanto tinham por razão o horário nobre da televisão.
Tudo fizeram que mesmo se viciaram no que realizavam e se imaginaram seres supremos enquanto serventia tiveram. Apropriaram-se das vestes da Verdade, deixaram-na nua na fonte e saíram mundo afora como dela paladinos absolutos.
O que houve de mentira e exploração começa a vir a tona. Não sabemos se os erros cometidos pela Lava Jato em sua dimensão obscura serão sanados.
Mas, o castigo pode chegar antes do que imaginavam. Que o diga Moro, que suporta as humilhações porque sonha ser premiado com uma prometida indicação para o STF.
Chovendo
no molhado Moro ainda não disse ao que veio. Passou, inclusive, a tolerar desvios de correligionários e amigos.
De uma coisa, no entanto, todos
sabemos: não manda em nada. Nem mesmo emplaca indicação de suplente de
conselho.
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