Faces da
insanidade que nos acomete
A insanidade
definitivamente ocupou este país. Algumas expressões são mais palpáveis que
outras. Umas, cotidianas – historicamente cotidianas porque cada tempo tem a sua e
seu profeta – impregnadas no inconsciente coletivo, no dia a dia, de tal forma
que se tornou natural com elas conviver. Outras melhor expressadas por
autoridades que se dizem arautas das soluções finais.
O exercício do poder em
todos os tempos, o combate aos vícios no curso da história humana, os estereótipos
pautados para explicar ao alvitre do explicador.
O que vemos
em tudo isto que chamam de Civilização pautado está em interesses. A dimensão
ofertada à licitude entre eles. Afinal, sem violência (para defender a ideia de
defesa própria e segurança) não há como vender armas e munições; sem
consumidor/usuário de drogas não há como desenvolver a indústria em torno do
combate que a elas se exige objetivo, porque evitar não convém a tal produção;
com escola pública não há como vender a educação fornecida por particulares. E
por aí vai.
Sob esse
viés nunca será demais indagar quem direta e indiretamente se beneficia
neste jogo de interesses.
Fernando
Brito (no Tijolaço) toca numa daquelas “expressões cotidianas” acima referidas para expor a
dor de uma família diante da morte de uma criança (de 8 anos), fuzilada no
complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, por um governo que é incapaz de enfrentar
técnica e cientificamente o crime e, por falta de câmaras de gás, encontrou
outra fórmula para a sua solução final.
Mas,
recorramos a Brito:
“E a razão é simples: armas
e drogas, tudo isso dá lucros. Não apenas aos traficantes, mas há policiais e
ex-policiais enfiados até o pescoço no tráfico de ambas”.
Não basta
acrescentar ao dito que talvez quem menos ganhe seja (em nível de tráfico)
aquele que comercializa na ponta. Não fora isso, como explicar o sumiço de
mais de meia tonelada de pasta pura de cocaína de um helicóptero de um
político, amigo de outro político, apreendido pela Polícia Federal?
Brito não
exageraria se acrescesse que não só policiais e ex-policiais.
Também aqueles a
eles vinculados ou que deles se beneficiam e que através do terror por eles
implantado se elegem e constroem um império singular à sombra do denominado Estado de Direito.
Não à toa até são condecorados ou apadrinhados em cargos
públicos de livre nomeação.
E dizem que
vivemos num Estado moderno e civilizado.
...
Há bandidos
e bandidos. Uns perseguidos pela lei, porque cometeram ilícitos;
outros, acobertados pela lei, utilizando-se da lei para cometer ilícitos na certeza de que a Justiça não os alcançará.
Nessa
vertente a tirania se faz presente, a vontade do tirano e loucuras afins
levadas a efeito de dominação porque detentor do poder. Poder outorgado ou não.
Um
governante que – a título de segurança da população – autoriza a matança como
forma de combate ao crime não pode ser considerado além de um símbolo de
tirania. Porque desconhece (por interesse) as regras que norteiam a apuração criminosa no
estado de direito e põe a solução final (sem processo) como saída única.
Há bandidos
e bandidos. Um fio de navalha conceitual os distingue. Uns à margem do Estado;
outros nele encastelados.
...
Mas também
há povo e povo. Povo que espera, porque acredita, que o Estado seja o
instrumento de soluções.
Há, também, povo que sublima no tirano a tirania que é
dele e não tem como exercitá-la por si. Transfere-a a outro pelos meios de que dispõe.
A eleição de alguns tipos bizarros bem sinaliza este estado de degradação
naquilo que Etienne de La Boétie (1530-1563) analisou em torno da servidão e da voluntariedade da
servidão.
Para ele a existência da tirania está vinculada à aceitação daqueles
prejudicados pela tirania mas que com ela consentem, a toleram.
Nesta terra brasilis, laboratório singular da insanidade cívica, os governos não são somente os eleitos pelo povo, mas também a sua cara no espelho de Narciso em permanente estágio de voluntária servidão.
Quem pense diversamente explique ao escriba a razão por que, passados quatro meses de denúncias gravíssimas contra figuras do STF, Judiciário Federal, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, tudo está como dantes no quartel de Abrantes. E mais, com velado apoio da mídia tradicional que, quando muito, as veicula, e nenhum movimento faz para que o país supere tamanha desídia para com a apuração de tão graves fatos.
E a lista
sumiu!
Denuncia Joaquim de Carvalho, no DCM: aquela
famosa lista do mensalão mineiro (1998), subscrita por Marcos Valério, desapareceu do
STF.
Algum bandido a surrupiou.
Bandido de dentro do STF ou de fora, que alguém
do STF deixou entrar.
Claro que nenhum pobre mortal!
STF já
deixou sumir os valores insculpidos na Constituição. E passa a sumir com o que
lhe dão para apurar e julgar (pelo menos guardar).
Mas como no
bordel vulgar, onde os ladrões e os miseráveis de Victor Hugo transitam por entre os
lupanares enquanto a nobreza e a burguesia os explora, não sabemos quando
pretenderá o STF deixar de ser este bordel de toga quando se torna político ou
guardião de interesses de políticos de sua panela.
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