Simbólico
Através
de veiculação da leitora e confrade Consuelo Lopo – mestra que tive como
professora de Música (Canto Orfeônico) nos tempos em que o Ginásio dispunha de
grade que inseria Latim e Francês, além do Inglês – a manchete “Livraria fecha
e espaço vira local para prática de tiro ao alvo em Mogi das Cruzes”.
Não
partiremos para o lugar comum de “que tempos!”, mas do simbólico contido para
“esses” tempos.
Rememorando I
O
assunto ficara esquecido para as gerações que não conviveram com aquele
instante e seus desdobramentos. E o golpe militar de 1964 (pedido e apoiado pela classe
dominante, que correspondia aos interesses dos Estados Unidos em meio à Guerra Fria) se tornara uma página virada. Ainda que suas ‘fixações’
permanecessem.
A virada
de página embutira o que de tragédia nele ocorrera.
A
insensibilidade maniqueísta trouxe à tona uma comemoração que beira o absurdo,
em se tratando de sociedade civilizada.
A
apologia ao golpe em si desenterrou a tortura nos porões, as mortes e os
desaparecimentos. Até mesmo um arquivo italiano, veiculado no GGN, referindo-se a cerca de 20 mil
presos quando se imaginava em torno de 5 mil e aqueloutros mais de 400
dizimados pelas forças do regime.
Quem não
sabe rezar xinga a Deus.
Ou joga
merda no ventilador.
Rememorando II
Despertaram
lembranças de um tempo para ser esquecido. As novas gerações – que estavam
alheias ao que ocorreu – entrarão na ciranda da realidade. Tomarão partido de
ou outro lado.
Acabaram
de ler Paulo Coelho relatando a tortura por que passou. Míriam Leitão lembrando
que foi torturada enquanto estava grávida. Também pelo facebook a veiculação de
entrevista de um ex-militar que serviu no Araguaia relatando como eram torturados,
mortos e decapitados os guerrilheiros depois de presos.
Incluindo o fato de que
alguns foram jogados de helicóptero em pleno voo. Depoimentos de como corpos de presos
mortos nos porões eram incinerados em usinas.
“Técnica
de interrogatório um pouco mais severo” – assim dirão os que defendem a
tortura.
Tudo
vindo à tona. Do que era desconhecido para algumas gerações.
Há os
que aplaudam.
Também
os que vestirão luto por aquilo que imaginavam existir somente na ficção.
Terrorista
E nesse
instante singular Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo (aqui veiculado
através do Conversa Afiada) lembra da postura terrorista do presidente que
cobra comemoração para uma data nada agradável para a história do Brasil, como
país civilizado.
Relata
Jânio o processo, em que foi absolvido, na Justiça Militar, por promover atos
típicos de terrorismo, como ameaçar “explodir bombas” em adutoras para interromper
o abastecimento de água no Rio de Janeiro, e mesmo em quartéis do Exército.
O “menino”
não inovava no quesito explodir: o Brigadeiro Paulo Burnier quase concretizara semelhante
ato terrorista quando tentou usar paraquedistas do Para-Sar para explodir o
gasômetro do Rio para jogar a culpa nos comunistas, em 1968, fato denunciado
pelo Capitão-Aviador Sérgio “Macaco” Miranda de Carvalho.
A
reforma do então tenente, em 1988 (aqui) – que, no início das apurações, ficou
preso durante 15 dias – tornado capitão (para evitar a condenação), advém daí,
aos 33 anos de idade.
Razão
tinha Ernesto Geisel, bom conhecedor dos porões, quando afirmou ser o eleito “completamente
fora do normal, inclusive um mau militar”, como registra o DCM (com fac-símile
das declarações, às páginas 112-113) a partir de depoimento do ex-presidente
a Maria Celina D’Araújo e Celso Castro
entre julho de 1993 e abril de 1994.
Também para o Coronel Jarbas Passarinho não
passava de “um radical”.
Destacamos,
do mesmo DCM: “No Exército, o ‘capitão’ era considerado um ‘bunda suja’, o termo
empregado pelos militares de alta patente — como Geisel — para designar aqueles
que não subiram na carreira.”
Para
finalizar
Em nível
de competência como atirador fica o sinal de que o tiro do militar do saiu pela culatra.
Como
parece incapaz de ler e dialetizar em torno da História, certamente também não lembrou
do pedido de Collor para que todos o apoiassem vestindo verde e amarelo e a
resposta foi ver o povo nas ruas vestido de luto.
Detalhe
As Forças Armadas – que encontram boa avaliação institucional da população justamente por não se verem expostas, como ocorre com a classe política e os políticos, Ministério Público e Judiciário – passam a integrar o universo dos observados por benefícios e malefícios, como antes não ocorria.
Resultado: há quem goste e entenda que prender, torturar e matar preso é válido para as Forças Armadas; mas há quem não!
E quem expôs a imagem das Forças Armadas ao desgaste de tal quilate não foram as chamadas esquerdas.
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