O caos em que nos tornamos nunca foi imaginado na dimensão em que está quando posto em andamento, no imediato da ação político-judiciária para afastar a presidente Dilma Rousseff. Imaginaram – “com Supremo e tudo” – que ‘expulsar’ o PT do comando do país e traçar sua inviabilização político-eleitoral para 2018 atenderia plenamente aos reclamos da classe dominante (de roldão a pequeno-burguesia encastelada na classe média) e lhes asseguraria o que entendiam negado pelos governos petistas e suas políticas públicas de redução das desigualdades.
Tudo tão
simples assim.
E
aqueles que encabeçaram o processo lá estavam, desde a reeleição de 2014 – dizendo defender a Democracia – proclamando a não-aceitação do resultado eleitoral e anunciando
sua atuação político-congressual voltada para “sangrar”.
Em tudo
o papel exponencial do STF. Tudo aconteceu “com Supremo e tudo” (expressão de famoso diálogo entre o então senador Romero Jucá e Sérgio Machado) e porque o quis
o STF, que não perdeu a oportunidade e mesmo dela se aproveitou para garantir uns garangaus de aumento para a
corporação judiciária.
Por desdobramento aí
está o busílis da questão.
Para que
tal acontecesse o STF feriu de morte os pilares que lhe cabiam defender como instituição:
da formalidade à materialidade jurídicas.
Formalmente aceitou (por omissão) que
a discussão da constitucionalidade do procedimento de impeachment (destituído
de causa) fosse adiante e delegou (em novas e reiteradas omissões e fugas) que
tudo viesse a se consumar. Materialmente deixou de reconhecer o que a lei
previa: inexistência de crime de responsabilidade.
Resultado:
em meio ao caos que precisou instituir a partir de si mesmo (iniciando uma
verdadeira implosão em relação a sua credibilidade e confiança, refletidos na
segurança jurídica) abriu a Caixa de Pandora e tudo aconteceu.
Hoje,
também vítima dos males por ele liberados, tenta 'soluções' nos limites
individuais de seu ‘poder’ e passa a ser criticado pelos mesmos aos quais
beneficiou. Justamente por cometer – por ação – o que lhe cabe defender (liberdade de expressão) – o que admitiu, por omissão.
Não
entramos aqui na análise dos fundamentos críticos em relação ao STF por aquilo
que estão seus membros a praticar. Mas, diante de tudo que aconteceu nesses
dois anos de efeito secular, o que está em jogo não é apenas o posto em
discussão mas o próprio Poder Judiciário balançando na corda bamba no picadeiro do circo que
ajudou a armar.
Considerando
que seja este o aspecto preponderante (e os fatos o demonstram) como Poder da
República na berlinda a coisa é muito mais grave do que possa imaginar a vã
filosofia.
E o é,
tenham certeza.
Porque poucos estão folheando o livro certo, nestes tempos
bicudos em que o maniqueísmo é a tônica entre eu (o que penso e o que acho) e o
outro (o que ele pensa e que sou contra), no instante em que o diálogo e a conversa perderam
espaço na mesa e não mais se faz olhando nos olhos.
Enrascada
A
credibilidade do STF mais despencará, sob o condão dos meios que o levaram à
condição de paladino quando se omitia em apreciar o que poderia beneficiar Lula
e o PT.
Escolhera
esse caminho, porque suas excelências (em maioria) adoram estar na telinha,
serem atores do Jornal Nacional e quejandos. E, também o demonstraram/confessaram, adoram uma pressão das ruas no formato veiculado ao contento da mídia.
O STF está
sob fuzilaria. A ponto de haver quem deseje vê-lo substituído por um tribunal
militar.
A
enrascada em que se meteu o STF quando preferiu fazer política eleitoral em
detrimento de defender a Constituição nos lembra uma lição de vó Tormeza: quem
não sabe rezar xinga a Deus.
Considerando que saibam rezar, passaram a precisar
de exorcismos.
No mais,
a considerar a pauta do STF sob ‘vigilância’, resta saber se suas excelências honrarão
as calças. A generalidade de gênero aqui se impõe, porque tem muita mulher por aí
com postura muito mais macha que a de alguns machos que por lá estão.
Hoje o STF é atacado pelas mesmas forças que o elogiavam quando a serviço delas. De certa forma, feitiço contra o feiticeiro.
Invisível
x visível
Em jogo
uma realidade que atormenta qualquer humanista/democrata: os tradicionais meios
de controle da informação visíveis (aqueles aludidos como detentores da
‘mensagem’ por serem o meio, para não esquecer McLuhan, tipo rádio, televisão, jornais e revistas), perderam o controle
para a internet/rede, invisível quando o quer e lhe é conveniente.
Dados
Esqueceu
de falar do aumento da mortalidade pelas polícias e militares fazendo a vez delas: de 4.222, em 2016, para 6.160, em 2018.
Tudo acrescido de um detalhe: o número de policiais assassinados foi reduzido no período analisado: de 453 para 307 no mesmo período.
Simbólico
Nobilíssima
expressão da classe dominante brasileira, que vive no exterior com o dinheiro
que ganha aqui, ocupou manchetes pela doação de 88 milhões de reais para
recuperar Notre Dame.
Não
enveredaremos por não haver lembrado a ilustre benemérita de haitianos e moçambicanos (apenas para
ilustrar) e dos milhões de crianças morrendo de fome diariamente por faltar-lhes
uns míseros dólares.
Registramos
o fato por entendermos que fez melhor que simplesmente investir em Miami.
Como o
faz a maioria dos endinheirados daqui.
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