A razão da
luta
Enquanto a
classe dominante (externa e interna) flana em céu de brigadeiro consumando seu
projeto finalístico (recebimento/entrega do país, com suas riquezas e afins) a
denominada esquerda brasileira se digladia entre si, quando não entre os
próprios pares.
Exagero do
escriba – dirá alguém. Porque não outro caminho se não reocupar o terreno
perdido, recuperar o espaço eleitoral lançado às calendas através da utilização
de instrumentos nada republicanos.
Líderes
partidários discutem; líderes de um mesmo partido se esgarçam. Em meio a tudo o
nome de Lula presente. Uns a reconhecer o seu legado e importância; outros, tendo-o como estorvo.
Neste país
esfacelado política e economicamente (este em razão daquele) a coisa caminha
naquela de Pedro Tamarindo e seu “em tempo de murici, cada um cuida de si”.
Assim parece. Os grandes temas estão ao largo, pontuados como adendo, detalhe.
Mal saímos
dos cueiros de uma eleição e já estamos
em campanha. Uma eleição questionável (se não questionada diante dos
fatos até agora revelados e escancaradamente demonstrados) vai sendo legitimada por
seus métodos singulares e pouco disso se ouve falar em nível nacional. No
entanto das campanhas, sim.
Ciro Gomes, Rui Costa, Flávio Dino e
quejandos outros estão em campanha. Ainda que não possam afirmar que processo
eleitoral está por vir. Nem mesmo se o atual sistema de governo permanecerá.
Este escriba
de província continua batendo na tecla:
as leituras não foram lidas, os fatos não foram (e não estão sendo)
suficientemente maturados para a construção inversa.
Continuamos
a afirmar: o projeto que encontrou resposta e que atende aos interesses
daqueles nominados no início deste artigo, não foi elaborado e posto em
andamento para sucumbir em curto espaço. 1964 durou 21 anos; o neoliberalismo e
sua globalização outros 12, se dele afastamos explicitamente o período Sarney;
o nacionalismo, outros treze. O retorno daquele processo (mais antigo que
possamos imaginar) está em andamento. Para não cometer erros. A turma não
pretende retorno de trabalhismo, nacionalismo, soberania, distribuição de renda
e riqueza, redução de desigualdades.
A classe
dominante não tem esse compromisso. E está no poder. Que recuperou porque
aprendeu a lição.
Não sabemos
(e dúvida profunda o temos) se a esquerda já abriu o livro de leitura.
Por aquilo
que acompanhamos, ainda não. Permanece imobilizada em torno de um canto
monocórdio: Lula livre. E com isso vai assegurando aquele “coisa do PT”. Com ele –
sem o querer, ou o perceber – também imobiliza o país, atado por mãos
imprecisas mas que sabem o que querem.
Até porque a
liberdade de Lula não deve estar atrelada a uma bandeira político-partidária,
mas à própria sobrevivência do Estado Democrático de Direito, violentado para
que o ex-presidente esteja ainda preso, “com Supremo e tudo”.
A liberdade
de Lula não pode estar atrelada pura e simplesmente à possibilidade eleitoral
individual que dela adviria (ainda que muito justa por sua história) mas porque
representa um ideal levado à pratica em defesa do país como valor e da
soberania e do desenvolvimento tendo o homem comum como sentido e destinação.
Lula livre é
condição de nos reconhecermos (em
catarse) e sermos reconhecido como povo por quem nele (lá fora) o respeita como
símbolo vivo de uma era em que a utopia se fez possível.
Caso a parte
No quesito Lula, a defesa do ex-presidente insistindo (o que lhe cabe) na sua libertação
utilizando-se dos meios jurídico-processuais de que dispõe. Ou seja, aquilo que
está previsto e permitido na Lei é levado às instâncias judiciais.
Aí o
busílis: como resolver juridicamente um processo que nada tem de jurídico e sim
de político? De fazer inveja a Kafka. Ou de (re)inspirá-lo a novo clássico.
Não fora
isso nem mesmo teria sido processado e condenado (“com Supremo e tudo”).
Ainda em
relação ao quesito Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff, em Paris, levanta uma
falsa cortina de fumaça: estaria preso porque representa “a luta democrática”.
Bobagem das
maiores.
Lula está preso porque venceria as eleições e daria continuidade a um
projeto que contraria os interesses da classe dominante (interna e externa),
porque trouxe à ribalta solução para os problemas que historicamente afetam
os desassistidos e promoveu a redução das desigualdades sociais como políticas de governo.
Mais fez:
demonstrou que os investimentos do Estado são, por excelência, o vetor do
desenvolvimento. E que este mesmo Estado, chamado Brasil, poderia não ser
somente peão como peça no xadrez da geopolítica.
Concluindo
Mais uma
vez, e não nos cansaremos repetir, o inquilino do Alvorada – como peão a serviço da
classe dominante (interna e externa) vai ganhando a guerra no campo de batalha
por ele/eles escolhido.
Razão por
que da vitória obtida até agora nestes quase nove meses: a discussão de
problemas menores enquanto os mais graves vão se tornando apenas acessórios,
pontuais, diante daqueles.
Enquanto consolidam seus projetos outros bastam-se em levantar bandeiras.
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