Não morremos
de amores pelo atual inquilino do Alvorada. Tanto que dele nada cobramos porque
nunca enganou a quem quer que seja, muito menos a nós. Não há ‘choro nem vela’
de nossa parte.
Mas toca-nos
ler o que lemos dos que ora o criticam. Muitos dos que o defenderam com unhas e
dentes até há pouco.
Mas,
alerta-nos o escrito por Reinaldo Azevedo: "Sim,
estou convencido de que Bolsonaro tem um problema que é clínico. Suas
respostas, a meu juízo, o evidenciam com clareza. Ocupa, no entanto, um lugar
de quem está obrigado a responder por seus atos. O único remédio que o
institucionalidade tem de ministrar a ele é o triunfo da lei. O Brasil não pode
se transformar em seu hospício privado".
Sob o primeiro aspecto – problema clínico por falta de
controle das chamadas “faculdades mentais” – nada de novo. A maioria dos seus
críticos se recusa a lembrar daquele Bolsonaro de 1986, ameaçando explodir a
adutora do Guandu caso Sarney não concedesse aumento para os militares, fato
que o levou a 15 dias de prisão e à reserva remunerada dois anos depois (o
Tribunal Militar que o julgou evitou reconhecer o ‘terrorismo’ e conciliou a
conveniência com a ‘aposentadoria’ aos 33 anos de idade). Ora, tal fato –
explodir uma adutora que serve a uma coletividade do porte do Rio de Janeiro
não pode traduzir ‘equilíbrio mental’, tampouco estágio de mínima sanidade.
Mas ninguém lembrou disso e o processo eleitoral passou sem debates
e aplaudido por esta parcela singular de “formadores de opinião”. A
conveniência do ‘esquecimento’ os motivava à elaboração de laudas para nos
convencer a nós outros quão grandioso o que se dizia “contra tudo isso que está
aí”. Mervais, Mírians e quejandos tais – uns mais subservientes que outros – o tornaram
“mito”.
Fiquemos por aqui. Passemos ao lugar comum: por
que o inquilino ocupa o Alvorada?
Malhar em ferro frio, mas não custa repetir à
exaustão; interessava ao sistema aprisionar Lula e remeter ao impeachment uma
presidente da República por haver cometido “crimes” (os mesmos de todos os
anteriores) e hoje sabe-se que não os havia (os crimes). “Com Supremo, com
tudo”.
Politicamente utilize-se os que têm utilidade – eis o
argumento, a razão, ainda que promíscua: Eduardo Cunha, na Câmara para impulsionar
o impeachment; o judiciário (com Supremo, com tudo) para promover o lawfare; a
mídia para afirmar que tudo é verdade.
Aos risos e gargalhadas os de sempre,
desde Matusalém.
É que os objetivos remontam aos Matusalém em território
tupiniquim. A História os registra. Desde trucidarmos o povo paraguaio em
típico genocídio para corresponder aos interesses da Inglaterra que via nas
políticas de Solano López (de fortalecimento das indústrias naval e bélica) um
concorrente na América Latina.
A propósito deste genocídio, quando da batalha
de Acosta Ñu, sacrificado foi um exército de crianças entre 6 e 12 anos (a
população masculina foi reduzida em 96% nos 5 anos de tão infame guerra) acompanhadas pelas mães desesperadas
tentando salvá-las. A propósito de tamanha crueldade, escreveu Julio
Chiavenatto, em “Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai”:
"As
crianças de 6 a 8 anos, no calor da batalha, aterrorizadas, se agarravam às
pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não os matassem. E eram
degoladas no ato".
Sim, caro leitor, não custa conhecer nosso passado para nos
reconhecermos no presente. Até porque quando nos faltaram paraguaios tivemos
sertanejos, onde Canudos é singular exemplo de genocídio sem qualquer motivo
que o justificasse como luta.
Pode saltar a matança dos índios e a escravidão
(do gentio e do negro), esquecer que indenizamos Portugal em 25 mil libras
esterlinas por havermos proclamado a independência tomando empréstimo à
Inglaterra (primeira dívida externa).
O fundamental em tudo é centro do x da questão: o que queriam
(no passado e no presente) já conseguiram: mais recentemente a parcela do
pré-sal, base de Alcântara, a Embraer e a tecnologia nativa desenvolvida a
ponto de competir mundialmente com a própria Boeing que a adquiriu, arrebentar o
parque da construção civil e aprofundar desigualdades em todos os níveis
capitaneadas por uma campanha de retorno à fome.
Natal para quem? Para quê? Certamente para os que comem
lagosta em lautas mesas, tudo regado a vinho importado às nossas custas, são os
que legitimaram tudo isso.
Imaginemos a cidade do Rio de Janeiro, e sua Oitava Maravilha do Mundo, o Cristo Redentor, lembrando o maior exemplo de solidariedade, Jesus Cristo. Houvesse ele nascido
nesta Cidade Maravilhosa de hoje pobre filho de carpinteiro trabalhando na
favela ou nas periferias o que lhe aconteceria? Teria educação, comida, roupa,
dignidade ou seria presenteado com uma bala perdida?
Um ano por findar. Mais um no caminhar deste escriba de
província. Tudo o remete a desistir da vida e do viver em sociedade. Mas,
ficamos com Cícero, olhando de cima a morte e agradecendo por ter vivido tanto.
Afinal – parodiando Tolstói – algum sentido há que não será aniquilado com a morte: a esperança de
que reste um homem para reconhecer em seus atos a Humanidade. Ainda que nela o
homem desta terra brasilis não o pretenda.
Certamente por isso – nós que não morremos de amor pelo
inquilino do Alvorada – assistimos do ‘galinheiro’ – do mambembe que em
picadeiro o exaltou – os palhaços que sorriam vertendo lágrimas.
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