Quando o canadense Marshall McLuhan se propôs a explicar os fenômenos dos meios de comunicação e sua relação com a sociedade dispunha dos que lhe foram contemporâneos, não os aperfeiçoados como ocorre nesta contemporaneidade (internet e cibercultura). A afirmação de McLuhan levantava um pressuposto: o de que o meio se confundia com o conteúdo no instante em que se afirmava como mensagem.
A teoria do canadense está, naturalmente, subsumida ao resultado, não ao modo de utilização como pretensão. Assim, os meios de comunicação, conforme o objetivo, podem servir ou não à construção e à qualificação do tecido social.
De fundamental para entender McLuhan é a circunstância de dimensionar o meio como conteúdo e os efeitos disto decorrentes.
Em seu tempo a televisão alimentou nele a concepção de uma “aldeia global”, ele que nem mesmo imaginou a internet e seus desdobramentos. Ou seja, a efetivação da interconecção das diferentes mídias apoiando uma cultural geral, globalizada. Por meio dela o acesso a diferentes culturas simultaneamente, sem a necessidade de conhecê-las em sua essência, o que tornou o homem em um ser superficial quando ao conteúdo que alcança. E mais, o caminho exige o contrário: de que possa influenciar, ainda que não domine o que está a informar. Assim, a superficialidade passa a ser a tônica e a referência.
Perto de nós podemos facilmente perceber: todo e qualquer detentor/proprietário de um aparelho que lhe permita acesso ao meio tornou-o um ‘expert’ naquilo a que se propõe. Por este viés proliferam-se “jornalistas”, “comentaristas”, “analistas” em tudo que seja possível meter o bedelho.
Por sua vez, a manipulação das massas para corresponder ao consumo, como o idealizou Edward Bernays, há muito avançou sobre o comportamento da sociedade em dimensão política e os meios de comunicação sustentam permanente processo de manipulação da informação. Tal informação, a manipulada, vai formando ‘consciências’.
Sob essa realidade a informação apurada em conhecimento está nivelada por baixo. “Informado” é aquele que alcança um percentual de leitores que se habituam à sua “informação”. Comumente expondo o que o outro quer ler ou ouvir – ainda que não dimensione de forma alguma os elementos que norteiam a psicologia social para controle das massas – o mercado se abre a todos, dando uma ideia de participação democrática, quando na verdade embute uma ditadura no plano da informação.
Aquelas antigas agências de notícias (France Press, UPI etc.) estão concentradas em uma dezena de fontes primárias de informação que passam a ser universalizadas sob o crivo de um pensamento único.
Hoje, com raríssimas exceções, a informação retransmitida por emissoras de rádio no Brasil, por exemplo, se faz a partir de portais: Terra, UOL, G1 etc. Aquele ‘analista’ e ‘comentarista’ que o ouvinte admira como “bem informado” nada mais faz que ler o que se encontra veiculado na telinha à sua frente. Como não informa a fonte o ouvinte imagina ser dele o que expressa.
E assim, acompanhamos o modo como uma estupidez é dita e horas de noticiário e comentários repercutem a insensatez e desconhecimento em torno de pacto federativo, república, direitos fundamentais, justiça tributária etc. etc.
Neste tenebroso mar navega muita gente. Inclusive o inquilino do Alvorada. Mas o que nos incomoda não são as diatribes do inquilino, por exemplo, mas a importância e o valor (técnico) que a elas dão os meios de comunicação de massa através de seus ‘analistas’ e ‘comentaristas’.
Último exemplo: cobrar dos Estados da Federação que eliminem o ICMS sobre combustíveis como contribuição à redução dos preços.
A proporção tributária que aí está sempre esteve, desde a Constituição de 1988. Caso críticas mereça serão justificadas por alimentar a absurda distorção na divisão das obrigações tributárias do brasileiro menos aquinhoado, submetido à tributação pelo consumo. Sim, o brasileiro menos aquinhoado. Porque o brasileiro aquinhoado não paga tributo algum por possuir, aviões, helicópteros, iates.
E nem mesmo o imposto de renda ‘de todos nós’ o alcança como aos vis mortais porque os beneficiados pelo atual sistema não o recolhem por lucros e dividendos e quando o pagam em nível de pessoa física – ainda que beneficiados por milhões de reais em termos de renda – apenas 15% o alcançarão, enquanto nós outros entramos 'no pau', sem dó nem piedade, quando alcançamos míseros R$ 4.664,48 e os 27,5% abocanham parcela de nosso suor, ainda que salário.
Para os aquinhoados lhes basta simplesmente utilizar-se de aplicações financeiras tributadas em 15% ou mesmo uma Pessoa Jurídica para abrigar os seus ganhos, onerados naquele mesmo percentual. E quejandos outros os há, mas fiquemos com os citados.
Propor – como alardeia o inquilino – que os Estados retirem os impostos fixados para eles na Constituição, nenhum nexo, nenhuma lógica tributária, nenhum sentido. Jogo de cena. Apenas transferir a terceiros a incompetência em encontrar soluções que poderiam vir com uma reforma tributária justa, onde as fortunas e os rendimentos de capital fossem alcançados pela tributação. E nem falemos na cobrança da Dívida Ativa.
Mas o dito cujo quando fala não lhe faltam “analistas” e “comentaristas” exaltando ou minimizando a bobagem expressada.
Dentro da mesma distonia com a realidade a imprensa repercute – em nível sensacionalista de pró e contra – a sapiência do ministro da fazenda (com minúscula, redator) chamando funcionários públicos de “parasitas”.
O primeiro aspecto alimentado pelo noticiário é a ideia de marajanato no serviço público, como se todo e qualquer servidor (incluindo professores) fosse assessor parlamentar e quejandos tais, o que é sempre posto como estigma em relação ao serviço público.
Na esteira do pensamento único que os alimenta (de quem diz e de quem repercute) vai para o ralo do esquecimento o que efetivamente onera o país: uma brutal e desonesta transferência de recursos do Estado para corresponder à festa imposta pelos sistemas de especulação financeira.
Que já ensaia assumir o Banco Central – sob a pieguice da autonomia e independência.
E fará a raposa assumir em plenitude (com o controle da política macroeconômica em nível de câmbio e da emissão de moeda) o galinheiro chamado Brasil.
Certamente não lhes faltará apoio do meio como mensagem.
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