domingo, 14 de abril de 2019

Entre a cultura da certificação e a paz dos cemitérios


Cultura da certificação
Assim denominamos o resultado do processo educacional que desaguou no quantitativo em detrimento do qualitativo. No instante em que a escolaridade, em todos os níveis, passou a valorizar e referenciar o estatístico – ou seja, o quantitativo de aprovações – acompanhamos a tragédia em que se tornou o ensino/escola como primeiro instrumento social fora da família a contribuir para a formação do indivíduo/cidadão.

Em razão do tempo neste instante apenas lembramos que embutida está na proposta uma imediata contradição: se a família (hoje obrigada a trabalhar fora do lar) não tem tempo para cuidar dos filhos como exercerá o magistério doméstico? Certamente enquanto dormir, descansando de jornada iniciada às quatro/cinco horas (buscando transporte) e concluída às oito/nove.

A proposta de ensino no próprio domicílio (sem entrarmos nos méritos que envolvem o tema, da constitucionalidade ou não da pretensão aos desdobramentos que desaguarão na avaliação) aprofunda o processo de desqualificação formal. 

A avaliação/certificação referida não passa de um engodo. Tão somente o 'papel', como hoje em parte já o é. No caso, passa a ser piorado. Apenas ‘certificará’ para o mercado. Como já fizera as reformas do ensino a partir do final dos anos 60.

E atenderá às 'exigências' meritocráticas da "elite branca", como denomina Cládio Lembo a classe dominante brasileira.

Bem ilustrada, em suas pretensões, na foto de uma caminhada da turma do 'fora Dilma', vestida de verde e amarelo levando a empregada para cuidar do filho. Afirmam que o marido/pai era dirigente do Flamengo à época.

Urânio entregue
O avanço sobre a riqueza e a soberania nacionais move outra peça no xadrez do tabuleiro de interesses dos Estados Unidos: urânio.

US$ 100 bilhões anuais o comércio de urânio. O Brasil desenvolveu, inclusive, tecnologia de processamento, o que o qualificava para produzir e vender usinas nucleares. Prenderam o cientista de tudo isso.

Mas não só a entrega. 

A traição promovida por gente custeada pelo governo e encastelada na Procuradoria da República e na Magistratura Federal.

Para entender melhor (aqui).

Comunista desgraçado!
Noam Chomsky compara prisões de Assange, Lula e Gramsci como expressões do “calar” inconvenientes aos sistemas de dominação.

Comunista desgraçado, este Chomsky!

Quem faz um cesto... 
Há quem afirme confiar na apuração a cargo da Justiça Militar, instituição jurisdicional que só existe no Brasil (que muito lembra o júri originado dos ingleses no século XIII d.C.  os pares julgando os pares), para o caso dos 81 tiros dos militares do exército no músico Evaldo Rosa dos Santos, no Rio de Janeiro.

Apenas para lembrar: a mesma Justiça Militar, ainda que o detendo por 15 dias, não condenou o que hoje assume a presidência da república pela prática de terrorismo, em 1988, ainda que comprovada a sua atuação através da imprensa ameaçando explodir a adutora do Guandu, em 1986, caso o governo não concedesse aumento de 60% para os militares.

A Justiça Militar cuidou de administrar a imagem do Exército, desgastada no imediato do fim da ditadura, reformando/promovendo para a reserva remunerada, aos 33 anos, aquele tenente que a vem se tornar o capitão – ainda que “mau militar” no conceito do ex-presidente General Ernesto Geisel. (Leia o publicado em nosso blog no 31 de março)

... faz um cento
Quem faz um cesto faz um cento, ainda que outro o tempo.

A jornalistas em Macapá o eleito disse – referindo-se ao que denominou ‘incidente’ – que o Exército apontará responsáveis, porque “não existe essa de jogar para debaixo do tapete”.

Faz sentido. Porque no caso dele, ainda denunciado por terrorismo em 1986, teve como punição, pela Justiça Militar – repetimos , a reserva/promoção como capitão aos 33 anos de idade.

Parábola tupiniquim
Analisando a partir das reações do governo federal à luz de dois fatos concretos (os tiros da polícia paulista e os tiros do exército no Rio de Janeiro) é possível raciocinar sob a égide da parábola bíblica, visto que Cristo manda perdoar não sete vezes mas setenta vezes sete.

Em São Paulo a polícia matou onze assaltantes dos 27 envolvidos. Não faltou elogio do Planalto pela atuação policial.

No Rio de Janeiro um músico negro (mera coincidência a cor) morreu em meio a 80 tiros de fuzil disparados por militares do exército contra o carro onde estava com sua família. Nenhuma palavra do Planalto nem de quem lhe faça a vez.

Em andamento a militarização da população com a facilidade para a compra e o porte de armas de fogo.

O ministro da justiça pretende autorização legal para inocentar a atuação policial no combate ao crime mesmo por presunção de perigo ou risco (coisa experimentada pelo músico negro no Rio de Janeiro).

Apelação que seja: caminhamos para parodiar a parábola. Assim, na dúvida – presumido o risco – perdoados não estarão os que derem 80 tiros mas 80 vezes 80.

Agradecida a indústria da bala.

Ah! E avançamos para a Paz que pretendemos: a paz de cemitério.

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