Nunca
qualquer dos envolvidos nos interesses que motivaram as ações pensaram no
mediato. O imediato sim, tudo justificava. E o imediato, para tudo facilitar,
tinha uma etapa crucial: afastar o candidato vitorioso antecipadamente, o toque
mágico alardeado para uma redenção.
E tudo
aconteceu – não como nos contos de fadas – extraído dos mais escabrosos textos
de terror e pesadelo buscados nos recônditos da Inquisição ou de regimes de
exceção. Não porque algo não houvesse a ser apurado e responsáveis para
responder por suas maquinações não devessem ser alcançados. Mas pelo método
utilizado e escolha dos alcançados.
Tudo foi
precipitado, em atitude desesperada para consumação do resultado. Prazos
acelerados, decisões armadas e ajustadas em conluio para até mesmo evitar
embargos declaratórios (como naquele julgamento do TRF-4 que à unanimidade
aumentou a pena de Lula com todos os três julgadores uníssonos na quantificação
em anos meses e dias).
O resultado
imediato foi alcançado.
Lula –
inviabilizada sua candidatura – não pôde nem mesmo gravar uma mensagem
eleitoral, ainda que amparado em decisões de cortes internacionais às quais o
Brasil, signatário, estava obrigado a cumprir como o já ocorrera em instantes
anteriores, não fora a melhor interpretação pretória a ele negada.
Mas, “com Supremo
e tudo” tudo transcorreu como os conformes – diria o caboclo nos cafundós.
Definida com
sucesso a etapa, eis o país destroçado política, institucional e economicamente
abrindo-se à exploração e à especulação que afetam de sua soberania ao exercício
do controle sobre suas riquezas. Perdeu o respeito no concerto internacional,
tornou-se peça de chacota e vive sob ameaças.
De um
instante para outro, “de repente, não mais que de repente” (Vinicius de
Moraes), uma outra vertente se abriu e vieram à tona o que muitos já sabiam:
tudo armado.
Desde junho
a farsa montada – lançada em capítulos – vai exibindo seus contornos e sua
dimensão criminosa. E aquela reação que foi se formando diante apenas do que se
limitava ao absurdo lawfare a que
submetido o ex-presidente se materializa no escândalo que ocupa manchetes
internacionais. E a campanha nascida, clamando por um julgamento justo, nem
mesmo ora se sustenta porque – até prova evidente em contrário – nunca houve
crime a ser apurado, apenas criminosos pré-condenado.
A cada dia
engrossa a fila dos que – reconhecendo o absurdo cometido pela justiça
brasileira – exigem a liberdade de Lula.
Até mesmo um
dos mais ativos membros daquele “com Supremo e tudo” – o ministro Gilmar Mendes
(que atuou diretamente para que Lula nem mesmo pudesse ser nomeado Chefe da
Casa Civil, acatando liminarmente pedido feito a partir de sua própria
instituição particular, através de petição subscrita por uma secretária de seu
Instituto) já admite que “devemos ao Lula um julgamento justo”.
E o
julgamento justo seria julgá-lo e absolvê-lo. Mas não farão isso. O caminho
menos traumático é reconhecer as nulidades do processo. Uma saída tipo a do
STJ, de reduzir a pena o que – no fundo – reconhecia a condenação e,
naturalmente, as razões que a alimentaram, em que pese escandalosamente
fraudadas.
O
ex-presidente saiu das cordas e ataca como bom pugilista. Não admite concessões
judiciais, mas sim o reconhecimento de sua inocência. Ou seja – como nunca se
viu neste país – o Poder Judiciário está constrangido pelo “réu”, o que implica
libertar Lula declarando-o vítima de um processo fraudulento, manipulado por um
conjunto de instituições estatais: Polícia Federal, Ministério Público Federal,
Juízo da 23ª Vara Federal de Curitiba, TRF-4 de Porto Alegre, STJ, e mesmo o
próprio STF que se negou a manifestar-se em instantes anteriores e, não o fazendo,
simplesmente legitimou o que ora se tornou um dos maiores escândalos judiciais
do planeta, visto antes somente em tribunais de exceção em regimes autoritários.
Dessa caixa
de Pandora sabemos dos malefícios lançados, mas não se a Esperança lá ficou
para ser resgatada.
Uma decisão
do Ministro Ricardo Lewandowski autorizara Lula, em 2018, a conceder
entrevistas, ainda que preso. Um de seus pares (o Fux) reverteu, no imediato, a
decisão. Hoje aquela decisão se encontra em plenitude de efeito. Mas uma juíza de
primeiro grau se entendia titular do direito de apreciar e conceder a possibilidade
de entrevista requerida. No afogado dos acontecimentos recentes aquele mesmo
TRF-4 resolveu fazer valer uma decisão superior e cassou tal possibilidade ao
juízo inferior.
Mas, pelo
quanto de balbúrdia houve – e há quem deseje mantê-la – impedindo entrevistas
que tenham Lula como entrevistado a decisão recente configura simbólica
expressão para o imediato.
Não deixaram
Lula falar para não eleger o petista Haddad. Lula agora pode falar. E está
falando. O temido Lula falando está solto.
Daquela caixa
de Pandora aberta os malefícios todos se espalharam. Ainda que a Esperança tenha
nela sido mantida por Epimeteu Lula tornou-se o último alento para essa terra
que se torna de ninguém.
No fundo,
abriu-se a porteira. Aguarde-se o estouro da boiada.
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