Freio de
arrumação
O desespero
já bateu na turma do punitivismo a qualquer preço. Quando brotaram (como
cogumelo) as denúncias do Intercept – ainda que reconhecidas quanto à origem – passaram
a questioná-las quanto à forma de obtenção. E com isso (e a o valiosa ajuda e apoio
da imprensa servil, sempre presente e a favor) a coisa foi sendo lançada no
fosso como fora iniciativa de quem pretendia combater a Lava Jato como ‘único’
instrumento eficaz de combate à corrupção.
Mais uma vez – como vem ocorrendo em
julgamentos de porte (inclusive no STF – “Não tenho provas contra José Dirceu,
mas a literatura jurídica me autoriza a condená-lo”, dito por Rosa Weber) – ou
no impeachment – vide Barroso legitimando a forma em detrimento do fundo – para
alcançar a pretensão do que “eu acho”. E os fins justificarem os meios lançando
às calendas os valores, princípios jurídicos e institutos insculpidos na
Constituição para conduzir, prender, ameaçar.
E tudo
caminhava conforme o script, cena a cena elaborada para que nada prejudicasse a
Lava Jato, ainda que por terra lançados os mais comezinhos valores e princípios
norteadores do Estado Democrático de Direito (“com Supremo e tudo”). E os que
puseram em prática um direito à base da conveniência se fizeram arautos da
moralidade, eles os homens de bem e o resto a representação do Mal, a ponto de
tornarem um princípio indisponível, como o da ampla defesa, em faculdade da
defesa, legitimado na absurda ‘convicção’ (Fux) de que cabe ao réu provar a sua
inocência e não ao Estado a culpa, esquecendo – por conveniência – que em
direito penal a prova é objetiva e não subjetiva, cabendo ao acusador
demonstrar os fatos que alimentam a acusação.
Mas, a inversão de valores se impunha
para que tal prosperasse. E prosperava, no caudal alimentado por uma mídia que
fez dos tribunais palco e delegados, promotores e juízes atores e atrizes. E
punir tornou-se instrumento acima do direito no instante em que este
submetia-se àquele.
Mas –
dizíamos – o desespero bateu na turma do punitivismo a qualquer preço. Sem esquecer que tudo se consumava “com
Supremo e tudo”. Uma festa! “O Fachin é nosso”, “Nós confiamos no Fux” etc.
etc.
Mas, o
escândalo alcançou foros de intolerabilidade, de anadmissibilidade e mesmo
alguns dos envolvidos começaram a ficar incomodados com o que fizeram. O véu da
vergonha cobriu o Judiciário brasileiro e maculou gravemente a imagem da
concepção de Justiça no país.
E nesse quesito
o próprio STF começa – tímido – a restaurar a interpretação legalista.
E a turma se
arrepia. Certamente menos preocupada com a legalidade e mais com o que vai
deixar de faturar (2,5 bilhões da Petrobras para uma fundação criada por eles e
para eles, palestras para igrejas, banqueiros, empresários, futuro
político-eleitoral, vagas na PGR e no STF).
E nesse viés
estranhos mea culpas vão ocupando o
palco como canhestra ópera bufa, com palhaço sem graça daquele mambembe
medíocre de lona furada pontilhando “de estrelas nosso chão” tentam fazer-se de
legalistas para ver se convence a plateia.
Então, mais
uma vez trilhando a seara do absurdo (cesteiro que faz um cesto faz um cento –
dizia vó Tormeza) aqueles violadores contumazes da lei agora tomam a iniciativa
de eles mesmos pedirem a progressão da pena de Lula para o semi-aberto. Ou
seja, em meio a processos de dezenas, centenas de apenados a justificar a
progressão o MPF toma a iniciativa (Ó, Glória in excelsius Dei) de defender o
preso Luís Inácio Lula da Silva.
Ah! Quanta
bondade!
Fica este
escriba de província a imaginar como de esperança se enchem os milhares de
apenados Brasil afora que aguardam há dias, meses ou anos o reconhecimento de
tal direito, ainda não consumado graças à ‘rapidez’ com que Suas Excelências
(promotores e juízes) apreciam tais direitos, mesmo que já provocados pela
defesa no exercício de suas prerrogativas (Salve! Salve OAB!) sabendo (os
presos) que têm agora a ‘iniciativa’ do Ministério Público para lhes fazer
Justiça.
Caso algum
leitor, mais arguto como sói sê-lo os que acessam esta coluna, questione este
escriba dizendo que tal é impossível de acontecer porque o Ministério Público
não tem o controle de tal situação (a cargo do juízo da Execução penal)
diremos, tão somente, por que, como iniciativa de que não lhe é comum, o
pretende o MPF com Lula?
Cremos que
muito há de freio de arrumação. Quando o veículo furou o tambor de freio
transitando ladeira abaixo em estrada nos Andes peruanos.
Ah!, para
finalizar: o filho de Teori Zavaski, o ministro que morreu em decorrência de um
acidente aéreo em 2017 – por invulgar coincidência quando andou questionando
algumas posturas da Lava Jato –, diante das declarações homicidas de Rodrigo
Janot em relação a Gilmar Mendes, postou na rede: “O ex-Procurador-Geral da
República abertamente admitindo que queria matar um Ministro do STF e ainda tem
gente querendo me convencer que o avião caiu por acidente!"
Fecha o pano!
O outro lado
da bondade
A cada dia
mais escancarado fica: os pilares da civilização, construídos no curso de
milênios (aprofundado nos últimos cinco séculos) caem por terra quando
manipulados por quem deveria sustentá-los – o próprio Estado.
E na esteira uma
atuação estatal com objetivo válido e justo torna-se um ato de violação àqueles
princípios universais em matéria de persecução penal: o devido processo, o
direito à plena defesa e o princípio do contraditório.
E – nunca
esqueçamos, porque não há defesa – tudo aconteceu “com Supremo e com tudo”.
Uma operação
voltada para extirpar da sociedade (utopia?) a chaga da corrupção deixou-se
corromper para tê-la como instrumento de atuação político-partidária-eleitoral,
“com Supremo e tudo”.
De vexame em
vexame
A foto diz
muito: indiferença, cumprimento de dever funcional, ironia , espanto, angústia.
Tudo que pode ser resumido numa frase: ‘Não acredito no que estou ouvindo’.
Ele para ele
Depois de
longos 60 minutos de espera a confissão explícita em 17 segundos, trazidos por
Lauro Jardim, em O Globo:
Bolsonaro diz:
"I love you"
Ao que Trump responde:
"Que bom te ver de novo"
Afastando
tudo o que somente Freud pode explicar fica a certeza de que a viagem do
inquilino do Alvorada piorou a situação do Brasil no exterior.
Refrescando a memória
Como víamos o que ora vemos. Ou, quando antecipamos o que ora vemos, em maio de 2017, no Rastilhos da Razão Comentada.
E a pergunta que me faço é: conseguirá a justiça voltar a normalidade?
ResponderExcluirMarcelo Leal
Parabéns pelo lúcido artigo
ResponderExcluirParabéns pelo lúcido artigo
ResponderExcluir