Dia
desses o país acordou sob notícias de um ‘pacto’ entre os Poderes da República.
Certo que o chamado de pacto de logo foi desmentido pelo presidente da Câmara.
Mas, o ridículo já ocorrera.
Em meio a tudo, uma
singularidade chamou a atenção: o que ali fazia o presidente do STF
Dias Tóffoli, tão à vontade que os dentes no quarador apenas confirmavam aquela
alegria própria de pinto no lixo.
Montesquieu entrara em desespero. Suas cinzas acabam violadas e, mais, violentadas
naquela distante nação soberana que se chamava Brasil e passa pelo estágio de
ser apenas State Brazil.
Prenunciou
o sempre lembrado, estudado e citado Montesquieu que três poderes deveriam
substituir o princípio absolutista. Assim, um deles administraria, ou outro
faria as leis (discutidas por representantes) e um terceiro avaliaria a
validade das leis e das ações do administrador conforme o ideário de Justiça.
Poderes autônomos e in(ter)dependentes, cada um no seu papel institucional, sem
comunicação outra que não o bem servir à sociedade e dar-lhe tranquilidade e
confiança.
Por tal
raciocínio torna-se elementar compreender que é impossível uma pactuação entre
eles (que deve existir tão somente em fazer cumprir a finalidade natural, de
atender ao interesse comum). Pacto é acordo, é consonância, unidade de
pensamento definido e muito apropriado ao universo privado. No campo
político-institucional admite-se o pacto, mas quem pactua são as forças
políticas.
Cabendo
ao governo do instante aplicar as Políticas de Estado fixadas na Constituição
Federal cabe ao STF, quando provocado, responder se está conforme ou não,
decidindo por mantê-las ou não. Em outras palavras? Cabe ao STF não interferir
no ‘como’ da execução das políticas públicas, mas decidir – quando provocado,
repita-se – em torno da legalidade e adequação constitucional do que decidam
legislativo e Executivo. Ultrapassar tais limites beira a usurpação. E, mais
que isso, alimenta a fogueira da bandalheira institucional que ora construímos
e que lhe cabia não afagos com o abano mas evitar que tal acontecesse.
Por tudo
que sabemos o STF não é força política – ainda que sua retórica contemporânea
neste Brasil não tenha sido outra coisa – razão por que não ser racionalmente
compreensível que o presidente da Corte se faça presente em café da manhã na
moradia do chefe do executivo, ao lado de presidentes da Câmara e do Senado,
para discutir (com outros poderes) aquilo que chamam de pacto.
Quando
ao café com o inquilino do/no Alvorada nada a comentar. Afinal o Presidente do
STF faz parte da turma que come filé de lagosta e toma vinho às custas do
povo.
Poderia
Sua Excelência, Dias Tóffoli, arranjar um tempo – pelo menos enquanto esvazia a
lagosta e vinhos na sentina (obrigado vó Tormeza) – e dar uma lida em Discurso
da Servidão Voluntária, de Etienne La Boétie. Talvez dali pudesse abstrair,
como metáfora, o papel ridículo que assumiu de parceiro – e usuário da cozinha
– do inquilino do Palácio da Alvorada.
Para
Boètie, reconhecendo que todos os governos (inclusive a tirania) só podem governar durante muito tempo se encontrarem apoio da população e que somente esta os legitima: “[...]não há necessidade de
lutar para superar este tirano único, pois ele é automaticamente derrotado se o
país recusar o consentimento para sua própria escravização: não é necessário
privá-lo de nada, mas simplesmente não lhe dar nada; não há necessidade de que
o país faça um esforço para fazer tudo por si mesmo, desde que não faça nada
contra si mesmo. São, portanto, os próprios habitantes que permitem, ou melhor,
provocam sua própria sujeição, pois, deixando de se submeter, acabariam com sua
servidão. Um povo se escraviza, corta sua própria garganta, quando, tendo uma
escolha entre ser vassalos e ser homens livres, deserta suas liberdades e
assume o jugo, dá seu próprio sofrimento, ou melhor, aparentemente o recebe.”
“Jogos, farsas, espetáculos, gladiadores,
animais estranhos, medalhas, imagens, e outros tais opiáceos, estes eram para
os povos antigos a isca para a escravidão, o preço de sua liberdade, os
instrumentos da tirania.”
Temos que, fosse hoje o expresso pelo francês, diria: não só lagostas e vinhos, também um café da manhã ao lado do tirano torna-se isca e moeda de troca para a respeitabilidade, o que o faz desaguar no lugar comum dos que, de uma forma ou de outra, põem o caráter no escaninho do escambo.
Afinal cremos que o ministro Tóffoli não descura do que pretendeu quando se propôs à indicação para ministro do STF. Afinal, há muito
demonstra sua vocação para vassalo. E como não leu Boetie regala-se até com
café matinal.
Houvesse lido – e capacidade tivesse para
interpretar textos – teria percebido que a fórmula para negar a escravidão elaborada por Boétie nele
encontrou leitura diversa, para não dizer o contrário.
Que então dizer de sua presença legitimando um 'pacto' que não existe?
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