domingo, 31 de março de 2019

Em meio a terrorismo e tiros pela culatra


Simbólico
Através de veiculação da leitora e confrade Consuelo Lopo – mestra que tive como professora de Música (Canto Orfeônico) nos tempos em que o Ginásio dispunha de grade que inseria Latim e Francês, além do Inglês – a manchete “Livraria fecha e espaço vira local para prática de tiro ao alvo em Mogi das Cruzes”.

Não partiremos para o lugar comum de “que tempos!”, mas do simbólico contido para “esses” tempos.

Rememorando I
O assunto ficara esquecido para as gerações que não conviveram com aquele instante e seus desdobramentos. E o golpe militar de 1964 (pedido e apoiado pela classe dominante, que correspondia aos interesses dos Estados Unidos em meio à Guerra Fria) se tornara uma página virada. Ainda que suas ‘fixações’ permanecessem.

A virada de página embutira o que de tragédia nele ocorrera.

A insensibilidade maniqueísta trouxe à tona uma comemoração que beira o absurdo, em se tratando de sociedade civilizada.

A apologia ao golpe em si desenterrou a tortura nos porões, as mortes e os desaparecimentos. Até mesmo um arquivo italiano, veiculado no GGN, referindo-se a cerca de 20 mil presos quando se imaginava em torno de 5 mil e aqueloutros mais de 400 dizimados pelas forças do regime.

Quem não sabe rezar xinga a Deus.

Ou joga merda no ventilador.

Rememorando II
Despertaram lembranças de um tempo para ser esquecido. As novas gerações – que estavam alheias ao que ocorreu – entrarão na ciranda da realidade. Tomarão partido de ou outro lado.

Acabaram de ler Paulo Coelho relatando a tortura por que passou. Míriam Leitão lembrando que foi torturada enquanto estava grávida. Também pelo facebook a veiculação de entrevista de um ex-militar que serviu no Araguaia relatando como eram torturados, mortos e decapitados os guerrilheiros depois de presos. 

Incluindo o fato de que alguns foram jogados de helicóptero em pleno voo. Depoimentos de como corpos de presos mortos nos porões eram incinerados em usinas.

“Técnica de interrogatório um pouco mais severo” – assim dirão os que defendem a tortura.

Tudo vindo à tona. Do que era desconhecido para algumas gerações.

Há os que aplaudam.

Também os que vestirão luto por aquilo que imaginavam existir somente na ficção.

Terrorista
E nesse instante singular Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo (aqui veiculado através do Conversa Afiada) lembra da postura terrorista do presidente que cobra comemoração para uma data nada agradável para a história do Brasil, como país civilizado.

Relata Jânio o processo, em que foi absolvido, na Justiça Militar, por promover atos típicos de terrorismo, como ameaçar “explodir bombas” em adutoras para interromper o abastecimento de água no Rio de Janeiro, e mesmo em quartéis do Exército.

O “menino” não inovava no quesito explodir: o Brigadeiro Paulo Burnier quase concretizara semelhante ato terrorista quando tentou usar paraquedistas do Para-Sar para explodir o gasômetro do Rio para jogar a culpa nos comunistas, em 1968, fato denunciado pelo Capitão-Aviador Sérgio “Macaco” Miranda de Carvalho.

A reforma do então tenente, em 1988 (aqui) – que, no início das apurações, ficou preso durante 15 dias – tornado capitão (para evitar a condenação), advém daí, aos 33 anos de idade.

Razão tinha Ernesto Geisel, bom conhecedor dos porões, quando afirmou ser o eleito “completamente fora do normal, inclusive um mau militar”, como registra o DCM (com fac-símile das declarações, às páginas 112-113) a partir de depoimento do ex-presidente a Maria  Celina D’Araújo e Celso Castro entre julho de 1993 e abril de 1994. 

Também para o Coronel Jarbas Passarinho não passava de “um radical”.

Destacamos, do mesmo DCM: “No Exército, o ‘capitão’ era considerado um ‘bunda suja’, o termo empregado pelos militares de alta patente — como Geisel — para designar aqueles que não subiram na carreira.

Para finalizar
Em nível de competência como atirador fica o sinal de que o tiro do militar do saiu pela culatra.

Como parece incapaz de ler e dialetizar em torno da História, certamente também não lembrou do pedido de Collor para que todos o apoiassem vestindo verde e amarelo e a resposta foi ver o povo nas ruas vestido de luto.

Detalhe
As Forças Armadas – que encontram boa avaliação institucional da população justamente por não se verem expostas, como ocorre com a classe política e os políticos, Ministério Público e Judiciário – passam a integrar o universo dos observados por benefícios e malefícios, como antes não ocorria.

Resultado: há quem goste e entenda que prender, torturar e matar preso é válido para as Forças Armadas; mas há quem não!

E quem expôs a imagem das Forças Armadas ao desgaste de tal quilate não foram as chamadas esquerdas.

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