Sob o condão
do título publicaremos, a partir de hoje, três artigos voltados mais precisamente para refletir em
torno do comportamento da esquerda brasileira diante da uma realidade que se
apresenta bem distinta daquela que a norteou em tempos de guerra fira.
É que, assim vemos, o hodierno pautado que está na velocidade – também no esquecimento – com que as informações chegam
e se vão, manipuladas em profundidade sem o correspondente contraponto.
Pode ser compreendida sob diferentes dimensões, inclusive a de pessimismo.
Por entre leituras ou a falta delas
Lúcida
reflexão de Gilberto Gil, de que o presidente eleito representa quem o elegeu, a vontade e o sentimento dos que votaram nele. Aquilo
que lhe outorgam como idiossincrático traduz, no seu dizer e na porralouquice do
singular expressar, o que diz e expressa parcela considerável da sociedade
brasileira.
E não se vincule tal fato à formação intelectual, à condição
econômico-social, ao ser pobre ou miserável ou doutor.
Quem na
sociedade faz movimento para combater as instituições democráticas, pedindo
para fechar Congresso, para fechar Supremo Tribunal Federal, que se proclama
contra o estatuído na Constituição, quem questiona o Estado de Direito, quem vê
na decisão judicial um estorvo tem em si a mesma matriz autoritária, a mesma
vocação ditatorial.
Apenas carecia de um representante ideal, que afinal
encontrou apesar de experiências e tentativas várias e variadas: de Jânio a
Collor, de Sarney a FHC, de Temer ao atual inquilino do Palácio do Alvorada, a
mais perfeita de todas no que diz respeito aos objetivos que em todos os
instantes se fizeram presentes no pacto de tornar o país cuia de pedinte na mendicância internacional sem vocação a personagem de "Deus Lhe Pague", de Joracy Camargo (1898-1973).
O atual
inquilino do palácio do Alvorada é a mais pura e perfeita tradução dessa
encastelada tradição autoritária presente na sociedade. Não se vincule a ele, tampouco se lhe dê o privilégio, aquela ideia de que “bandido bom é bandido morto”, de que preso tem de apanhar,
de que a pena de morte é a solução para a criminalidade porque ele não está só.
Ao contrário, não são poucos os que sempre pensaram assim. O dito cujo apenas a
representa; é sua ‘mais grata’ e atualizada manifestação.
O que nos
deixa perplexo é a falta de leitura da realidade que nos aflige (há muito), que
ainda não se encontra suficientemente dimensionada além do panfletarismo do
instante ao sabor de quem o utilize, à direita ou à esquerda.
Quando a
ex-presidente Dilma Rousseff (responsável por não ler o instante precipitado em
2013) proclama em torno da necessidade de ‘construir uma frente contra
Bolsonaro’; quando Fernando Haddad denuncia que o Brasil se tornou protetorado
dos Estados Unidos; quando, afinal, o óbvio surge como se fora revolução em
plenitude, longe estão todos de expressar a RAZÃO por que tudo aconteceu e acontece.
No primeiro
caso, por que alguém desconhecido e inexpressivo política e intelectualmente,
reformado/aposentado aos 33 anos por prática de ameaça terrorista (explodir a
adutora do Guandu, na cidade do Rio de Janeiro, em 1986), sem participar de
qualquer debate, sem expor qualquer possível ideia de como administrar o país,
de como via o Brasil no plano da diplomacia etc., de como enxergaria em nível
de governo as Políticas de Estado de Bem Estar Social insculpidas na
Constituição conseguiu amealhar os votos que conseguiu, quando apenas liderança
oportunística dos antes relegados ao canto escuro da expressão social.
No segundo
caso, como o exercício do Poder (inclusive sobre a Informação e a
Contrainformação) não percebeu (ou dimensionou) o quão inconveniente se tornara
o Brasil em relação aos interesses dos Estados Unidos ao conquistar espaços no
terreno hegemônico e geopolítico do planeta.
Ainda quanto
ao segundo: qual a percepção demonstrada – que alcançasse a compreensão da
sociedade – do quanto representavam de prejuízo para os Estados Unidos os avanços obtidos
pelo Brasil no âmbito do comércio internacional, na aproximação com China,
Rússia, Índia, Suécia, França, da expansão comercial em relação ao continente Sul-americano, ao Africano e ao Caribe, Oriente Médio e Ásia.
Tenhamos a
certeza, de que o que ora nos acomete tem raízes profundas, enraizadas nesta
sociedade que não rompeu suas amarras com o escravismo, onde senhores ainda
permanecem senhores e escravos ainda não sabem da Lei Áurea. Muito menos por
que essa – a Lei Áurea – aconteceu e a que interesses atendeu (inclusive
da Inglaterra).
Ou seja, não
podemos repetir o erro de sempre: o de não ler e enxergar.
Somente assim não
sucumbiremos à cultura de retomadas esporádicas de vitória popular, massacradas
em seguida. Não apenas “construir frentes”, mas muros de aço. E descobrindo
quem, aqui dentro desta terra brasilis,
assegura a vocação tupiniquim para protetorado dos Estados Unidos.
Enquanto a
massa não souber – e aprender – viveremos de solavancos.
À esquerda –
e ao PT em particular – compreender estes novos tempos e recuperar as ruas a
partir da proximidade com cada morador, com a realidade, agonia e sofrimento de
cada um, ser parceiro da desdita, compreendê-la, e assumirem juntos a
consciência da luta.
A indignação
precisa, sim, ocupar as ruas. Mas levando a alma e não somente cartazes e
palavras de ordem. Porque a indignação por si mesma trilha pelas raias da
emoção e hoje, mais do que nunca, precisamos estar norteados pela razão. E razão
não se expressa apenas em cartazes e palavras de ordem.
Por outro
lado, não há resposta para um fato concreto (que o povo sente, ainda que não o
identifique ou compreenda): efetiva proposta – e saída – para a transferência
da riqueza nacional, no âmbito interno, para a classe política, a classe
dominante e algumas castas como membros do Judiciário, do Ministério Públicos e
altos coturnos das Forças Armadas, sistema financeiro privado e grandes proprietários.
E mais que
isso: a partir do concerto composto de 2013 para cá não sabemos se temos evidentemente
o substituto para o “novo” que combate a “velha política” representado pelo
inquilino do Alvorada, como posto pela mídia no imaginário da sociedade.
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