Petroleiros em greve há duas semanas. 20 mil paralisados. Justiça do
Trabalho determina retorno, sob pena de multa. STF confirma. Grevistas
descumprem decisão. O melindre do instante. Petroleiros rasgam comunicado de
demissão. Ameaça de suspensão no fornecimento de combustíveis ao país. Caminhoneiros
anunciam apoio aos grevistas da Petrobras visando redução nos preços dos
combustíveis.
A imprensa não informa a dimensão alcançada pelo movimento de
paralisação: 55 plataformas (38 no Rio de Janeiro, 9 no Ceará, 4 em São Paulo, 2
no Espírito Santo e 2 no Rio Grande do Norte,), 11 refinarias, 23 terminais, unidades
de transporte, termelétricas, usinas, unidade industriais e administrativas.
Parcela significativa da produção e distribuição de energia, conteúdo
altamente estratégico.
Governo militarizado tende a endurecer, porque dialogar não faz parte
da doutrina do porrete. Em especial quando o porrete apenas é testa de ferro de
interesses de além-mar que visam, entre outras premiações, a riqueza mineral sob controle da Petrobras.
O endurecimento do Governo Federal – dada a amplitude das áreas em
greve – pode estar construindo um Cavalo de Tróia e pondo-o à disposição da já
combalida economia.
Pode ser festa para mais privatizar o setor energético, mas pode tornar-se uma
espécie de canto do cisne para o sistema. A sociedade não suportará a entrega à
iniciativa privada (onde o lucro é a razão) de espaço tão melindroso.
Na esteira das especulações o endurecimento do regime, em que a
democracia de fachada (congresso e eleições) respaldará uma ditadura militar
consensuada pelo maniqueísmo de tudo e todos contra Lula e o PT.
Afinal, áreas sensíveis do governo em mãos militares das duas uma: ou a
sociedade civil é inteiramente incompetente e destituída de quadros ou o
objetivo das Forças Armadas haverem tolerado um terrorista do qual se
desfizeram – através de um processo no Tribunal Militar, quando o reformaram em
1968 – se faz materializado no alcançarem o poder sem golpes, como no passado.
O número de militares respondendo por cargos no governo dá bem a conta
de que o inquilino do Alvorada seria hoje refém do estamento militar que,
através dele, governaria de fato, cumprindo seu papel de fantoche bufão. E assim não tem nenhum interesse de que seja
afastado. Mas, caso o seja, o reserva Mourão.
Os Estados Unidos – e seu big stick – assistem com inusitada alegria e
satisfação. Leia-se o verbo ‘assistir’ em seus amplos significados e regências (com
ou sem preposição). Na falta de uma outra serve aos mesmos interesses. O
projeto de construção do Cavalo de Tróia tem seu aval.
E há quem insista na retórica de condenar o fascismo nosso de cada dia
e esquecer das razões por que se sustenta nesta terra tanta aberração. Demonstram
aqueles não perceber a lição em letras garrafais de que tudo que ocorre,
adredemente programado, exigiu um outro Cavalo de Tróia: essa discussão inócua
que legitima – pelo discurso sem alcance – o que aí está.
Nesta guerra entre gregos e troianos – em que uns dão e outros recebem – muitos se confundem com baianos e abrigam em seus territórios figuras de páginas policiais como singular presente.
Certamente os petroleiros estão enxergando mais e melhor. E combatem
com as armas de que dispõem. Menos discurso e mais ação. Sem trazer para o seu quintal qualquer "presente de grego".
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